quarta-feira, 21 de maio de 2008

A expansão do agronegócio, do ponto vista social e ambiental é
insustentável, constata especialista


"A questão não é ter alimento disponível, e sim acesso a ele, o que
continua sendo o grande problema do mundo", afirma Celso Marcatto,
coordenador do Programa de Segurança Alimentar da Action Aid Brasil,
engenheiro agrônomo e mestre em Agricultura Ecológica, pela
Universidade de Wageningen, na Holanda, em entrevista concedida à
revista IHU On-Line, desta semana.

"Quem passa fome no Brasil acaba passando em regiões cercadas por
alimentos, cheias de supermercados, com comida da melhor qualidade.
As políticas sociais no Brasil são importantes, precisam ser
aprimoradas, ampliadas, mas não são suficientes. Nesse contexto,
torna-se necessário repensar o acesso aos meios de produção, à
educação", constata Marcatto.

E o especialista continua:

"Do ponto de vista ambiental e do ponto de vista social, essa
expansão não é sustentável. Aonde isso nos levará, daqui a alguns
anos? O que irá acontecer com o cerrado brasileiro, com a Amazônia,
se isso continuar no rumo em que está? E é evidente que o governo não
consegue controlar a expansão. Então, a questão é: o que sobra para
as gerações futuras? Como ficam os agricultores familiares, os
trabalhadores rurais nesse momento? Estamos ampliando a produção de
commodities para manter a balança comercial, para conseguir um
equilíbrio momentâneo. Mas será que isso é uma saída sustentável?"

E ele informa que "a cada hora chega uma empresa nova, nacional ou
internacional, com interesse em investir em agrocombustíveis. O preço
das terras em São Paulo já aumentou. Além disso, a disputa por elas
está ficando acirrada, tanto entre monopólios nacionais quanto entre
estrangeiros. O resultado disso será a elevação dos conflitos no
campo, ou seja, a luta pela posse de terras. Isso irá implicar em
desmatamento, em ocupação de áreas que antes estavam sendo destinadas
para outra coisa".

Segundo ele, "chamar os biocombustíveis ou os agrocombustíveis de
limpos não é exatamente verdadeiro. Eles podem ser limpos do ponto de
vista do uso, mas ainda não o são do ponto de vista da produção. Para
você chamá-lo de limpo, toda a cadeia de produção, consumo e uso
precisa ser limpa. Assim, não podemos considerar limpo o combustível
derivado da cana-de-açúcar. Do ponto de vista social e ambiental,
essas plantações representam uma tragédia às regiões onde estão sendo
cultivadas. Por outro lado, isso não significa que devamos desprezar
essa fonte de combustível. Mas, se estamos buscando desenvolvimento
sustentável com eqüidade, com justiça social, além da soberania e da
segurança alimentar, o caminho é produzir agrocombustíveis dentro de
uma perspectiva local. Não há razões que justifiquem a exportação
desse produto. Precisamos pensar em produzi-los de modo sustentável,
inserindo-os nas cadeias produtivas já existentes, nos sistemas de
produção já instalados dentro da agricultura familiar, por exemplo".



19/5/2008

`A luta socioambiental é, hoje, o instrumento mais importante para a
superação do capitalismo'


"O mundo produz 30% mais alimentos do que necessita. Esse alimento,
porém não é acessível para os que têm fome. Não adianta, portanto,
produzir mais alimentos para suprir aos famintos, pois estes não têm
meios para adquiri-los devido a um modelo social e econômico
opressor, excludente e desigual", constata Heitor Costa, professor da
Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) em entrevista concedida à
revista IHU On-Line desta semana.

Segundo ele, "o desenvolvimento sustentável não pode ser tratado
apenas como uma questão restrita a políticas ambientais e
tecnológicas. Os problemas da desigualdade social e do modo de
produção atual são os obstáculos para se alcançar uma forma de
desenvolvimento capaz de preservar o meio ambiente". Ou seja, segundo
ele, "é necessário afirmar um novo modelo de produção para o século
XXI, um modelo agroecológico e socialmente includente. Nesse modelo
não há espaço para a monocultura, o latifúndio, o livre mercado e os
modelos insustentáveis de produção. Não haverá soberania e segurança
alimentar, se os agricultores familiares não tiverem terra para
trabalhar e produzir alimentos em qualidade e quantidade suficientes
para toda a nossa sociedade".

E sugere:

"A esquerda precisa se adequar à velocidade dos acontecimentos, pois
o caos climático e suas conseqüências se transformarão em poucos anos
num fator de contestação global do capitalismo, como jamais houve na
história. Para estar à altura dos acontecimentos, uma boa idéia é
começar a deixar de lado o conceito de crescimento econômico que nos
foi imposto pelo próprio capitalismo. O fato é que jamais haverá, sob
o signo do capitalismo, a "salvação ambiental", a distribuição
igualitária de alimentos e uma matriz energética baseada em
combustíveis renováveis e equitativamente distribuída. Por isso, a
luta socioambiental é, hoje, o instrumento mais importante para a
superação do capitalismo" .

Heitor Costa propõe que o governo brasileiro, "antes de transformar o
país num imenso canavial e sonhar com a energia atômica, deveria
priorizar fontes de energia alternativa abundantes no Brasil, como
hidráulica, solar, eólica, biomassa e PCHs. E cuidar de alimentar os
sofridos famintos, antes de enriquecer os "heróicos" usineiros. A
produção de fontes energéticas renováveis como biodiesel e etanol
devem estar subordinadas a um projeto de desenvolvimento nacional,
gerador de trabalho e renda, e ambientalmente sustentável".


19/5/2008

A biocivilização, segundo Ignacy Sachs


"Já passamos por duas grandes transições na história. A primeira
ocorreu quando a nossa espécie passou da caça para a agricultura e
pecuária. Depois, aconteceu a segunda grande mudança, no fim do
século XVII: a transição para as energias fósseis, abundantes e
baratas. Essa transição está na base das revoluções industriais que
aumentaram de uma maneira extraordinária" . A constatação é de Ignacy
Sachs, economista e professor emérito da École des Hautes Études en
Sciences Sociales, Paris, em entrevista concedida à revista IHU On-
Line desta semana.

Segundo ele, "se, por um lado, a variedade de coisas que estamos
produzindo deu lugar a um progresso técnico enorme, por outro, ela
vem causando uma emissão cada vez maior de gases de efeito estufa,
colocando na agenda o problema da mudança climática. É verdade que
estamos no começo de uma saída que levará décadas para acontecer.
Nesse novo cenário, vamos outra vez depender, e cada vez mais, da
energia solar captada pelo processo de fotossíntese, que era a
principal energia da humanidade, antes da revolução da energia
fóssil. Contudo, não estou dizendo que iremos regredir. Ao contrário,
hoje já sabemos usar melhor a biomassa. Ela é utilizada como ração
animal, adubo verde, material de construção, bioenergia, ou seja, é
matéria-prima de toda uma química verde. Por isso, devemos falar em
biorefinria como uma analogia à refinaria do petróleo. E é isso que
chamo de biocivilização moderna".
Para Ignacy Sachs, "a biocivilização é muito mais benigna do que a
utilização das energias fósseis. Portanto, não há dúvida de que ela
permite afastar a ameaça de mudanças climáticas irreversíveis" .


20/5/2008

Produção de alimentos x produção de energia: o desafio do século
XXI. Entrevista especial com Patrick Criqui e Martin Penner


A crise alimentícia pode ser explicada pelo aumento da população
mundial, pela concorrência dos solos e também pelo crescimento da
produção de biocombustíveis. No entanto, o modelo energético mundial
contribui para a crise e precisa ser revisto, alerta o economista
Patrick Criqui, professor na Univesidade Pierre Mendès-France, na
Universidade Paris-Dauphine e na Escola Politécnica Federal de
Lausanne. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele
afirma que atualmente a humanidade deve considerar duas prioridades
para resolver os problemas ambientais, sociais e econômicos: mudar
os "modelos e comportamentos de transporte" e implantar "uma nova
gestão da energia nos prédios para a calefação e refrescamento ou
refrigeração".

Já Martin Penner, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos das
Nações Unidas, na Itália , afirma que "Um mundo que tem fome é um
mundo mais inseguro e com menos perspectivas de futuro". Segundo ele,
os estoques mundiais de cereais apresentam o nível mais baixo nos
últimos trinta anos. "Muitíssimos começaram a comer comida
mais `pobre', com menores propriedades nutritivas, com os riscos
relativos de desnutrição." Além disso, reitera, essa crise trará
impacto negativo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
propostos pela ONU. A entrevista foi concedida por e-mail.

Confira as entrevistas.

Entrevista com Patrick Criqui

IHU On-Line – Como o senhor percebe a crise de alimentos no mundo?
Povos de todo o Planeta conquistaram inúmeros bens materiais, mas
ainda enfrentam o problema da fome. Vivemos uma ambigüidade?

Patrick Criqui – Diversos fatores podem explicar a crise atual: em
primeiro lugar, a população mundial continua a aumentar, embora o
ritmo se reduza. Em face disso, as superfícies cultiváveis aumentam
menos rapidamente, pois há uma forte concorrência pelos solos e, em
certas regiões, pela produção de agrocombustíveis. Em certas regiões,
igualmente se reduzem os progressos nos rendimentos, como se se
atingissem os limites das técnicas agrícolas modernas, com fortes
recuos. Enfim, o aumento do poder de compra nos países emergentes
envolve igualmente maior demanda para os produtos de origem animal,
os quais requerem de sete a dez vezes mais calorias do que os
produtos de origem vegetal.

IHU On-Line – Como o senhor vê o atual modelo mundial de produção e
abastecimento de alimentos? Ele favoreceu algumas regiões?

Patrick Criqui – O atual modelo mundial encorajou bastante as
culturas de exportação em relação às culturas alimentícias,
fragilizando a agricultura nos países mais pobres, embora mantendo
uma proteção mínima da agricultura nos países do Norte. Os
beneficiados são, por isso, os grandes exportadores e os países do
Norte e, os perdedores são os países mais pobres.

IHU On-Line – Ambientalistas e pesquisadores da ONU reforçaram a
teoria de que uso de alimentos para a produção de biocombustíveis
contribuiu para aumentar a crise alimentar no mundo. É possível
responsabilizar os biocombustíveis pela crise?

Patrick Criqui – As culturas de agrocarburantes ampliaram a crise,
sem serem a causa primeira. Mas um desenvolvimento maciço dos
agrocombustíveis poderá, a longo prazo, reforçar o desequilíbrio
oferta-demanda.

IHU On-Line – Que relação o senhor destaca entre as produções de
energia renovável e de alimentos no mundo?

Patrick Criqui – Um cacife maior é o de se chegar a conciliar, no
futuro, a produção de energias renováveis (solar-vento- biomassa) e a
produção de alimentos, como propõe Ignacy Sachs no modelo de
biocivilização. No entanto, isto requer muita inteligência na
concepção e otimização dos sistemas de produção e de utilização dos
solos.

IHU On-Line – O senhor diz que é necessário reduzir o consumo de
energia. Como fazer isso num contexto no qual o consumo mundial
aumenta exponencialmente e a compra de automóveis, por exemplo, se
tornou cada vez mais comum, sendo estimulada até mesmo pelos
governos?

Patrick Criqui – Caso se queira limitar as emissões de gases com
efeito estufa, será preciso desenvolver um novo paradigma energético
com muita eficácia energética, através de energias renováveis e
talvez de energia nuclear. Para controlar os consumos, se pode contar
com as normas de eficácia, mas provavelmente também será preciso
aceitar um forte encarecimento dos preços da energia pela introdução
de taxas carbono.

IHU On-Line – O senhor fala da criação de um novo paradigma
energético, através de energias renováveis e energia nuclear. Qual é
a sua proposta? Como controlar gases com efeito estufa através de
políticas e tecnologias?

Patrick Criqui – A redução maciça dos gases de efeito estufa, por
exemplo, a redução de 60 a 80% das emissões em 2050 nos países
industrializados (que é o objetivo da União Européia), só poderá se
apoiar sobre um número limitado de soluções:
- Em primeiro lugar, a eficácia energética e o desenvolvimento de
tecnologias de "baixa energia" em todos os domínios (transporte,
construção, indústria);
- Em seguida, as energias renováveis, energias fluxo e biomassa;
- A energia nuclear, que continuará necessária, sendo até muito
importante, na medida que as condições técnicas e sociais de sua
instalação sejam bem controladas;
- A captura e estocagem do CO2, se a factibilidade técnica for
demonstrada;
- A gestão do Carbono nos ciclos vegetais Land Use, Land Use Change
and Forestation (LULUCF) (Uso do solo, mudança deste uso e
reflorestamento) .
Nenhuma destas cinco soluções poderá ser abandonada. As políticas
nacionais deverão simplesmente gerir a boa dosagem de cada uma
segundo o contexto local.

IHU On-Line – Que mudanças no modelo de consumo da população são
urgentes no atual contexto?

Patrick Criqui – Há, atualmente, duas prioridades: a mudança nos
modelos e comportamentos de transporte, a implantação de uma nova
gestão da energia nos prédios para a calefação e refrescamento ou
refrigeração.

IHU On-Line – De que modo você percebe a crise alimentar na França e
na Europa: qual deveria ser a contribuição da União Européia para
ajudar no combate à fome?

Patrick Criqui – A contribuição da Europa deveria ser, em primeiro
lugar, a de identificar as bases de um sistema agrícola mundial
simultaneamente aberto, mas assegurando a manutenção de agriculturas
locais eficazes, tanto na Europa como no resto do mundo. Isto é um
verdadeiro desafio intelectual, pois não creio que tenhamos, hoje, a
capacidade de articular as diferentes dimensões deste complexo
problema.

IHU On-Line – Jean Ziegler disse que a produção em massa de
biocombustíveis, incentivada pelos EUA e pela UE como alternativa aos
hidrocarbonetos, constitui um crime contra a humanidade, já que tende
a substituir os cultivos de alimentos e colabora para o aumento dos
preços. Como o senhor percebe essa crítica?

Patrick Criqui – A meu ver, esta crítica é muito exagerada,
primeiramente porque há na Europa uma tomada de consciência, mesmo ao
nível da Comissão Européia dos danos dos agrocombustíveis, e, em
segundo lugar, porque – como o diz o professor Ignacy Sachs, bem
conhecido no Brasil – o desenvolvimento dos biocombustíveis deve
integrar-se na construção de uma biocivilização que deveria se
esforçar para valorizar com inteligência os recursos vegetais,
combinando os usos alimentação-energia- materiais.

Entrevista com Martin Penner

IHU On-Line – Qual é a sua explicação para a atual crise alimentar
mundial? Embora o mundo cresça no que se refere a tecnologias,
podemos dizer que a humanidade esteja retrocedendo?

Martin Penner – Não vivemos mais numa época de excedente alimentar.
Os estoques mundiais de cereais estão no nível mais baixo dos últimos
trinta anos. Somente no último ano desceram do nível cinco. São
muitas as causas que contribuíram para a atual alta dos preços
alimentares. Entre estas, o maior custo da tarifa energética, a
competição entre hidrocarburantes e alimentos, os crescentes e
diversos consumos alimentares de economias emergentes como a China, e
o aumento de fenômenos climáticos adversos, como secas e inundações.
A tudo isto se acrescentam os atuais ímpetos especulativos que criam
um mercado internacional tanto mais volátil.

IHU On-Line – Josette Sheeran disse que hoje a capacidade de adquirir
alimentos é 40% inferior ao mesmo período do ano passado. A que o
senhor atribui esta diferença?

Martin Penner – Calculamos que o custo das nossas operações aumentou
em 55%, e isso está relacionado aos custos maiores dos transportes
que, para nós, são uma voz importante de despesa. Isso levou a rever
as estimativas de balanço feitas para 2008, a fim de assistir 73
milhões de pessoas em 78 países. O aumento dos preços faz, sim, que
hoje necessitemos de recursos adicionais correspondentes a US$ 755
milhões, o que leva nosso balanço complexivo a US$ 4,3 bilhões. Sem
contar crises e necessidades hoje não previstas e que poderiam fazer
fervilhar ulteriormente as despesas em balanço.

IHU On-Line – Na semana passada, a ONU anunciou a criação de uma
força-tarefa para fazer frente à crise alimentar mundial. A doação de
US$ 2,5 bilhões da comunidade internacional poderá ajuda a controlar
a crise? Quais seriam as medidas imprescindíveis para resolver este
problema?

Martin Penner – A Força Tarefa sobre a Crise global de Segurança
Alimentar – presidida pelo Secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-
moon, e da qual participam os chefes diversas agências da ONU,
inclusive o PAM, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e
outros especialistas internacionais – apresentará um plano de ação já
na cúpula da FAO a partir de início de junho. No momento da
constituição da Força Tarefa (Task Force), o secretário geral já
identificara algumas linhas diretrizes através das quais intervir de
imediato e em médio prazo. A curto prazo, acredito que serve à ajuda
alimentar.

O Banco Mundial estima que a atual crise dos preços possa criar 100
novos milhões de pobres, muitos dos quais necessitados de assistência
alimentar. A médio e longo prazo, será decisivo aumentar a
produtividade e os investimentos em agricultura, em particular na
África sub-saariana. O PAM está pronto para fornecer assistência
alimentar, a sustentar, também através da própria logística, a
ativação de redes vitais de distribuição, fornecendo entrementes
ajuda e apoio de peritos aos governos empenhados no desenvolvimento
agrícola.

IHU On-Line – Além de aumentar a pobreza no mundo, que outras
agravantes a crise de alimentos pode gerar no planeta?

Martin Penner – O aumento dos preços já causou numerosos protestos em
dezenas de países. Um mundo que tem fome é mais inseguro e tem menos
perspectivas de futuro. Muitas famílias, nos países em vias de
desenvolvimento, precisaram fazer escolhas drásticas: decidir, por
exemplo, se comer ou mandar os filhos à escola. Em muitos casos,
foram cortadas as despesas médicas. Muitíssimos começaram a comer
comida mais "pobre", com menores propriedades nutritivas, com os
riscos relativos de desnutrição. Sem contar os efeitos negativos que
o atual aumento dos preços pode ter sobre a obtenção dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, e, como primeiro entre todos, aquele de
reduzir à metade a proporção no numero dos famintos até 2015.

IHU On-Line – Segundo a ONU e o FMI, a elevação dos preços dos
alimentos é devida em parte à euforia da produção de biocombustíveis.
Como o senhor avalia esse cenário?

Martin Penner – Nós não estamos pró ou contra os biocombustíveis.
Seguramente, eles são um dos vetores do atual aumento dos preços.
Sobre este ponto, os chefes das 27 agências que se encontraram em
Berna, na Suíça, no dia 29 de abril passado, solicitaram ulteriores
pesquisas sobre o uso de produtos agrícolas para os biocombustíveis,
pedindo, ao mesmo tempo, uma revisão das subvenções aos produtos da
agricultura destinados a este uso.

20/5/2008

Preço de alimento e etanol levam terras agrícolas no Brasil a
recorde


O preço das terras destinadas à agropecuária no Brasil alcançou novo
recorde histórico no bimestre março-abril, com a média de R$ 4.135
por hectare. A reportagem é de Aguinaldo Novo e Janaína Figueiredo e
publicada pelo jornal O Globo, 20-05-2008.

Em algumas localidades do Paraná, maior produtor de grãos do país,
houve negócios por valores superiores a R$ 30 mil o hectare. A
procura por terra é liderada por grandes grupos empresariais e também
por estrangeiros, que já são donos no Brasil de cerca de 5,5 milhões
de hectares — equivalente à área plantada de cana-de-açúcar.

Segundo a AgraFNP, divisão no Brasil da consultoria multinacional
Agra Informa, o preço do hectare acumulou aumento nominal médio de
16,3% em relação ao primeiro bimestre do ano passado e de 35,2% em
comparação às cifras de 2005.

Até então, o recorde era de R$ 3.364, registrado no fim do primeiro
semestre de 2004, quando os produtores disputavam áreas para
aproveitar a explosão de preços internacionais da soja.

Por trás do novo recorde, está outra vez a valorização dos grãos nos
mercados externos e interno, diante da baixa de estoques mundiais de
alimentos.

Áreas para o plantio de cana e produção de biocombustíveis também são
disputadas, segundo a AgraFNP. Pela primeira vez desde o início de
2007, o preço médio no Sul do Brasil superou o custo das propriedades
no Sudeste.

O preço médio do hectare no Sul subiu para R$ 7.737, enquanto o valor
da terra no Sudeste foi estimado pela consultoria em R$ 7.450, em
média.

Segundo a analista Jacqueline Bierhals, o Brasil é um mercado em
destaque já que ainda dispõe de vastas áreas livres para plantio. Sem
considerar a Região Amazônica e reservas indígenas, o país tem cerca
de 100 milhões de hectares disponíveis para a agropecuária.

Setor agropecuário argentino suspende greve Já o governo argentino
liberou ontem o envio de 100 mil toneladas de trigo para o mercado
brasileiro. Segundo o Departamento Nacional de Controle Agropecuário
(ONCCA), encarregado de autorizar as vendas do produto ao exterior, a
resolução 94 beneficia exclusivamente o Brasil.

— A medida foi adotada somente para o mercado brasileiro, em função
de contratos que já estavam assinados — disseram fontes da ONCCA,
acrescentando que os exportadores argentinos deverão respeitar um
teto de duas mil toneladas diárias por produtor.

O Brasil foi um dos países mais prejudicados pela decisão do governo
argentino de restringir, desde o fim do ano passado, as vendas de
trigo ao exterior, para conter a inflação.

Depois de duas semanas, o setor agropecuário argentino decidiu
suspender amanhã sua paralisação, motivada pela alta do imposto sobre
exportação, para negociar com o governo.

Nenhum comentário: