quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Novo vídeo do resgate de reféns desmente Uribe

Novo vídeo do resgate de reféns desmente Uribe

Imagens mostram uso planejado de insígnia da Cruz Vermelha na Operação Xeque

A versão do governo era a de que uso do símbolo durante ação contra as Farc foi por nervosismo; para Bogotá, vazamento foi "traição"

Maurício Duenas/RCN/France Presse

Vídeo mostra Exército capturando guerrilheiros das Farc

DA REDAÇÃO

Um vídeo divulgado anteontem comprovou que o Exército colombiano usou indevidamente e desde o início o símbolo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no resgate de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2 de julho, desmentindo a versão do governo de Álvaro Uribe.

O vídeo também exibe logotipos de duas TVs -a venezuelana Telesur e a equatoriana Ecuavisa- usados por soldados que fingiram ser jornalistas.

Após a Operação Xeque, que libertou Ingrid Betancourt, três americanos e outros 11 reféns, o presidente Álvaro Uribe negou o uso de símbolos. Essa versão foi confrontada pela rede americana CNN, que afirmou em meados de julho, sem mostrar imagens, que o Exército fez uso da insígnia do CICV.

O governo na época mudou o relato e afirmou que um militar, "por nervosismo", colocou um jaleco com o símbolo do CICV pouco antes de se encontrar com os guerrilheiros.

Contudo, no vídeo divulgado pela TV privada RCN, anteontem, é possível ver mais de um soldado com a insígnia da organização internacional neutra, inclusive durante treinamento em um hangar militar.

As imagens causaram alvoroço no governo colombiano. O presidente, em nota, negou conhecimento: "É grave que nas primeiras investigações (...) não tenha sido revelada toda a verdade". Ele também disse ser grave que "integrantes das Forças Armadas divulguem informações confidenciais de maneira clandestina e sem coordenação com seus superiores".

O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, se disse indignado com os responsáveis pela entrega do material à RCN, que teriam "colocado em perigo seus companheiros" . Santos qualificou o vazamento de "traição à pátria" e disse que punirá os responsáveis. O general Fredy Padilla, chefe das Forças Armadas do país, afirmou que o governo acreditou no soldado que alegou nervosismo porque "na vida militar a palavra é muito importante".

Indagada, a RCN não respondeu se pagou pelas imagens -a CNN disse que não obteve o vídeo porque se recusou a pagar.

Ajustes

Por violar convenções internacionais, o uso intencional e planejado do símbolo do CICV é potencialmente o mais grave da série de ajustes e revelações que a Colômbia teve de fazer sobre Operação Xeque.

O governo também admitiu nas semanas posteriores à ação que: 1) usou símbolo de ONG fictícia no helicóptero de resgate; 2) mimetizou ações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para receber reféns libertados pelas Farc; 3) anunciou à imprensa local ter autorizado o contato de mediadores europeus com o secretariado das Farc como parte do plano para enganar a guerrilha.

O uso dos logos das duas TVs provocou fortes críticas. A organização internacional Comitê para Proteção de Jornalistas enviou uma carta aberta ao governo Uribe na qual afirma que o ato põe em risco todos os profissionais da imprensa. A RCN afirmou ainda que um avião-radar dos EUA ajudou a operação.

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