quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Manifesto da Corrente Marxista Internacional

Crise: Que os patrões paguem a conta!

Corrente Marxista Internacional

Manifesto da Corrente Marxista Internacional

1. Crise global do capitalismo

A crise mundial do capitalismo é um fato que ninguém pode ignorar. Ainda ontem os economistas nos asseguravam que a eclosão de outra crise semelhante à de 1929 era impossível. Hoje, falam sobre a ameaça de outra Grande Depressão. O FMI alerta sobre o aumento do risco de uma severa retração econômica em escala mundial. O que começou como um colapso financeiro nos EUA está atingindo a economia real, ameaçando empregos, lares e as vidas de milhões de pessoas.

O pânico tomou conta dos mercados. Richard Fuld, o ex-presidente executivo do Lehman Brothers, disse no congresso americano que o seu banco fora atingido por uma "tempestade de medo". Esta tempestade não deu o menor sinal de trégua. Não apenas bancos, mas países inteiros estão ameaçados de entrar em bancarrota, como ficou claro no caso da Islândia. Presumia-se que a Ásia salvaria o mundo da recessão, mas os mercados asiáticos foram arrastados pelo rodamoinho. Quedas acentuadas foram registradas diariamente, de Tóquio a Xangai, de Moscou a Hong Kong.

Este é o maior colapso financeiro desde 1929. E, assim como o grande "Crash", foi antecedido por uma especulação generalizada no período anterior. A magnitude da especulação das duas últimas décadas não tem precedente na história. A capitalização da bolsa de valores americana passou de 5,4 trilhões de dólares em 1994, a 17,7 trilhões em 1999 e a 35 trilhões em 2007. Isto é muitíssimo mais do que o montante de capital especulativo envolvido antes de 1929. O mercado de derivativos mundial gira em torno de 500 trilhões de dólares, ou dez vezes mais que toda a produção mundial de bens e serviços.

Nos anos de boom [crescimento econômico], quando os banqueiros sucessivamente acumulavam quantidades incalculáveis de riqueza, ninguém pensava em dividir os lucros com o resto da sociedade. Mas agora que estão em dificuldades, correm para o governo pedindo dinheiro. Se você for um jogador compulsivo e perder milhares de dólares que havia pedido emprestado, e não puder pagá-los, você será preso. Mas se você for um rico banqueiro que apostou e perdeu o dinheiro de outras pessoas, você não será preso, será recompensado com outros bilhões de dólares de outras pessoas através do Estado.

Deparando-se com o risco de um completo colapso do sistema bancário, os governos estão tomando medidas desesperadas. A administração Bush injetou US$ 700 bilhões nos cofres dos banqueiros numa tentativa alucinada de reanimar o moribundo sistema financeiro. Isso equivale a US$ 2.400 de cada homem, mulher e criança dos EUA. O governo britânico anunciou um pacote de resgate de mais de £ 400 bilhões (proporcionalmente é maior que o americano), e a União Européia adicionou outros bilhões de euros a mais. O plano de resgate alemão equivale a 20% do PIB da maior economia da Europa. A administração Angela Merkel garantiu € 80 bilhões para recapitalizar bancos em dificuldades, o restante foi destinado para cobrir as garantias dos empréstimos e as perdas. No total cerca de US$ 2,5 trilhões já foram despendidos em todo o mundo e isso não deteve a espiral descendente.

1.1. Medidas desesperadas

Esta crise está longe de ter sido interrompida. Ela não será detida com as medidas tomadas pelos governos e bancos centrais. Ao lançar enormes quantidades de dinheiro aos bancos, eles apenas conseguirão um respiro ou alívio temporário para a crise ao custo de gerar um enorme ônus para as futuras gerações. Mas todo economista sério sabe que os mercados desabarão novamente no futuro.

Em alguns aspectos a situação presente é ainda pior que a dos anos 30. A grande febre especulativa que antecedeu e preparou a atual crise financeira foi muitíssimo maior que aquela que deflagrou o "crash" de 1929. A quantidade de capital fictício que tem sido injetada no sistema financeiro mundial, e que age como um veneno que ameaça destruir o sistema e tudo mais, é tão vasta que ninguém é capaz de quantificá-la. Por tudo isso, a "correção" (o mais novo eufemismo dos economistas) correspondente será ainda mais dolorosa e duradoura.

Nos anos 30 os EUA eram o maior credor do mundo. Agora eles são o maior devedor do mundo. Na época do New Deal, quando tentavam re-impulsionar a economia americana depois da Grande Depressão, Roosevelt tinha enormes somas de dinheiro a sua disposição. Hoje, Bush depara-se com um Congresso reticente em entregar um dinheiro que não possui. A aprovação do presente de US$ 700 bilhões aos Grandes Negócios significa um ainda maior aumento da dívida pública. Isto, por sua vez, significa todo um período de austeridade e cortes nos padrões de vida de milhões de cidadãos norte-americanos.

Essas medidas desesperadas não evitarão a crise que está apenas começando. Da mesma forma, o New Deal de Roosevelt, ao contrário do senso comum, não evitou a Grande Depressão. A economia EUA permaneceu em estado de depressão até 1941, quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial e o assombroso gasto militar finalmente reduziu drasticamente o desemprego. Estamos mais uma vez frente a um prolongado período de declínio dos padrões de vida, fechamento de fábricas, queda de salários, cortes dos gastos sociais e austeridade generalizada.

Os capitalistas estão num beco sem saída e não vêem alternativa. Todos os partidos tradicionais estão perplexos a beira da paralisia completa. O Presidente Bush disse ao mundo que "vai levar algum tempo" até que o plano de resgate financeiro comece a funcionar. Neste ínterim, muitas empresas quebrarão, muitas pessoas perderão seus empregos, e muitos países serão arruinados. A crise de crédito está começando a sufocar de maneira particular as empresas sadias. Incapazes de aumentar seu capital, as empresas serão forçadas, num primeiro momento, a reduzir o investimento em capital fixo, posteriormente, o capital circulante e, por fim, demitirão.

Os empresários estão suplicando aos governos e aos bancos centrais que cortem as taxas de juros. Mas sob tais circunstâncias isto não resolverá. O corte coordenado de 0,5% foi seguido de outras agudas quedas nas bolsas mundiais. A turbulência nos mercados não será resolvida pelo corte das taxas de juros. Frente a uma recessão global, ninguém quer comprar ações e ninguém quer emprestar dinheiro. Os bancos param de emprestar porque não confiam em que seu dinheiro voltará. Todo o sistema está sob a ameaça do estancamento.

Apesar dos esforços coordenados dos bancos centrais para injetar dinheiro no sistema, o mercado de crédito permanece teimosamente congelado. O governo britânico deu aos banqueiros um presente de mais de £ 400 bilhões. A reação foi a queda da bolsa. A taxa de empréstimos interbancários de fato aumentou depois do anúncio da doação e do anúncio do Banco da Inglaterra do corte de 0,5% da taxa de juros. O grosso dos benefícios gerados pelo corte não foi repassado aos tomadores de empréstimos e aos mutuários. Essas medidas não resolveram a crise, apenas levaram mais dinheiro aos bolsos das mesmas pessoas que atuam na especulação. Se isso não foi a causa da crise, exacerbou-a demasiadamente e lhe deu um caráter convulsivo e incontrolável.

1.2. Banqueiros nunca perdem

No passado o banqueiro era um homem respeitável vestido num terno cinza; supunha-se um modelo de responsabilidade que submetia as pessoas a um severo interrogatório antes de lhe emprestar dinheiro. Mas, no último período tudo isso mudou. Com baixas taxas de juros e a liquidez em seu mais alto nível, os banqueiros mandaram a precaução às favas, emprestando bilhões para pessoas sem os devidos recursos e sem garantias em troca de altas margens. Resultou na crise hipotecária das sub-prime [crédito para pessoas baixa renda] de que ajudou a desestabilizar todo o sistema financeiro.

Os governos e os bancos centrais atuam lançando gasolina na fogueira da especulação com o intuito de evitar a recessão. Sob Alan Greenspan, o Banco Central americano (FED) manteve a taxa de juros extremamente baixa. Esta medida recebia diversos elogios como uma política astuta. Com essas medidas eles adiaram o apocalipse, apenas para torná-lo mil vezes pior quando finalmente chegasse. O dinheiro barato permitiu que os banqueiros se entregassem a uma orgia de especulação. As pessoas comuns pegaram dinheiro emprestado para investir em imóveis ou comprar bens duráveis; investidores usaram a dívida barata para investir em operações de alto rendimento, viviam da especulação em detrimento de investimentos já existentes; os empréstimos superaram em muito os depósitos dos clientes a um grau sem precedentes e as operações duvidosas não foram anotadas nos balanços.

Agora tudo isso se transformou em seu contrário. Todos os fatores que empurraram a economia para cima agora se combinaram para criar um círculo vicioso para baixo. Como a dívida já está dada, a escassez de crédito ameaça levar a economia ao estancamento. Se um trabalhador comete algum erro em seu trabalho será mandado para o olho da rua. Mas quando os banqueiros arruínam todo o sistema financeiro eles esperam ser recompensados. Homens em belos ternos têm feito fortunas por aí a fora especulando com o dinheiro de outras pessoas e agora querem que os contribuintes os salvem. Esta é uma lógica muito peculiar, que muitas pessoas terão muita dificuldade de entender.

Nos anos de boom, lucros excepcionais foram gerados pelo setor financeiro e bancário. Em 2006 apenas os grandes bancos foram responsáveis por aproximadamente 40% da totalidade dos lucros nos EUA. Esta é uma indústria onde os grandes executivos são remunerados 344 vezes mais que a média dos trabalhadores nos EUA. Há 30 anos a média salarial dos diretores executivos (CEO) girava em torno de 35 vezes o pagamento de um trabalhador comum. Ano passado, um CEO médio das 500 maiores companhias recebeu cerca de US$10,5 milhões em "compensações".

Os banqueiros querem que esqueçamos tudo isso e que nos concentremos na urgência de salvar os bancos. Todas as necessidades imediatas da sociedade devem ser colocadas de lado e toda a riqueza da sociedade deve ser posta à disposição dos banqueiros, cujos serviços à sociedade presumem ser mais importantes que o trabalho das enfermeiras, médicos, professores e trabalhadores da construção civil. Os governos da União Européia e dos EUA gastaram em uma semana o equivalente ao que seria necessário para acabar com a fome pelos próximos 50 anos. Enquanto milhões de pessoas passam fome, os banqueiros continuam recebendo escandalosos salários e gratificações; mantêm um extravagante estilo de vida em detrimento da população. O fato de existir uma crise não faz a menor diferença.

1.3. "Em nome do interesse de todos"?

A maioria não foi convencida pelos argumentos dos banqueiros e políticos. Estão amargamente ressentidos com o fato de que seu suado dinheiro foi entregue aos banqueiros e ao tesouro. Mas quando estes levantam objeções se deparam com o coro ensurdecedor dos políticos, que lhes dizem: "Não existe outra saída". Esse argumento é repetido tantas vezes e com tanta insistência que silencia o mais crítico, até mesmo porque todos os partidos concordam com isso.

Democratas e Republicanos, Socialdemocratas e Democratas Cristãos, Conservadores e Trabalhistas, todos juntaram forças numa verdadeira conspiração para persuadir a população a crer que isto foi feito "em nome do interesse de todos"; que o trabalhador comum deve ser roubado para colocar mais dinheiro nas mãos dos gangsteres corporativos. "Precisamos de um sistema bancário sadio (leia-se, lucrativo)", gritam eles. "Precisamos restabelecer a confiança, ou então o Apocalipse virá pela manhã".

Este tipo de argumento pretende criar uma atmosfera de medo e pânico para tornar qualquer discussão racional impossível. Mas em quê de fato consiste este argumento? Deixando a sutileza de lado, isto significa simplesmente que: enquanto os bancos estiverem nas mãos dos ricos, e enquanto os ricos "arriscarem" seu dinheiro somente quando tiverem altas margens de lucro, tudo vai bem. Mas, quando não estiverem realizando lucros, e sim perdas, então o governo deve intervir e dar a eles grandes somas de dinheiro para restabelecer seus lucros e assim restabelecer sua confiança. E só assim tudo voltará ao normal.

O famoso economista americano John Kenneth Gallbraith resumiu esse argumento da seguinte maneira: "O pobre tem dinheiro demais, e o rico não tem dinheiro suficiente." A idéia é: se os ricos estão se dando bem, então no longo prazo as migalhas da riqueza geral chegarão a todos os demais e todos se beneficiarão. Mas como Keynes assinalou: no longo prazo todos estaremos mortos. E como se não bastasse, essa teoria mostrou ser falsa na prática.

O argumento de que é absolutamente necessário injetar enormes quantidades de dinheiro público nos bancos caso contrário acontecerá uma catástrofe, não convence os homens e mulheres que trabalham duro. Eles fazem uma simples pergunta: por que temos que pagar pelos erros dos banqueiros? Se foram eles que fizeram toda essa lambança, que sejam eles que a limpem. Deixando de lado as consideráveis perdas de empregos no setor financeiro e de serviços, a crise bancária afeta os padrões de vida de diversas formas. A convulsão do mercado derrubou violentamente as bolsas e devastou a poupança dos trabalhadores e da classe média.

Para ilustrar, os planos de previdência privada americanos perderam mais de US$ 2 trilhões. Isso significa que aquelas pessoas que trabalharam duro toda a sua vida e pouparam dinheiro com o objetivo de ter uma aposentadoria confortável são agora forçados a cancelar seus planos e adiar sua aposentadoria. Mais de 50% das pessoas entrevistadas em uma recente pesquisa de opinião disseram que estão preocupadas em ter de trabalhar ainda mais porque o valor de seus planos privados de aposentadoria declinou, e aproximadamente um de cada quatro disse ter aumentado o número de horas trabalhadas.

Muitas pessoas perderam suas casas depois de passar por processos de reintegração de posse e despejo. Se uma família perde sua casa, logo se diz que foi o resultado de sua própria ganância e falta de previsão. A lei de ferro do mercado e a "lei do mais forte" os condenam à rua da amargura. Este é um problema privado e não diz respeito ao governo. Mas se um banco entra em bancarrota por causa da voraz especulação dos banqueiros, este é um terrível infortúnio para toda a sociedade, e mais, toda a sociedade precisa se unir para salvá-lo. Esta é a lógica perversa do capitalismo!

Esta vergonhosa tentativa de jogar o peso da crise nas costas de quem menos tem, deve ser combatida. Para resolver a crise é necessário tirar das mãos dos especuladores todo o sistema financeiro e bancário e colocá-lo sob o controle democrático da sociedade, só assim podem servir ao interesse da maioria, e não apenas dos ricos.

Exigimos:

• Nenhuma ajuda para os ricos. Nenhuma recompensa para os peixes gordos! Nacionalizar os bancos e as companhias de seguro sob o controle e administração democráticos dos trabalhadores. As decisões bancárias devem ser tomadas no interesse da maioria da sociedade, não em nome de uma minoria de malandros. Compensações pela nacionalização dos bancos e outras companhias somente serão pagas em caso de comprovada necessidade a pequenos investidores. A nacionalização dos bancos é a única maneira de garantir os depósitos e as poupanças da população.

• Controle democrático dos bancos. O conselho diretor deve ser composto da seguinte forma: um terço eleito pelos trabalhadores do banco, um terço eleito pelos sindicatos para representar os interesses da classe trabalhadora como um todo, e um terço pelo governo.

• Fim imediato das exorbitantes gratificações, o salário dos executivos não deve ultrapassar o salário de um trabalhador qualificado. Por que um banqueiro seria melhor que um médico ou um dentista? Se os banqueiros não estão preparados para trabalhar sob estas razoáveis condições, não precisam ficar, serão substituídos por outros tão qualificados quanto e que estão procurando trabalho e desejam servir à sociedade.

• Imediata redução das taxas de juros, que devem ser limitadas pelos custos necessários das operações bancárias. Crédito barato deve ser disponibilizado para aqueles que precisam: pequenos comerciantes e trabalhadores que precisem comprar suas casas e não para os banqueiros e capitalistas.

• Direito à moradia; fim imediato dos despejos, redução geral dos aluguéis e um programa massivo e acessível de construção de casas populares.

1.4. A causa da crise

A causa fundamental da crise não é o mau comportamento de alguns indivíduos. Se isso fosse verdade a solução seria simples: convencê-los a se comportar melhor no futuro. Isso é o que Gordon Brown quer dizer quando pede "transparência, honestidade e responsabilidade." Mas todo mundo sabe que o sistema financeiro internacional é tão transparente quanto uma fossa, a fraternidade bancária é tão honesta quanto às convenções das Máfias e tão responsável quanto um jogador compulsivo. Porém, mesmo que todos os banqueiros fossem santos, isso não faria uma diferença fundamental.

Não é correto atribuir a causa da crise à ganância e à corrupção dos banqueiros (embora, de fato, sejam extremamente gananciosos e corruptos). É expressão da doença de todo um sistema – a expressão de uma crise orgânica do capitalismo. O problema não está na ganância de alguns indivíduos, nem mesmo na escassez de liquidez, muito menos na falta de confiança. O problema é que o sistema capitalista em escala mundial se encontra em um verdadeiro beco sem saída. A causa fundamental da crise é que o desenvolvimento das forças produtivas está comprimido pelos estreitos limites da propriedade privada e dos estados nacionais. A contração do crédito é freqüentemente apresentada como a causa da crise, mas na realidade trata-se apenas de seu mais visível sintoma. A crise é parte integrante do sistema capitalista.

Há muito tempo, Marx e Engels explicaram:

"As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências infernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio.

Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade — a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um estado de barbárie momentânea; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio.

As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? “Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las”.

Estas palavras do Manifesto Comunista, escritas em 1848, são tão jovens e relevantes hoje quanto no momento em que foram escritas. Poderiam ter sido escritas ontem.

O mais importante não é a questão bancária e sim a economia real: a produção de bens e serviços. Para lucrar é preciso encontrar mercados. Mas a demanda está em forte declínio e a falta de crédito acentua ainda mais a queda. Deparamo-nos com uma clássica crise do capitalismo, que já está vitimando inúmeros inocentes. O colapso dos preços imobiliários nos EUA significa uma crise na indústria da construção, que já eliminou centenas de milhares de postos de trabalho. A indústria automotiva está em crise: as vendas nos EUA atingiram seu menor volume em 16 anos. Isto, por sua vez, acarreta a queda da demanda por aço, plástico, borracha, eletricidade, petróleo e outros produtos. Terá um efeito devastador na economia, gerando desemprego e queda dos padrões de vida.

1.5. Anarquia capitalista

Nos últimos trinta anos ou mais, têm-nos dito que o melhor sistema econômico possível era algo chamado de "economia de livre mercado". Desde os anos 70 o mantra da burguesia tem sido "deixar o mercado fluir" e "manter o Estado fora da economia". Presumia-se que o mercado possuía poderes mágicos, que poderia organizar as forças produtivas sem qualquer intervenção estatal. Esta idéia é tão velha quanto Adam Smith, que no século XVIII falou da "Mão invisível do mercado". Políticos e economistas se gabavam de terem abolido o ciclo econômico. "Nunca mais booms e recessões" foi repetido incansáveis vezes.

Não restava qualquer dúvida sobre a questão da regulação. Muito pelo contrário, exigiam enfaticamente que toda e qualquer regulação fosse abolida, pois seriam "nocivas ao livre mercado". Portanto, destruíram todas as regulamentações e permitiram que as forças de mercado reinassem livremente. A sede por lucros fez o restante: enormes quantidades de capital foram movidas de um país a outro sem qualquer interferência, destruindo indústrias e desvalorizando moedas com o clicar de um mouse. Isto é o que Marx chamou de "anarquia do capitalismo". Agora estamos vendo os resultados. Com US$ 700 bilhões dos EUA e mais de £ 400 bilhões do governo britânico, o Estado estará comprometido por muitos anos. £ 400 bilhões é o equivalente a metade da renda nacional britânica. Mesmo que isto seja pago (o que é pouco provável) significará muitos anos de aumento de impostos, cortes de gastos sociais e austeridade.

Uma velha lei, o instinto de manada, dita o comportamento dos mercados. O mais leve cheiro de um leão andando entre arbustos fará com que uma manada de gnus entre em pânico de tal maneira que nada conseguirá detê-la. Este é o tipo de mecanismo que determina os destinos de milhões de pessoas. Esta é a mais pura verdade da economia de mercado. Da mesma forma que um gnu pode sentir o cheiro de um leão, os mercados podem sentir a iminência de uma recessão. A perspectiva de uma recessão é a verdadeira causa do pânico. Uma vez iniciada nada a deterá. Nenhum discurso, nenhum corte de juros, e nenhuma declaração dos bancos, terá o menor efeito sobre o mercado financeiro. Perceberam que os governos e os bancos centrais estão assustados, e tiraram as devidas conclusões.

O pânico que se instalou nos mercados ameaça aniquilar qualquer tentativa por parte dos governos de deter a crise. Nenhuma das medidas desesperadas adotadas pelos bancos centrais e pelos governos obteve êxito em deter o pânico. O mais escandaloso de tudo isso é que todas essas pessoas que estão suplicando a assistência do Estado são as mesmas que estavam sempre gritando que o governo não tinha lugar nos assuntos econômicos e que se deveria permitir que o mercado operasse sem regulação ou qualquer outra forma de interferência do Estado.

Agora, amargamente reclamam que os reguladores não estão fazendo seu trabalho. Mas até pouco tempo atrás concordavam em que o trabalho dos reguladores era tão simples quanto deixar o mercado sozinho. Os cães de guarda estavam completamente certos quando diziam que não era o trabalho dos reguladores ajudarem os bancos, pois este foi o mantra dos últimos trinta anos. De Londres à Nova Iorque e à Reykjavík os reguladores não tiveram êxito em controlar os "excessos" da indústria financeira. Durante as últimas três décadas os promotores da economia de mercado exigiram a abolição das regulamentações.

Supunha-se que concorrência entre os centros financeiros e negócios, garantiria que o mercado funcionasse eficientemente, graças à mão invisível do mercado. Mas a falência da política do laissez-faire [deixar rolar] ficou impiedosamente exposta no verão de 2007. Agora, estão inconsoláveis e lamentando as conseqüências de suas próprias ações. A sociedade neste momento está pagando a conta das políticas adotadas pelos capitalistas e seus representantes políticos para manter o boom ao inflar constantemente as bolhas especulativas. Todos estão comprometidos com esta fraude generalizada. Republicanos e Democratas, Trabalhistas e Conservadores, Social-democratas e ex-comunistas – todos abraçaram a economia de mercado e aplaudiram este extravagante carnaval de fazer dinheiro.

É muito fácil ser sensato depois do ocorrido, como qualquer bêbado de ressaca depois de uma noite de bebedeira, juram de pés juntos que desta vez aprenderam a lição, e que nunca mais beberão novamente – uma excelente decisão que sinceramente pretendem cumprir – mas, tudo vai por água abaixo quando uma nova festa se apresenta. Agora os reguladores financeiros estão metendo o nariz em cada pequeno aspecto relacionado aos interesses dos bancos, mas somente agora que os bancos estão à beira do colapso. Antes, onde é que eles estavam?

Agora todos culpam a ganância dos banqueiros pela crise. Mas, ainda ontem, estes mesmos gananciosos banqueiros eram universalmente aclamados como os salvadores da pátria, os criadores de riqueza, aqueles que assumiam os riscos e criavam empregos. Muitos, na City Londrinense e em Wall Street, estão na iminência de perder seus empregos. Mas os operadores terão feito milhões com os derivativos de curto prazo no mercado especulativo. Os diretores dos operadores nos conselhos de administração deixarão que o cassino continue porque seus ganhos também estão ligados aos resultados em curto prazo.

Tardiamente as autoridades estão tentando impor restrições aos ganhos dos banqueiros como sendo o preço a pagar pelos planos de salvamento. Eles fazem isso não por uma questão de princípio ou convicção, mas porque temem a reação da população ante estes escandalosos ganhos, que estão sendo pagos com o dinheiro público, o dinheiro está indo para aqueles que causaram todo esse caos na economia. Os diretores se esquecem que uma atmosfera de fúria e ódio está se acumulando na sociedade. Na verdade, eles não estão nem aí pra isso. Mas os políticos não podem dar-se ao luxo de serem totalmente indiferentes aos eleitores que poderão chutá-los para longe nas próximas eleições.

O problema que eles têm à frente é que é impossível regular a anarquia capitalista. Reclamam da ganância, mas a ganância está no coração da economia de mercado e não pode ser restringida. Qualquer tentativa de limitar as "excessivas" remunerações, bônus etc., será sabotada. Os mercados expressarão esse desacordo com repentinas quedas nos preços das ações. Isto servirá para concentrar as mentes dos legisladores e compeli-los a prestar atenção no eleitorado real, ou seja, os proprietários da riqueza. Quando o trabalhador se sacrificar para pagar os impostos este ano, este dinheiro estará perdido para sempre. Mas a mesma regra não se aplica aos banqueiros e capitalistas. Mesmo que por fim concordem em reduzir seus bônus, para manter a imagem, neste ano, eles se recuperarão deste grande "sacrifício" aumentando seus bônus no próximo ano. Isto não é assim tão difícil.

A idéia de que homens e mulheres são incapazes de controlar seus assuntos de uma forma melhor que esta é uma monstruosa calúnia contra a raça humana. Ao longo dos últimos 10.000 anos a humanidade se mostrou capaz de superar todos os obstáculos e seguir adiante em seu objetivo final, a liberdade. As maravilhosas descobertas da ciência e tecnologia colocaram em nossas mãos a possibilidade de solucionar todos os problemas que nos atormentam há séculos e milênios. Mas este colossal potencial pode nunca ser desenvolvido em sua completa extensão, já que está subordinado à insana busca pelo lucro.

1.6. Por uma vida melhor

Incrivelmente, em seus esforços de defender o capitalismo, alguns comentaristas estão tentando culpar os consumidores e proprietários de imóveis pela crise: "Todos nós somos culpados", dizem eles, sem nem sequer ficarem vermelhos. Depois de tudo, argumentam, ninguém foi forçado a pegar uma hipoteca de 125% ou endividar-se para pagar suas férias no exterior ou comprar belos sapatos. Mas, em uma situação onde a economia está se desenvolvendo rapidamente, e o crédito está barato, mesmo os pobres são tentados a "ir além de seus recursos." Na verdade, em um dado momento a taxa real de juros nos EUA esteve negativa, o que significava que a população teria prejuízos se não fizesse empréstimos.

O capitalismo constantemente cria novas necessidades e a publicidade, hoje, é uma grande indústria, que utiliza as mais sofisticadas artimanhas para convencer os consumidores que eles precisam ter isso ou aquilo. O extravagante estilo de vida das "celebridades" se apresenta ante os olhos fixos dos pobres, mostram-lhes uma visão destorcida da vida e lhes fazem uma lavagem cerebral para que aspirem a coisas que nunca poderão ter. A hipocrisia burguesa aponta o dedo acusador para as massas que, como Tântalos, foi condenado a assistir um grandioso banquete enquanto era fustigado pela fome e sede.

Não é imoral nem falta lógica em aspirar a uma vida melhor. Se homens e mulheres não aspirassem constantemente a uma vida melhor, não haveria qualquer progresso. A sociedade afundaria em uma condição de inércia e estagnação. Certamente, aspiramos a uma vida melhor, porque só temos uma. E se tudo aquilo que desejássemos fosse apenas aquilo que existe agora, a perspectiva da humanidade seria realmente sombria. O que é, sem sombra de dúvida, imoral e desumano é a luta incessante pela sobrevivência criada pelo capitalismo, onde a ganância pessoal é valorizada não apenas como uma virtude, mas como a força motriz de todo progresso humano.

A classe capitalista acredita na famosa lei da sobrevivência do mais forte. Entretanto, para eles não se trata da sobrevivência do mais adaptado ou mais inteligente e sim a sobrevivência dos ricos, independente de ser fraco, estúpido, feio ou doente, e não lhes importa se a pessoa mais perfeitamente adaptada e inteligente morra no processo. A idéia sistematicamente cultivada é que meu avanço pessoal somente pode ser alcançado a custo dos demais, que minha ambição pessoal deve ser satisfeita através da perda de outros, e que para avançar, é necessário esmagar os demais. Este violento individualismo burguês é a base moral e psicológica de muitos dos males que afetam a sociedade, corroendo suas entranhas e a arrastando pra baixo até o nível do primitivo barbarismo. É a moralidade do homem lobo do homem, o conceito de "cada um por si e Deus contra todos".

Esta miserável caricatura da seleção natural é uma difamação a memória de Charles Darwin. Na verdade, a chave da sobrevivência e do desenvolvimento da raça humana desde suas origens não foi a competição e sim a cooperação. Nossos ancestrais eram pequenas e fracas criaturas da savana do leste africano (somos todos descendentes dos migrantes africanos). Não possuíam fortes garras nem poderosos dentes. Não podiam correr tão rápido quanto os animais que precisavam comer, e muito menos eram mais rápidos que os predadores que lhes queriam comer. De acordo com a "sobrevivência do mais forte" nossa espécie teria sido extinta há aproximadamente três milhões de anos. A principal vantagem evolutiva que nossos ancestrais possuíam era a cooperação e a produção social. O individualismo sob tais condições significaria a morte.

1.7. Mudança na consciência

Aos defensores da teoria da sobrevivência do mais forte há que se fazer uma simples pergunta: Por que não deixar os bancos, que se mostraram completamente fracos para sobreviver, morrer? Por que salvá-los à custa da generosidade de toda a sociedade, que antes se presumia, não existia? Para salvar os fracos e não adaptados bancos, recorrem a estúpidos e ineficientes banqueiros, enquanto que a maioria forte, adaptada, inteligente e batalhadora precisa se sacrificar alegremente. Mas a sociedade não está, de modo algum, convencida a servir a esta causa valorosa, e muito menos a abrir mão de "supérfluos" tais como escolas e hospitais e nem a aceitar um regime de austeridade por um suposto futuro.

Os choques econômicos que são diariamente noticiados nos jornais e televisões revelam um fato que está ficando claro para todos: o sistema atual não está funcionando. Usando uma expressão americana: it is not delivering the goods (não estão cumprindo o prometido). Não há dinheiro para a saúde, ensino e previdência, mas para Wall Street há todo o dinheiro do mundo. Nas palavras do maior escritor americano da atualidade, Gore Vidal, o que temos é: "socialismo para os ricos e economia de livre mercado para os pobres".

Muitas pessoas estão tirando a devida conclusão de tudo isso. Estão começando a questionar o sistema capitalista e procurando alternativas. Infelizmente, as alternativas não são imediatamente óbvias. Nos EUA, olham para Obama e para os Democratas. Mas Republicanos e Democratas são as botas esquerda e direita do mesmo Grande Negócio. Mais uma vez Gore Vidal: "em nossa República só existe um partido, o Partido da Propriedade, com duas alas de direita". Obama e McCain apoiaram fielmente o plano de salvamento dos bancos de US$ 700 bilhões. Representam os mesmos interesses com leves variações de tática.

Estes acontecimentos terão um profundo impacto nas consciências. É uma proposição elementar do Marxismo que a consciência humana é profundamente conservadora. As pessoas em geral não gostam de mudança. Hábitos, costumes e rotinas desempenham um papel muito importante na formação das perspectivas das massas, que normalmente resistem à idéia de grandes mudanças em suas vidas e costumes. Mas quando grandes acontecimentos sacodem a sociedade em seus fundamentos, as pessoas são compelidas a reconsiderar suas velhas idéias, crenças e preconceitos.

Justamente agora, estamos entrando em tal período. O longo período de relativa prosperidade dos últimos vinte anos ou mais nos países capitalistas avançados deixou sua marca apesar da relativamente leve recessão de 2001. Apesar de todas as injustiças manifestas do capitalismo, apesar das longas horas de trabalho, do aumento da exploração, do aumento da desigualdade, do luxo obsceno da indecente riqueza ostentado lado a lado ao aumento do número de pobres e marginalizados – apesar disso tudo, muitas pessoas acreditam que a economia de mercado funciona e que mesmo assim serve ao benefício de todos. Isto é particularmente verdade nos EUA. Mas, para um número cada vez maior de pessoas isso já não é assim.

2. As Reivindicações durante a crise

2.1. Como combater o desemprego

Durante o boom, quando lucros fantásticos estavam sendo gerados, a maior parte dos trabalhadores não obteve aumentos reais de salário. Foram submetidos a maiores pressões para aumentar a produtividade e há trabalhar mais horas extras. Mas agora, que a crise começa a golpear, estão ameaçados não apenas por drásticos cortes salariais e nos padrões e condições de vida, como também de perderem seus empregos. Fechamento de fábricas e aumento do desemprego estão na ordem do dia. Isto por sua vez significa um aprofundamento da crise e a conseqüente queda dos padrões de vida da população. Em escala mundial, milhões enfrentarão o perigo de serem lançados na mais profunda miséria.

Por dez anos a economia espanhola foi apresentada como o motor da geração de emprego na zona do euro. Agora as fileiras do desemprego na Espanha foram incrementadas em mais de 800.000 no ano passado. O colapso do boom da construção, que já durava uma década, empurrou a taxa de desemprego para 11,3%, a mais elevada taxa da União Européia. "Está ficando cada vez pior; está apenas começando," disse Daniele Antonucci, um economista da Merrill Lynch International em Londres. Daniele projetou a taxa de desemprego na Espanha para o próximo ano em 13%, enquanto que a taxa de desemprego na Europa varia de 7,5% a 8,1% no final de 2008. Na verdade, as estatísticas de desemprego são ainda piores, pois os governos recorrem a todo tipo de truques para reduzi-las. A mesma situação existe, com maior ou menor intensidade, em todos os países.

Se não podem aumentar ou melhorar seu padrão de vida, os trabalhadores devem ao menos defendê-lo. O desemprego ameaça a sociedade com a desintegração. A classe trabalhadora não pode permitir que se desenvolva um processo de desemprego crônico e de massas. O direito ao trabalho é um direito fundamental. Que espécie de sociedade condena milhões de homens e mulheres sadios a uma vida de inatividade forçada, quando seus trabalhos e habilidades são necessários para satisfazer as necessidades da população? Não precisamos de mais escolas e hospitais? Não precisamos de boas estradas e casas? A infra-estrutura e o sistema de transporte não precisam de reparos e melhorias?

A resposta para todas essas perguntas é bem conhecida de todos. Mas a resposta da classe dominante é sempre a mesma: não temos recursos para estas coisas. Agora todos sabem que a resposta é falsa. Agora sabemos que os governos podem produzir extraordinárias somas de dinheiro quando se ajusta aos interesses de uma minoria rica que detém e controla os bancos e indústrias. Quando a maioria do povo trabalhador reivindica suas necessidades é atendida pelo governo com o velho jargão de que o cofre está vazio.

O que isto prova? Prova que no sistema em que nós vivemos os lucros de poucos são mais importantes que as necessidades de muitos. Prova que todo o sistema produtivo baseia-se em uma e única coisa: na busca pelo lucro, ou, mais claramente, na ganância. Quando os trabalhadores vão à greve, a imprensa (que também é controlada e pertence a um punhado de bilionários) ridiculariza-os qualificando-os de avarentos. Mas sua "avareza" é apenas uma luta para cobrir suas necessidades: pagar o aluguel, pagar o supermercado, pagar o transporte que aumenta todo mês, e prover as necessidades de seus filhos e familiares.

Por outro lado, a ganância dos banqueiros e capitalistas é a ganância por acumular enormes fortunas com o trabalho dos outros (porque eles mesmos não produzem nada). Este dinheiro é gasto em obras de arte, não por entretenimento, mas apenas como outra forma de investimento lucrativo; em manter um estilo de vida repleto de extravagâncias; ou em entregarem-se a novas especulações que sempre terminam em colapso econômico e miséria – não para eles, mas para a maioria que com seu trabalho produtivo sustenta a sociedade.

No passado os empresários diziam que as novas tecnologias aliviariam o fardo do trabalho, mas o que aconteceu foi justo o contrário. A União Européia acaba de aprovar o aumento da jornada de trabalho semanal para 60 horas! Isto acontece na primeira década do século XXI, onde os milagrosos avanços da tecnologia e da ciência moderna permitiram mais economia de trabalho do que em toda história passada. Qual o sentido de tudo isso? Qual é o sentido de ter um grande número de desempregados sendo pagos para não fazerem nada, enquanto nos locais de trabalho outros trabalhadores são forçados a fazer demasiadas horas extras?

Durante o boom, os empresários forçaram os trabalhadores a trabalharem muitas horas extras, para espremer até a última gota de mais-valia de seu trabalho. Mas quando chega a recessão e eles não encontram mais mercados para seus produtos, eles não hesitam em fechar as fábricas como se fossem caixas de fósforos; lançam parte da força de trabalho na rua, e exploram até o limite aqueles que permanecem. O impasse do capitalismo é tal que o desemprego não é mais "conjuntural"; seu caráter hoje é orgânico ou "estrutural". Um homem ou mulher de mais de 40 ou 50 anos talvez não mais trabalhe em sua vida, muitas pessoas qualificadas que perderam seus empregos serão forçadas a se submeter a trabalhos sem qualificação e por baixos salários para sobreviver.

Esta é uma economia de manicômio! Do ponto de vista capitalista isto é completamente lógico. Mas nós rejeitamos a lógica capitalista! Contra a ameaça de desemprego devemos defender a palavra de ordem de obras públicas e de compartilhar o trabalho sem perda salarial. A sociedade precisa de escolas, hospitais, rodovias e moradias. O desempregado deve ter trabalho em programas de obras públicas.

Os sindicatos devem garantir que os desempregados estejam estritamente vinculados aos trabalhadores, unidos em solidariedade e com mútua responsabilidade. É necessário compartilhar o trabalho disponível sem perda salarial! Todo trabalho disponível deve ser dividido entre a força de trabalho de acordo com a jornada semanal de trabalho definida. O salário médio de cada trabalhador permanece o mesmo da antiga jornada semanal de trabalho. Os salários, garantindo o estritamente necessário, devem subir de acordo com o movimento dos preços. Este é o único programa que pode proteger os trabalhadores em tempos de crise econômica.

Quando estão obtendo enormes lucros os donos de empresas guardam zelosamente seus segredos contábeis. Agora, que existe uma crise, eles mostrarão seus livros contábeis como "prova" de que não têm recursos para cobrir as demandas dos trabalhadores. Isso se dá especialmente com os pequenos empresários. Mas se nossas demandas são ou não "realistas" do ponto de vista dos empresários não importa. Nós temos o dever de proteger os interesses vitais da classe trabalhadora e protegê-la dos piores efeitos da crise. Os patrões irão reclamar da queda dos lucros e de seu efeito negativo no incentivo a novos investimentos. Mas que incentivos existem para a maioria da população sob o sistema baseado no lucro? Se os interesses vitais da maioria são incompatíveis com as demandas do atual sistema, então que o sistema vá para o inferno!

É de fato lógico que as vidas e destinos de milhões de pessoas estejam determinados pelo jogo cego das forças de mercado? É justo que a vida econômica do planeta seja decidida como se estivéssemos em um grande cassino? É justo que a ganância por lucros seja a única força motriz que decide se homens e mulheres terão trabalho ou um teto para morar? Aqueles que detêm a propriedade dos meios de produção e controlam nossos destinos responderão afirmativamente porque corresponde a seus interesses. Mas a maioria da sociedade que é vítima inocente desse sistema canibal terá uma opinião muito diferente.

Ao lutar para se defenderem contra as tentativas de fazer com que paguem pela crise, os trabalhadores entenderão a necessidade de uma profunda e generalizada mudança na sociedade. A única resposta ao fechamento de fábricas é a ocupação de fábricas: "fábrica fechada é fábrica ocupada!" Esta é a única palavra de ordem efetiva para combater os fechamentos. Ocupações de fábricas devem levar necessariamente ao controle operário. Através do controle operário os trabalhadores aprenderão por sua própria experiência como administrar e contabilizar a empresa, o que permitirá a eles que mais tarde dirijam toda a sociedade.

Esta tem sido a experiência das lutas operárias mais avançadas nos recentes anos, especialmente na América Latina. No Brasil (CIPLA, Interfibra, Flaskô e outras fábricas), na Argentina (Brukman, Zanon e muitas outras) e na Venezuela, onde a gigantesca companhia de petróleo, a PDVSA, foi dirigida e posta a funcionar pelos trabalhadores por meses durante a greve patronal em 2002-2003, e onde o movimento de fábricas ocupadas se desenvolve e se fortalece ao redor da Inveval, ocupada em 2005.

Em todos esses casos e em muitos outros, os trabalhadores tentaram com sucesso colocar suas fábricas em funcionamento sob seu próprio controle e administração, apesar de todas as dificuldades. Mas o controle operário não pode ser um fim em si mesmo. Isto coloca a questão da propriedade. E coloca a questão: quem é o dono da casa? Ou o controle operário conduz à nacionalização [estatização] ou será um mero episódio efêmero. A única solução real para o desemprego é uma economia planificada socialista, baseada na nacionalização dos bancos e das maiores indústrias sob controle e administração operária.

Exigimos:

• Não ao desemprego! Trabalho ou salário integral para todos!

• Abaixo os segredos empresariais! Abertura dos livros! Deixar que os trabalhadores tenham acesso à informação sobre todas as fraudes, especulações, evasão de impostos, acordos suspeitos, lucros e comissões excessivas. Deixar que o povo veja como eles executam as fraudes e quem é o responsável por todo essa bagunça!

• Não ao fechamento de fábricas! Fábrica fechada é fábrica ocupada!

• Nacionalização sob controle e administração operária das fábricas ameaçadas de fechamento!

• Por um amplo programa de empregos públicos: por um programa de emergência para satisfazer a demanda por moradia, escolas, hospitais e estradas para empregar aqueles que estão sem trabalho.

• Pela imediata introdução da jornada de 32 horas semanais sem perda salarial!

• Por uma economia planificada socialista, na qual o desemprego seja abolido e a sociedade possa inscrever em sua fachada: DIREITO UNIVERSAL AO TRABALHO.

2.2. Lutar para defender os padrões de vida!

Enquanto os banqueiros e empresários realizaram fabulosos lucros, o valor real dos salários da maioria permaneceu estagnado ou declinou. O abismo entre ricos e pobres nunca foi tão grande quanto hoje. Lucros recordes foram acompanhados por recordes de desigualdade. The Economist (que não é de forma alguma uma revista de esquerda) assinalou: "A única tendência verdadeiramente contínua ao longo dos últimos 25 anos tem sido em direção a uma cada vez maior concentração da renda para os mais ricos" (17/06/2006). Uma pequena minoria tornou-se obscenamente rica, enquanto que a parte dos trabalhadores na renda nacional é constantemente reduzida e os setores mais pobres são lançados na mais profunda miséria. O furacão Katrina revelou para todo o mundo a existência de uma subclasse de cidadãos desprovidos, vivendo em condições de Terceiro Mundo no país mais rico do mundo.

Nos EUA milhões estão ameaçados pelo desemprego e pelo despejo, enquanto a exploração continua a ritmo acelerado. Ao mesmo tempo em que Bush anuncia seu plano de salvamento de US$ 700 bilhões, companhias de abastecimento de gás e eletricidade registram recordes de inadimplência. O maior aumento de cortes de energia se deu em Michigan (22%) e Nova Iorque (17%), assim como foram registrados na Pensilvânia, Flórida e Califórnia.

Os operários dos EUA produzem 30% mais do que há dez anos. E os salários pouco subiram. Há um enorme aumento das tensões sociais, mesmo no país mais rico do mundo. Isto prepara o terreno para grandes explosões da luta de classes. Não apenas nos EUA. Em todo o mundo, o boom foi acompanhado por altas taxas de desemprego. Reformas e concessões foram retiradas, até mesmo, durante o auge do boom. A crise do capitalismo não significa apenas que a classe dominante não pode tolerar novas reformas, não podem sequer permitir a manutenção das reformas e concessões que os trabalhadores conquistaram no passado.

Os trabalhadores não obtiveram benefícios reais do boom, e agora lhes mostram a conta da recessão a ser paga. Em todos os lugares existem ataques aos padrões de vida. Para defender os lucros dos empresários e banqueiros, os salários devem ser reduzidos, as horas e a intensidade do trabalho aumentados, os gastos em educação, moradias e hospitais devem ser reduzidos. Isto significa que até mesmo as condições de semi-civilização conquistadas no passado estão sob ameaça. Nas condições atuais nenhuma reforma significativa será alcançada sem uma luta séria. A idéia de que é possível fazer isso com a concordância dos empresários e banqueiros é falsa até a medula.

A idéia de "unidade nacional" para combater a crise é uma cruel fraude contra o povo. Que unidade de interesses existe entre milhões de trabalhadores comuns e o super rico explorador? Apenas a unidade entre o cavalo e o cavaleiro que lhe crava as esporas no dorso. Os líderes socialistas, trabalhistas e dos partidos de esquerda que votam pelas "medidas contra a crise", concedendo um generoso salvamento aos banqueiros e cortes e austeridade para a maioria da sociedade, estão traindo os interesses do povo que os elegeu. Os líderes sindicais que dizem que nesta crise "todos devemos trabalhar ombro a ombro" e imaginam que é possível obter concessões mediante a moderação salarial e concordando com as condições impostas pelos empresários só conseguirão o oposto do que pretendem. A debilidade convida a agressão! Para cada passo atrás que dermos, os patrões vão querer três vezes mais. Ao longo da estrada da conciliação de classes e do chamado "Novo Realismo" só existem novas derrotas, fábricas fechadas e cortes nos padrões de vida.

Enquanto o desemprego aumenta inexoravelmente, o custo de vida também aumenta. Combustível, gás, eletricidade, alimentos, tudo aumentou, enquanto os salários estão congelados e os lucros das companhias de abastecimento nas alturas. No último período os economistas burgueses diziam que haviam "domesticado a inflação". Como soa ridículo este argumento hoje! Famílias que ontem viviam com dois salários agora têm de viver com um – ou nenhum. A luta pela vida agora assume para milhões um perverso significado. Inflação e austeridade são as duas faces da mesma moeda. Nenhuma face pode servir aos interesses da classe trabalhadora. Nós rejeitamos completamente todas as tentativas de colocar o fardo da crise, do desbaratamento do sistema bancário e qualquer outra conseqüência da crise do sistema de lucro, nas costas da classe trabalhadora. Reivindicamos emprego e condições de vida decentes para todos.

A única solução para o galopante aumento de preços é a escala móvel de salários. Isto significa que os acordos coletivos devem assegurar um aumento automático em relação ao aumento dos preços dos bens de consumo. Os banqueiros e seus representantes políticos dizem às massas: não podemos arcar com altos salários porque isso causará inflação. Mas todos sabem que são os salários que seguem à zaga dos preços, e não o contrário. A resposta é a escala móvel de salários, pela qual o salário estará ligado automaticamente aos aumentos do custo de vida. Entretanto, isso não é suficiente. Os índices oficiais de inflação são armados para subestimar a quantidade real de inflação e, portanto, pedem aos trabalhadores que não reivindiquem aumentos superiores a estas falsas estatísticas. Por isso é necessário que os sindicatos elaborem uma taxa real de inflação, baseada nos preços das necessidades básicas (incluindo aluguéis e outros custos habitacionais) e mantê-los sob constante vigilância. Qualquer exigência deve estar baseada no índice real.

Exigimos:

• Salário e aposentadoria decentes para todos!

• Uma escala variável de salários, ligando todo aumento aos aumentos no custo de vida.

• Os sindicatos, cooperativas e associações de consumidores devem trabalhar por um índice real do custo de vida em lugar do índice "oficial", que não reflete o estado real dos aumentos.

• Formar comitês de trabalhadores, donas de casa, lojistas e desempregados para controlar os aumentos de preços.

• Abolição das taxações indiretas e a introdução de um eficiente sistema progressivo de taxação direta. Abolir qualquer taxação para os pobres e deixar que os ricos paguem!

• Redução drástica das contas de energia! Isto somente pode ser alcançado com a nacionalização das companhias de energia, que não permitirão que imponhamos o controle de preços sobre a eletricidade e o gás. Basta de lucros às custas do público!

2.3. Os sindicatos

No presente período, os trabalhadores mais do que nunca precisam de organizações de massas, principalmente os sindicatos. Os sindicatos são as unidades básicas de organização. Não é possível lutar para defender os salários e os padrões de vida sem poderosos sindicatos. É por isso que os empresários e seus governos sempre procuram minar os sindicatos e restringir sua esfera de ação através de leis anti-sindicais.

O longo período de boom afetou os líderes sindicais, que abraçaram as políticas de colaboração de classe e converteram-se em "sindicatos de serviços", precisamente quando as condições para tais coisas desapareceram. A ala direita dos líderes sindicais é a força mais conservadora da sociedade. Eles dizem aos trabalhadores que "estamos todos no mesmo barco" e que todos devemos fazer sacrifícios para resolver a crise, que os empresários não são nossos inimigos e que a luta de classes está "fora de moda".

Advogam a barganha entre o trabalho assalariado e o Capital, o que consideram ser um "novo realismo". Na realidade é o pior tipo de utopia. É impossível reconciliar interesses mutuamente exclusivos. Nas presentes condições o único caminho para se conseguir reformas e aumento de salários é através da luta. De fato, será necessário lutar para defender os avanços do passado, que estão sob ameaça em todos os lugares. Isto se encontra em contradição direta com a política de colaboração de classes dos líderes, que refletem sobre o passado, e não sobre o presente nem sobre o futuro.

Em seus esforços para neutralizar os sindicatos e transformá-los em instrumentos de controle dos trabalhadores, a classe dominante faz de tudo a seu alcance para corromper a cúpula dos sindicatos e atrelá-los ao Estado. Opomo-nos a todos esses subterfúgios e defendemos o fortalecimento e democratização de todos os sindicatos em todos os níveis. Os sindicatos devem ser independentes do Estado e devem controlar seus líderes e obrigá-los a lutar consistentemente pelos interesses dos trabalhadores.

Os líderes sindicais reformistas, que gostam de pensar que são práticos e realistas, na verdade são completamente cegos e obtusos. Não têm a menor idéia da catástrofe que está sendo preparada pela crise do capitalismo. Imaginam ser possível alcançar seus objetivos de qualquer maneira, aceitando cortes e outras imposições na esperança de que tudo dará certo no final. Aferram-se a "boas relações" com os capitalistas na esperança de que eles mudem suas condutas. Ao contrário! Toda a história mostra que a debilidade convida a agressão. Para cada passo atrás, os empresários exigirão três vezes mais.

Até mesmo quando são forçados pela pressão das bases a chamar greves e greves gerais, fazem de tudo a seu alcance para reduzir tais ações a meros gestos, limitando seu tempo e seu alcance. Quando são obrigados a chamar manifestações de massas, transformam-nas em shows e festas com balões e bandas, sem nenhum conteúdo de classe. Para os líderes, são meras válvulas de escape. Para os sérios sindicalistas, ao contrário, greves e manifestações são meios para fazer com que os trabalhadores percebam seu poder e para preparar o terreno para mudanças fundamentais na sociedade.

Até mesmo no último período houve uma corrente subterrânea de descontentamento como resultado dos ataques aos direitos dos trabalhadores e às legislações sindicais. Tudo isto está vindo à superfície neste momento e encontram expressão nas organizações de massas da classe trabalhadora, começando com os sindicatos. A radicalização das bases e das fileiras entrará em conflito com o conservadorismo da liderança. Os trabalhadores exigirão uma completa transformação dos sindicatos, da cúpula às bases, e empenhar-se-ão em transformá-los em verdadeiras organizações de luta.

Defendemos a construção de sindicatos de massas, democráticos e militantes, que sejam capazes de organizar a maioria da classe trabalhadora, educando-os e preparando-os na prática, não apenas para a transformação radical da sociedade, mas como também para de fato dirigir a economia em uma futura sociedade socialista democrática.

Exigimos:

• Independência completa dos sindicatos em relação ao Estado.

• Fim da arbitragem forçada, dos acordos anti-greve, e de qualquer outra medida que restrinja a esfera de ação dos sindicatos.

• Democratização dos sindicatos e que estejam firmemente controlados pelos militantes!

• Fim das nomeações! Eleição de todos os dirigentes sindicais com direito a revogação.

• Contra a burocracia e o carreirismo! Nenhum dirigente pode receber um salário maior do que o de um trabalhador qualificado. Todas as despesas devem estar disponíveis para inspeção dos membros.

• Não à colaboração de classes! Por um programa militante para mobilizar os trabalhadores em defesa do trabalho e dos padrões de vida.

• Pela unidade sindical sobre a base das reivindicações antes mencionadas.

• Pelo controle das bases e das fileiras, incluindo o fortalecimento dos comitês de delegados sindicais e pela criação dos comitês de greve durante as mesmas e outros conflitos como forma de garantir a máxima participação dos trabalhadores.

• Pela nacionalização dos altos comandos da economia e pela criação de uma democracia industrial na qual os sindicatos possam jogar um papel na administração e controle de todos os locais de trabalho. Sindicalismo não é um fim em si mesmo, apenas os meios de um fim, que é a transformação socialista da sociedade.

2.4. Juventude

A crise do capitalismo tem efeitos particularmente negativos sobre as jovens gerações, que são a chave para o futuro da raça humana. A decadência senil do capitalismo ameaça minar a cultura e desmoralizar a juventude. Camadas inteiras da juventude não vêem saída para este impasse, tornam-se vítimas do alcoolismo, das drogas, pequenos crimes e violência. Quando um jovem mata por um par de tênis devemos nos perguntar em que tipo de sociedade estamos vivendo. A sociedade estimula que os jovens desejem consumir produtos pelos quais não podem pagar, depois levam as mãos à cabeça, horrorizados com os resultados.

Margaret Thatcher, a sacerdotisa da economia de mercado, uma vez disse que não existe essa coisa chamada sociedade. Esta filosofia corrosiva teve resultados devastadores desde que foi posta em prática 30 anos atrás. Este individualismo cru contribuiu poderosamente para criar um espírito de egoísmo, ganância e indiferença ao sofrimento do próximo e penetrou como um veneno no corpo da sociedade. É a essência real da economia de mercado.

A verdadeira medida do nível de civilização de uma sociedade é como esta cuida dos mais velhos e da juventude. Se não vamos bem neste ponto, não podemos nos qualificar como uma sociedade civilizada; ao contrário, fazemos parte de uma sociedade que está à beira da barbárie. Até mesmo neste período de boom já havia sintomas de barbárie na sociedade, com ondas de crime e violência, e a disseminação de uma atmosfera anti-social e niilista entre as camadas mais jovens da população. Este atmosfera representa fielmente a moralidade do capitalismo.

Os reacionários protestam em voz alta contra esta situação, mas não podem admitir que tal situação seja conseqüência do sistema social que eles defendem; são impotentes para propor qualquer solução. Sua única resposta é lotar as penitenciárias com jovens, onde aprenderão a ser verdadeiros criminosos, não mais meros amadores. Dessa forma entramos num círculo vicioso de alienação social, vício de drogas, degradação e crime.

A resposta do Establishment é a criminalização dos jovens: culpá-los pelos problemas gerados pela própria sociedade, aumentar a repressão policial, construir mais prisões e aplicar pesadas sentenças. Ao invés de resolver o problema, tais medidas servirão apenas para agravar a situação e criar um círculo vicioso de crime e alienação. Este é o resultado lógico do capitalismo e da economia de mercado, que trata as pessoas como meros "fatores de produção" e subordina tudo à busca pelo lucro. Nossa resposta para a juventude é: organizem-se e juntem-se a classe trabalhadora na luta contra o capitalismo e pelo socialismo!

A crise do capitalismo significa mais desemprego e deterioração da infra-estrutura, educação, saúde e moradia. Esta queda dos padrões de civilização traz consigo o risco de uma futura desintegração social. Significa o aumento de crimes, vandalismo, comportamento anti-social e violência.

É necessário tomar medidas urgentes para prevenir que novas camadas de jovens se afundem no pântano da desmoralização. A luta pelo socialismo significa lutar pela cultura em seu sentido mais amplo, elevar as aspirações dos jovens, e dar-lhes um objetivo de vida maior do que a simples luta pela sobrevivência em um nível próximo ao dos animais. Se você tratar as pessoas como animais, elas comportar-se-ão como animais. Se você tratar as pessoas como seres humanos, elas responderão de acordo.

Cortes na educação em todos os níveis, a abolição de bolsas para os estudantes, a imposição de taxas e a necessidade de se fazer empréstimos significa que a classe trabalhadora jovem será excluída da educação de nível superior. Ao invés de ter treinamento adequado para servir à sociedade e de ter acesso à cultura, a maioria dos jovens está condenado a uma vida de vícios em trabalhos sem qualificação e mal remunerados. Ao mesmo tempo companhias privadas estão autorizadas a interferir na educação, que está cada vez mais sendo tratada como um mercado para gerar lucros.

Exigimos:

• Educação decente para todos os jovens. Um programa massivo de construção de escolas e um genuíno sistema gratuito de educação em todos os níveis.

• A abolição imediata das taxas estudantis e a introdução de bolsas dignas para todos os estudantes que queiram ascender à educação superior.

• Emprego garantido para qualquer estudante que termine os estudos com um salário digno.

• Fim da dominação e exploração da educação pelo Grande Negócio. Fora empresas privadas da educação!

• Criação de clubes juvenis bem equipados, biblioteca, centros esportivos, cinemas, piscina e outros centros recreativos para a juventude.

• Um programa para construção de moradias públicas para estudantes e jovens casais.

2.5. "Viabilidade"

A crise do capitalismo significa que todos os banqueiros e capitalistas vão querer colocar sobre as costas do povo todo o fardo da crise, os que menos podem pagar por ela: os trabalhadores, a classe média, o desempregado, o idoso e o doente. O argumento que constantemente é repetido é: já que existe uma crise, não podemos elevar, nem mesmo manter os padrões de vida.

O argumento de que não há dinheiro para pagar reformas é uma escandalosa mentira. Há enormes quantidades de dinheiro para armas e guerras de agressão criminosa no Iraque e no Afeganistão. Mas não há dinheiro para escolas e hospitais. Há uma enorme quantidade de subsídios para os ricos, como vimos no pequeno presente de Bush de US$ 700 bilhões para os banqueiros. Mas não há dinheiro para a previdência, hospitais e escolas.

O argumento sobre a "viabilidade", pelo que vimos acima, cai por terra. Tal reforma é "viável" ou não, dependendo de quais interesses de classe serão atendidos. Em última instância, se é ou não viável (ou seja, se será levado à prática) depende da luta de classes e do balanço real de forças. Quando a classe dominante está ameaçada de perder tudo, sempre está preparada para fazer concessões com as quais "não podia arcar". Isto ficou demonstrado em Maio de 1968 na França, quando a classe dominante concedeu enormes aumentos salariais e importantes melhorias nas condições e horas de trabalho para interromper a greve geral e fazer com que os trabalhadores desocupassem as fábricas.

O começo da crise pode primeiramente causar um choque, mas logo se transformará em raiva quando as pessoas perceberem que estão lhes pedindo que paguem o preço da crise. Haverá mudanças repentinas na consciência, que podem acontecer num espaço de 24 horas. Um grande movimento em apenas um grande país pode provocar uma rápida mudança em toda a situação, como aconteceu em 1968. A única razão pela qual isso ainda não aconteceu se deve ao fato de que a liderança das organizações de massas dos trabalhadores vai à zaga dos acontecimentos e não é capaz de apresentar alternativas reais. Entretanto, já existem sinais de mudança.

No período atual tem havido greves gerais e manifestações de massa por toda a Europa. Na Grécia já aconteceram nove greves gerais desde que a ala direita do Partido da Nova Democracia assumiu o Parlamento em 2004. Nos primeiros seis meses de 2008 a Bélgica testemunhou uma onde de greves não autorizadas que remontavam aos anos 70. O movimento disseminou-se espontaneamente de um setor a outro. Em Março de 2008 a Companhia de Transporte de Berlim (BVG) foi paralisada por uma longa e militante greve dos motoristas e dos trabalhadores da manutenção e administração. Depois de anos de concessões por parte dos sindicatos os trabalhadores disseram basta. Milhares de estudantes tomaram as ruas na Espanha, na quarta-feira, dia 22 de Outubro, para protestar contra os planos de privatização da educação universitária e também se opuseram a qualquer plano para fazer com que os trabalhadores paguem pela crise dos capitalistas através de cortes na educação, na saúde e outros serviços públicos.

Na Itália os estudantes estão se mobilizando. Centenas de milhares de estudantes do nível médio e universitário, junto com os professores e pais de alunos, se mobilizaram em toda Itália contra os planos de Berlusconi de privatizar a educação. Escolas e universidades foram ocupadas. A resposta do governo tem sido a ameaça de usar a polícia armada contra os estudantes. No sábado, 11 de Outubro, 300.000 trabalhadores e jovens fizeram uma manifestação em Roma convocada pela Rifondazione Comunista.

Tudo isto mostra que os trabalhadores não permanecerão com a guarda baixa enquanto seus padrões de vida são destruídos. O cenário está preparado para um auge da luta de classes. Aos trabalhadores não interessa a lógica do sistema de lucros. Nosso dever é defender os interesses de nossa classe, preservar os padrões de vida e melhorar as condições de trabalho a níveis que se aproximem aos padrões de uma vida civilizada. Se existe dinheiro para os banqueiros, então existe dinheiro para financiar os tipos de reformas que precisamos para tornar a sociedade um lugar adequado para se viver!

2.6. Defender os direitos democráticos!

Por mais de meio século, os trabalhadores da Europa Ocidental e da América do Norte acreditaram que a democracia era algo perene e imutável. Mas isso é uma ilusão. Democracia é uma construção muito frágil, e só é possível em países ricos onde a classe dominante pode fazer certas concessões às massas para amenizar a luta de classes. Mas quando as condições mudam, a classe dominante dos países "democráticos" passa à ditadura com a mesma facilidade com que um homem troca de camisa.

Em condições de intensa luta de classes, a classe dominante começará a mover-se em direção à reação. Reclamarão que existem muitas greves e manifestações e exigirão "ordem". Recentemente, Cossiga, que era o Ministro do Interior, e Democrata Cristão, na Itália nos anos 70, e mais tarde Presidente da República, e agora Senador, foi perguntado sobre o que poderia ser feito em relação às manifestações dos estudantes, ele respondeu:

"Deixá-los continuar com isso por algum tempo. Retirar a polícia das ruas e campi; infiltrá-la no movimento com seus agentes provocadores que estão prontos para qualquer coisa, e deixar que os manifestantes por cerca de dez dias devastem lojas, queimem carros e coloquem a cidade de cabeça para baixo. Depois disso, ganharemos o apoio da população – nos asseguraremos que o som da ambulância esteja mais alto do que o da polícia e das carabinas – as forças da ordem atacarão sem piedade aos estudantes e os mandaremos para o hospital. Não os prenderemos, já que o juiz os libertará imediatamente; apenas bateremos neles e também nos professores que fomentam o movimento".

Este é um aviso sobre o que devemos esperar no próximo período de intensa luta de classes na Itália e em outros países. No futuro, por conta da fraqueza dos líderes reformistas, é possível que possam instalar algum tipo de Ditadura Bonapartista (militar-policial) em um ou outro país europeu. Mas nas condições modernas tal regime seria muito instável e provavelmente não duraria muito.

No passado, na Itália, Alemanha e Espanha havia um numeroso campesinato e uma numerosa pequena-burguesia, que forneceram as bases materiais para a reação. Isto não existe mais. No passado, a maioria dos estudantes era de famílias ricas e sustentava os fascistas. Hoje, a maioria dos estudantes está na ala esquerda. As reservas sociais da reação estão muito limitadas. As organizações fascistas são pequenas, embora possam ser extremamente violentas, o que reflete sua fraqueza, e não sua força. Além disso, depois da experiência com Hitler, a burguesia não tem a menor intenção de entregar o poder aos cachorros loucos. Eles preferem se apoiar nos "respeitáveis" oficiais do exército, usando os bandos fascistas como auxiliares.

Mesmo no período recente os direitos democráticos têm sofrido ataques em todos os lugares. Usando a desculpa da legislação antiterrorista, a classe dominante está introduzindo novas leis para restringir os direitos democráticos. Depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro, Bush aproveitou para aprovar a Lei de Segurança Interior (HSA, em inglês). A administração Bush está tentando destruir as bases do regime democrático estabelecido pela Revolução Americana e se move em direção a formas de dominação livre de leis restritivas. Leis similares estão sendo aprovadas na Grã-Bretanha e em outros países.

Lutaremos para defender todos os direitos democráticos que foram conquistados pela classe trabalhadora no passado. Acima de tudo, defenderemos o direito à greve e de manifestação e nos opomos a restrições legais sobre os sindicatos. Todos devem ter o direito de se filiar a sindicatos e de se juntar a outros trabalhadores para defender seus direitos. Muito freqüentemente os defensores do capitalismo opõem o socialismo à democracia. Mas a mesma pessoa que ousa acusar os socialistas de serem antidemocráticos e se auto-declaram como defensores da democracia sempre são os mais ferozes inimigos da democracia. Eles convenientemente se esquecem que os direitos democráticos que possuímos hoje foram conquistados pela classe trabalhadora em sua longa e dolorosa batalha contra os ricos e poderosos que violentamente rejeitam toda reivindicação democrática.

A classe trabalhadora é a maior interessada na democracia porque ela nos oferece as condições mais favoráveis para desenvolver a luta pelo socialismo. Mas entendemos que, sob o capitalismo, a democracia necessariamente terá um caráter restrito, unilateral e fictício. Para que serve a liberdade de imprensa quando todos os grandes jornais, revistas e companhias de televisão, centros de convenção e teatros estão nas mãos dos ricos? Enquanto a terra, os bancos, e os grandes monopólios estiverem nas mãos de poucos, todas as decisões mais importantes que afetam nossas vidas serão tomadas, não por parlamentares e governos eleitos, mas sim a portas fechadas nos conselhos diretores de bancos e de grandes companhias. A presente crise traz à luz essa verdade para que todos a vejam.

O socialismo é democrático ou não é nada. Lutamos pela genuína democracia na qual o povo tomará em suas próprias mãos o controle e a administração da indústria, da sociedade e do Estado. Esta seria uma genuína democracia, oposta a esta caricatura que temos agora, na qual qualquer um pode dizer (mais ou menos) o que quer, contanto que as decisões mais importantes que afetam nossas vidas continuem sendo tomadas a portas fechadas por pequenos grupos que não foram eleitos por ninguém nos conselhos diretores dos bancos e dos grandes monopólios.

Exigimos:

• Abolição imediata de toda lei anti-sindical.

• O direito a todos os trabalhadores de se filiar a um sindicato, à greve, ao piquete e à manifestação.

• O direito à liberdade de expressão e assembléia.

• Não à restrição dos direitos democráticos com o pretexto das ditas leis antiterroristas!

• As organizações dos trabalhadores devem rejeitar a falsa idéia de "unidade nacional" com governos e partidos capitalistas, sob o pretexto da crise. Eles são os responsáveis pela crise e querem passar a conta para a classe trabalhadora.

3. Socialismo Internacional

3.1. Outro mundo é possível: o socialismo!

Algumas pessoas dizem, de forma equivocada, que o problema está nos avanços da ciência. Crêem que seríamos mais felizes agachados em uma casa de barro trabalhando sem parar desde o amanhecer até o anoitecer nos campos. Isso é uma idiotice. A maneira de conseguir a verdadeira liberdade para desenvolver o potencial dos homens e mulheres até sua plenitude está precisamente no desenvolvimento máximo da indústria, da agricultura, da ciência e da tecnologia. O problema é que estes instrumentos poderosos do progresso humano estão nas mãos de indivíduos que os subordinam ao lucro, distorcendo seu propósito, limitando sua aplicação e atrasando seu desenvolvimento. Está claro que a ciência haveria descoberto há muito tempo uma cura contra o câncer ou encontrado uma alternativa limpa e barata aos combustíveis fósseis se não estivesse encadeada ao carro-chefe do lucro.

A ciência e a tecnologia só poderão materializar seu tremendo potencial quando se liberarem do abraço sufocante da economia de mercado e se colocarem a serviço da humanidade em um sistema de produção democrático e racional, em que se prime pelas necessidades da sociedade e não os lucros. Isto nos permitiria reduzir as horas de trabalho ao mínimo, liberando, assim, aos homens e mulheres de longas jornadas de escravidão no trabalho e, conseqüentemente, lhes permitindo desenvolver o potencial físico, intelectual ou espiritual que possam ter. Este é o salto da humanidade "do reino da necessidade ao reino da liberdade".

Depois da queda da União Soviética os defensores da velha ordem estavam exaltados. Falavam do fim do socialismo e, inclusive, do fim da história. Nos prometeram uma nova era de paz, prosperidade e democracia, graças aos milagres da economia de livre-mercado. Agora, apenas quinze anos depois, estes sonhos se reduziram a um montão de cinzas. Não fica pedra sobre pedra destas ilusões. Os problemas sérios requerem medidas sérias. Não é possível curar o câncer com uma aspirina! O que faz falta é uma transformação real da sociedade. O problema fundamental é o próprio sistema. Aqueles especialistas econômicos que afirmavam que Marx não tinha razão e que as crises capitalistas eram águas passadas (o "novo paradigma econômico") demonstraram estar equivocados.

O último boom econômico teve todas as características do ciclo econômico descrito por Marx há muito tempo. O processo de concentração de capital alcançou níveis assombrosos. Houve uma orgia de fusões e um aumento da monopolização, alcançando proporções inimagináveis. Este processo não levou, como no passado, ao desenvolvimento das forças produtivas. Fecharam fábricas como se fossem caixas de papelão e milhares de pessoas ficaram sem emprego. Agora este processo se acelerará, à medida que o número de bancarrotas e fechamentos aumente com o passar dos dias.

Qual o significado de tudo isto? Estamos presenciando a dolorosa agonia de um sistema social que não consegue viver, mas que se nega a morrer. Isso não é surpreendente. Toda a história nos demonstra que nenhuma classe dominante renuncia a seu poder e privilégios sem lutar. Essa é a explicação real das guerras, o terrorismo, a violência e a morte, que são as características da época em que vivemos. Mas também presenciamos as dores de parto de uma nova sociedade, uma sociedade justa, um mundo adequado para que vivam homens e mulheres. Através destes acontecimentos sangrentos, em um país após outro, está nascendo uma nova força, a força revolucionária dos trabalhadores, camponeses e jovens.

George Bush está embriagado de poder e imagina que o seu poder não tem limites. Desgraçadamente, há alguns na esquerda que crêem o mesmo. Mas estão equivocados. Uma onda revolucionária percorre a América Latina. A revolução venezuelana foi um terremoto que provocou ondas sísmicas em todo o continente. O movimento das massas na América Latina é a resposta final a todos os que dizem que a revolução já não é possível. Não somente é possível, senão absolutamente necessária, caso queira evitar um desastre para o mundo em um futuro próximo.

Milhões de pessoas começaram a reagir. As massivas manifestações contra a Guerra do Iraque levaram milhões de pessoas às ruas. Esse foi um sinal do início de um despertar. Mas o movimento carecia de um programa coerente para transformar a sociedade. Acabou-se o tempo para os cínicos e céticos. É o momento de os deixar de lado e ir lutar. A nova geração está disposta a lutar por sua emancipação. Busca uma bandeira, uma idéia e um programa que possa inspirá-la e dirigi-la à vitória. Isso só pode ser a luta pelo socialismo em escala mundial. A escolha que a humanidade tem diante de si mesma é: socialismo ou barbárie.

3.2. Pelos Estados Socialistas Unidos da Europa!

O potencial produtivo da Europa é tremendo. Com uma população de 497 milhões e uma renda per capita de 32.300 dólares, é uma força formidávell que poderia potencialmente desafiar aos poderosos Estados Unidos. Mas este potencial nunca se materializará sob o capitalismo. Todas as tentativas de avanços na unificação da Europa se chocaram contra a rocha dos interesses nacionais enfrentados. O início da recessão servirá para aprofundar estas divisões e para por um sinal de interrogação sobre o futuro da mesma União Européia.

A formação da União Européia foi uma admissão tácita ao fato de que é impossível resolver os problemas da economia dentro dos limites estreitos do mercado nacional. Mas sobre bases capitalistas a unidade da Europa não conseguirá jamais. Em uma crise afloram as contradições entre os capitalistas dos distintos Estados nacionais. A crise atual trouxe à luz as fissuras ocultas e demonstrou a ausência de sentido que representa toda a demagogia sobre a unidade européia. Apesar das afirmações de Sarkozy, as relações entre os líderes europeus são muito tensas, sem falar das relações entre os líderes da França e Alemanha, os dois países-chave da União Européia.

A declaração unilateral do governo alemão de "garantir" o bilhão de euros dos depósitos bancários privados desse país deixou desprevenidos os demais governos da UE e representou uma pisada de bola sobre a promessa de cooperação européia, alcançada previamente na mini-cúpula de Paris, à qual participaram os líderes da França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália. A ação alemã representava a ameaça de sacar as poupanças dos bancos em outros países para levá-las aos bancos alemães. Os outros países estavam furiosos. Mas qual é a diferença entre isto e a declaração do Governo Irlandês de garantir todos os depósitos de seus seis principais bancos durante dois anos? Ou a promessa freqüente do Governo Britânico de que adotaria "todas as medidas possíveis" para proteger os detentores de poupanças? Ou a promessa de Sarkozy de que os franceses que têm poupanças privadas não perderiam nem "um só euro"?

Esta ação demonstrou a hipocrisia da Comissão Européia, que está questionando a medida irlandesa, porém mais tarde não disse nada da "promessa" de Berlim. Qual é a diferença entre Irlanda e Alemanha? A Irlanda é um país pequeno e a Alemanha grande, além de controlar o pulso da União Européia. Uma sucessão de governos da UE aprovou garantias semelhantes, incluindo a Suécia, Dinamarca, Áustria e Portugal, para evitar que os detentores de poupanças fugissem para os bancos alemães (ou irlandeses).

Na realidade, cada governo nacional tenta colocar em primeiro lugar seus próprios interesses. As suspeitas mútuas dos governos da UE vêm à tona tão logo eles estejam enfrentados a uma crise. Cada governo deve lutar para afrontar o pânico que se extende desde o outro lado do Atlântico, mediante instituições financeiras européias. Washington, com um governo e um sistema político, tem dificuldades para fazer frente à crise global de crédito. A UE tem uma única moeda e um só mercado, mas 27 governos, sem um sistema global de supervisão bancária ou governo econômico.

É impossível unir economias que puxam para diferentes direções e os governos europeus estão pagando o preço de criar uma moeda única sem as instituições ou sistema regulador capaz de manejar uma única economia. No próximo período, inevitavelmente, aparecerão tendências protecionistas. As tentativas dos governos individuais de atrair bilhões de euros em poupanças de outros países são uma antecipação da política de "repulsa ao vizinho", que podemos esperar na medida em que se aprofunde a crise.

Sylvester Eijffinger, da Universidade de Tilburg, assessor monetário do parlamento europeu, disse o seguinte: "Isto é uma chamada de atenção. Primeiro tivemos integração econômica, depois tivemos integração monetária. Mas nunca desenvolvemos uma integração política e reguladora paralela que nos permitisse afrontar uma crise como a que hoje nos enfrentamos". São tais as tensões entre os Estados nacionais que no próximo período inclusive poderia se colocar em questão a própria existência do euro. Não é inconcebível que a UE possa romper ou ao menos sair com suas estruturas radicalmente alteradas e que a UE fique reduzida a pouco mais que uma débil união aduaneira.

A UE, na verdade, é um clube capitalista dominado pelos bancos e grandes monopólios dos Estados membros. Os novos Estados membros da Europa do Leste são utilizados como uma fonte de mão-de-obra barata, com preços "europeus" e salários "do Leste". Por outro lado, a UE é um bloco imperialista que explora as antigas colônias dos países europeus na África, Oriente Médio, Ásia e no Caribe. Não há nada de progressista nisso. A única forma de conseguir o verdadeiro potencial da Europa é com o estabelecimento de uma federação socialista, que integraria as forças produtivas da Europa em um plano comum. Isto se combinaria com a máxima autonomia para todos os povos da Europa, incluindo bascos, catalães, escoceses, galeses e demais nacionalidades e minorias nacionais e lingüísticas. Estabelecer-se-ia a base para uma solução pacífica e democrática do problema nacional em países como Irlanda ou Chipre. A federação socialista se formaria estritamente sobre bases voluntárias com total igualdade para todos os cidadãos.

Exigimos:

• Não à Europa dos burocratas, bancos e monopólios!

• Expropriação dos bancos e monopólios, criação de um plano socialista de produção integrado e democrático.

• Fim de toda discriminação contra os imigrantes, mulheres e jovens. Pelo trabalho igual, igual salário!

• Desenvolvimento de laços entre os ativistas sindicais da Europa e em escala global. Por uma frente única de trabalhadores combativos contra as grandes transnacionais!

• Pelos Estados Socialistas Unidos da Europa!

3.3. Leste Europeu, Rússia e China

O começo da recessão na Europa ocidental está agravando os problemas das chamadas economias emergentes do Leste Europeu, onde os investidores estão se desfazendo de seus ativos de maior risco e se voltando a destinos mais seguros. As economias relativamente débeis do Leste Europeu pagarão um preço caro pela sua entrada na economia capitalista mundial. Já se esperam quedas bruscas do crescimento e um aumento da pobreza na Rússia, Ucrânia e Romênia. Apesar do crescimento econômico de algumas zonas do Leste Europeu, o crescimento per capita do PIB para a região em geral está estimado por volta do zero.

A Hungria se prepara para a "realidade da recessão" e se espera que o PIB se encolha no próximo ano, segundo reconhece o primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany. O governo, quando elaborou o orçamento para o próximo ano, esperava que o PIB crescesse cerca de 3%. Agora se enfrenta a grandes cortes e ao aumento do desemprego. A crise financeira chega só dois anos depois de Gyurcsany ter aumentado os impostos e reduzir os empregos do setor público e as ajudas aos produtos energéticos para as famílias, com a intenção de reduzir o grande déficit público que tinha com a União Européia.

O Governo Húngaro se viu obrigado a buscar um empréstimo urgente de cinco bilhões de euros no Banco Central Europeu. Sufocado pelo abraço dos banqueiros internacionais, a Hungria terá que reduzir o gasto público para tentar rebaixar o déficit público. Como sempre, serão os trabalhadores e camponeses os que pagarão a fatura. O governo propõe congelamento dos salários, supressão das bonificações aos trabalhadores públicos e reduzir o déficit orçamentário a cerca de 2,6% do PIB. A Polônia e outros países do Leste Europeu estão só um passo atrás da Hungria.

Os povos do Leste Europeu se uniram à UE com a idéia de que desfrutariam do tipo de nível de vida que viam na Alemanha ou França. Mas estas ilusões prontamente se comprovaram que eram falsas. Uma pequena minoria da população enriqueceu graças ao roubo da propriedade pública através das privatizações. Mas a maioria dos poloneses, tchecos, eslovacos e húngaros não tirou nenhum benefício do regresso ao capitalismo. Durante o boom foram explorados como mão-de-obra barata nos países mais ricos. Agora o Leste Europeu se depara com uma bancarrota. E o colapso econômico do Leste Europeu arrastará as economias da Áustria e de outros países da UE muito expostos nesta região.

Em nenhuma outra parte da Europa as conseqüências da restauração capitalista têm sido tão sérias como nos Bálcãs. A divisão da Iugoslávia foi um ato criminoso que levou a uma série de guerras fratricidas, terrorismo, assassinato de massas e genocídio. Esta monstruosa situação teve conseqüências catastróficas para milhões de pessoas que antes desfrutavam de um bom nível de vida, paz e pleno emprego. Agora muitos olham para trás e sentem nostalgia da velha Iugoslávia. O capitalismo não lhes trouxe outra coisa senão a guerra, miséria e sofrimento.

A situação à qual se enfrenta a Rússia não é muito melhor. Aqui a contradição é ainda mais evidente do que no Leste Europeu. A restauração do capitalismo não tem beneficiado à gigantesca maioria dos cidadãos da antiga União Soviética. Criou-se uma oligarquia obscenamente rica, que está estreitamente vinculada aos elementos criminosos. Mas é uma ínfima minoria. Para milhões de russos, as duas décadas passadas só significaram miséria, fome, sofrimento e humilhação. Levou ao colapso dos serviços de saneamento e de educação, que eram gratuitos para todos os cidadãos nos tempos soviéticos, assim como o colapso da cultura, o empobrecimento geral e a desigualdade.

Durante algum tempo as pessoas pensaram que o pior havia passado e que a economia se recuperava da profunda recessão que sucedeu o colapso da URSS. Mas agora a Rússia enfrenta a pior crise financeira desde o colapso de 1998. A queda do preço do petróleo, um reflexo da recessão mundial da demanda, empurrou a economia para a crise. O ambiente anterior de otimismo em Moscou evaporou-se depois das abruptas quedas da bolsa, que teve de fechar devido à intensa turbulência. Como o conto de fadas da bruxa Baba Yaga, o capitalismo russo é uma cabana construída sobre patas de galinhas. A crise se revela no reduzido volume da construção civil, nas redundâncias e nas restrições para abrir novas linhas de crédito para empresas privadas.

A crise obrigou o governo a seguir o caminho de Washington e Londres, gastando bilhões de dólares de dinheiro público para resgatar empresas privadas. Foram destinados mais de 200 bilhões de dólares a empréstimos, reduções de impostos e outras medidas. Mas os cidadãos russos comuns se perguntaram por que o dinheiro público deveria ser utilizado para o resgate dos oligarcas que enriqueceram saqueando o Estado durante o último período. Se argumentam que a empresa privada e o mercado são superiores à economia nacionalizada e planificada, por que o setor privado agora necessita de ajuda do Estado?

A situação é ainda pior em outras antigas repúblicas soviéticas, como é o caso da Ucrânia, onde a pobreza segue acompanhada de instabilidade política, corrupção e caos. Para os povos do Cáucaso e Ásia Central tem sido uma absoluta calamidade. Geórgia, Armênia e Azerbaijão estão em uma situação de guerra constante e as massas, ainda por cima, suportam a pesada carga dos gastos militares. O terrorismo se estende desde a Chechenia ocupada às outras repúblicas. A guerra no Afeganistão ameaça desestabilizar não só o Paquistão, senão também toda a Ásia Central.

Há um velho ditado que diz: "A vida ensina". Muita gente na Rússia, Ucrânia e Leste Europeu agora dizem: "tínhamos problemas antes, mas ao menos tínhamos pleno emprego, uma casa, serviço sanitário e educação gratuitos". Agora estes países enfrentam a ruína e o desemprego de massas. Os povos do Cáucaso anseiam o regresso à paz e à estabilidade. Ninguém quer um regresso à burocracia ou à ditadura totalitária. Mas um regime genuinamente socialista, como o regime de democracia operária estabelecido por Lênin e Trotsky depois da Revolução de Outubro. Isto não tem nada em comum com a grotesca caricatura stalinista que surgiu após a morte de Lênin.

Isto foi o resultado do isolamento da revolução em condições de atraso extremo. Mas agora, sobre a base do avanço da indústria, da ciência e da tecnologia, alcançada durante os últimos noventa anos, se criaram as condições objetivas para um avanço rápido ao socialismo. O que faz falta é o estabelecimento de uma federação socialista voluntária, onde a economia esteja nas mãos do Estado, e o Estado esteja sob controle democrático dos trabalhadores e camponeses. Mas a condição prévia para isto é a expropriação dos oligarcas, banqueiros e capitalistas.

A crise mundial está tendo um impacto importante na economia chinesa. O crescimento econômico chinês depende muito das exportações e no pico deste recente boom, a taxa anual de crescimento das exportações alcançou a cifra de 38% (no terceiro trimestre). Agora a cifra do último trimestre revelou uma queda próxima dos 2% e com ela vimos, também, uma importante desaceleração dos pedidos manufatureiros nos últimos meses. Os comentaristas burgueses sérios discutem agora se a produção chinesa sofrerá uma "desaceleração gradual" ou uma "queda abrupta".

Stephen Green, especialista em economia chinesa da Standard Chartered, prognosticou que as exportações poderiam cair até "zero ou inclusive ter um crescimento negativo" no próximo ano. O estreito elo da China com a economia mundial se viu em um recente cálculo da JP Morgan Chase que prevê uma queda de 5,7% das exportações chinesas por cada ponto percentual que caia o crescimento econômico global. Isto é supor fechamentos massivos de fábricas em toda a China, com milhões de trabalhadores enfrentando o desemprego.

Em 2007 o crescimento foi de 12%, e em 2008 já desacelerou até os 9%, mas a queda poderia ser ainda maior. Na zona que rodeia Hong Kong, mais de dois milhões de trabalhadores poderiam perder seus empregos nos próximos meses. Isto vem acompanhado do inchaço da bolha imobiliária e uma queda brusca dos preços imobiliários, deixando a muitas famílias chinesas com um valor negativo, ou seja, uma hipoteca que supera o valor do preço de suas residências. Isto está tendo um impacto no mercado interno. A resposta do governo chinês foi recorrer a um pacote econômico para estimular o crescimento.

Necessitam manter um crescimento superior a oito por cento para conseguir certo grau de estabilidade social. É verdade que a China acumulou enormes reservas. Mas estas não compensarão a perda de mercados exteriores quando a economia mundial se afunda mais ainda em recessão. Como resultado desta situação, está se estendendo o mal-estar no movimento operário e já houve uma onda de protestos para exigir o pagamento dos salários, com bloqueio de estradas e piquetes nas fábricas. Como na Rússia e Leste Europeu, igualmente na China haverá uma violenta reação contra o capitalismo. As idéias do marxismo ganharão terreno e prepararão o caminho para um movimento novo e irresistível ao socialismo.

Exigimos:

• Não à privatização! Pelo abandono da economia de mercado!

• Abaixo aos oligarcas e os novos ricos! Pela re-nacionalização das empresas privatizadas sem compensação!

• Pela democracia operária!

• Abaixo a burocracia e a corrupção! Os sindicatos devem defender os direitos dos trabalhadores!

• Os partidos comunistas devem defender uma política comunista! Regresso ao programa de Marx e Lenin!

• Pela re-introdução do monopólio estatal do comércio exterior!

3.4. A crise do "Terceiro Mundo"

A crise atual, sem dúvida, golpeará mais duramente os países pobres da África, Oriente Médio, Ásia e América Latina. Inclusive durante o boom, a grande maioria obteve pouco ou nenhum ganho. Em todos os países se produziu uma extrema polarização entre os ricos e pobres. Os 2% mais ricos da população do planeta agora têm mais da metade da riqueza mundial. Um bilhão e duzentos milhões de homens, mulheres e crianças vivem em condições de absoluta pobreza. Oito milhões morrem a cada ano como conseqüência da pobreza. Isto é o melhor que o capitalismo pôde oferecer. O que ocorrerá agora?

Além do colapso das exportações, que afetará a todas as mercadorias (exceto o ouro e a prata), incluindo o petróleo, agora se enfretam ao aumento do custo dos alimentos, o que em grande medida é resultado da especulação. Um informe recente do Banco Interamericano avisava que o custo dos alimentos empurrará 26 milhões de pessoas na América Latina para a pobreza absoluta. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, avisou de que os mais pobres do mundo enfrentarão um "perigo triplo" de: alimentos, combustíveis e finanças. "Não se pode pedir aos mais pobres que paguem o preço mais alto. Calculamos que mais outras 44 milhões de pessoas sofrerão este ano de má nutrição devido aos altos preços dos alimentos. Não podemos permitir que a crise financeira se converta em uma crise humanitária". São belas palavras, mas como um velho ditado britânico diz: Belas palavras não põem manteiga no pão!

A pobreza e a fome aumentarão devido à crise financeira mundial e às medidas de "ajuste estrutural" do livre mercado ditadas pelo FMI. Isto é uma conclusão inevitável do último informe sobre a pobreza global, publicado pelo Banco Mundial. O Banco revelou que o número de pessoas obrigadas a viver com menos de um dólar diário estava aumentando e poderia alcançar 1 bilhão e meio de pessoas ao final deste ano. Aproximadamente 200 milhões de pessoas caíram na absoluta pobreza desde os últimos cálculos de 1993. Espera-se um crescimento negativo do PIB per capita no Oriente Médio e no norte da África. Resumindo a situação, o Diretor de Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico do Banco Mundial, Michael Walton, disse: "A imagem global que emergiu no fim dos anos 90 era de estancamento do progresso como resultado da crise do Sudeste Asiático, aumentando o número de pobres na Índia, continuando a aumentar na África subsaariana e uma profunda piora na Europa e Ásia Central".

Só na Indonésia, a proporção de seres humanos obrigados a viver com menos de um dólar por dia aumentou de 11%, em 1997, a 19,9% em 1998, com 20 milhões a mais de pessoas nas filas dos "novos pobres"; equivalente a uma nação de tamanho médio como a Austrália. Na Coréia do Sul, a incidência da pobreza urbana passou dos 8,6%, em 1997, para 19,2% em 2007. O número de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia na Índia aumentou para 340 milhões, de uma estimativa de 300 milhões no fim dos anos 80. Os últimos dados sobre o estancamento salarial nas zonas rurais sugeriram um novo aumento das taxas de pobreza nesse país. E esta era a situação com um auge econômico, com taxas de crescimento próximas aos 10% anuais. As cifras oficiais calculam que o crescimento econômico já começa a desacelerar-se. Em agosto de 2008 o crescimento industrial foi de 1,3% anual, um resultado miserável comparado com um crescimento superior aos 10% do ano anterior.

O FMI exige dos países pobres que abram seus mercados para a penetração do capital internacional. Exige cortes do gasto governamental, eliminação dos subsídios aos alimentos e outros produtos de consumo popular e a privatização das empresas públicas. O objetivo declarado é conseguir um "crescimento econômico sustentável". Na realidade, significa a destruição de suas indústrias nacionais, a agricultura e um abrupto aumento do desemprego e da pobreza.

Um estudo recente revelava a existência de uma transferência líquida de pagamentos superior a um bilhão de dólares dos governos africanos ao FMI em 1997 e 1998. Entretanto, apesar do aumento destas devoluções, a dívida total africana continuou aumentando em 3%. Apesar dos países africanos necessitarem urgentemente aumentar os gastos em saúde, educação e cuidados sanitários, as medidas de ajuste estrutural do FMI os obrigam a cortar estes gastos, o gasto per capita em educação entre 1986 e 1996 caiu.

A catástrofe do "Terceiro Mundo" é promovida artificialmente. Não é automática. Prontamente, na primeira década do século XXI, ninguém teria que passar fome por necessidade. O dinheiro que se entregou aos bancos poderia ter solucionado o problema da fome mundial, salvando milhões de vidas. Em junho de 2008, a FAO pediu 30 bilhões de dólares para estimular a agricultura e evitar futuras escassezes alimentícias. Só recebeu 7.5 bilhões de dólares, pagos em quatro anos, o que supõe, aproximadamente, 1,8 bilhões de dólares por ano. Este é o equivalente a dois dólares diários por pessoa que passa fome.

É habitual no Ocidente colocar a "solução" dos problemas destes países em termos de ajuda. Pede-se aos países "ricos" que dêem mais dinheiro aos países "pobres". Mas, em primeiro lugar, as quantidades mesquinhas da suposta ajuda representam só uma parte minúscula da riqueza que se retira da Ásia, África, Oriente Médio e América Latina. Em segundo lugar, esta ajuda, com freqüência, está vinculada a interesses comerciais, militares ou diplomáticos dos países doadores e, portanto, significa uma maneira de incrementar a subordinação das antigas colônias nacionais a seus antigos amos.

Em qualquer caso, é inaceitável que países com enormes recursos fiquem reduzidos a buscar a caridade, como mendigos pedindo as migalhas da mesa do rico. A condição prévia é romper o domínio do imperialismo e derrotar o domínio dos governantes corruptos locais, que não são mais que os garotos de recado locais do imperialismo e as grandes empresas transnacionais. Nem a ajuda nem a caridade, senão uma transformação radical da sociedade é a resposta à pobreza global.

Em muitos países a classe operária, depois de anos de abatimento e esgotamento, está tomando o caminho da luta. A luta do povo palestino contra a opressão israelense continua. Mas é a poderosa classe operária de países como África do Sul, Nigéria e Egito que representa a chave do futuro. No Egito temos presenciado uma onda de greves e ocupações de fábricas contra a privatização e em defesa do emprego, incluindo a vitoriosa greve com ocupação de fábricas dos mais de 20.000 trabalhadores do complexo têxtil de Mahalla. Os trabalhadores iranianos também estão em marcha. Houve uma importante onda de greves, nas quais participaram muitos setores da classe operária: condutores de ônibus, marinheiros, ferroviários, têxteis, trabalhadores da cana-de-açúcar de Haft-Tapeh, petróleo e outros setores. Estas greves começam com reivindicações econômicas, mas dada a natureza do regime, inevitavelmente assumem um caráter cada vez mais político e revolucionário.

Na Nigéria, os trabalhadores protagonizaram uma série de greves gerais (8 nos último 8 anos!), paralisando o país e colocando a questão do poder, mas sendo fraudados pelos dirigentes sindicais uma vez atrás da outra. Na África do Sul também, o poderoso movimento operário organizou uma greve geral após outra, sendo as mais recentes em junho de 2007 e agosto de 2008. Temos visto impressionantes movimentos dos trabalhadores em Marrocos, Jordânia, Líbano e também em Israel, esse bastião de reação no Oriente Médio. Também houve movimentos de massas de trabalhadores e camponeses no Paquistão, Índia, Bangladesh e Nepal, onde levaram à derrocada da monarquia.

A América Latina está imersa em um movimento revolucionário desde a Terra do Fogo até o Rio Grande, com a Venezuela à vanguarda. As convocações de Hugo Chávez em defesa do socialismo não caíram em ouvidos surdos. A idéia do socialismo regressou à ordem do dia. Na Bolívia e Equador o movimento de massas contra o capitalismo e o imperialismo está avançando, apesar da resistência dos oligarcas apoiados por Washington. É necessário colocar na ordem do dia a luta pela política da classe operária, a solidariedade proletária internacional e a luta pelo socialismo como a única solução duradoura aos problemas das massas.

Exigimos:

• Cancelamento imediato de todas as dívidas do Terceiro Mundo!

• Abaixo o latifúndio e o capitalismo!

• Expropriação dos grandes latifúndios e pela reforma agrária! Onde for possível, as grandes fazendas devem ser administradas de forma coletiva, utilizando métodos modernos de agricultura para impulsionar a produção.

• Liberação do domínio imperialista! Nacionalização da propriedade das grandes transnacionais!

• Programa urgente para acabar com o analfabetismo e criar uma mão-de-obra qualificada e formada.

• Livre acesso ao serviço sanitário para todos.

• Não à opressão da mulher! Plena igualdade legal, social e econômica para a mulher!

• Não à corrupção e a opressão! Plenos direitos democráticos; derrubada dos meninos de recado [governos] locais do imperialismo!

3.5. Não ao imperialismo!

O aspecto mais destacável da situação atual é o caos e a turbulência que afeta a todo o planeta. Existe instabilidade em todos os níveis: econômico, social, político, diplomático e militar. Em todas as partes há guerras ou a ameaça de guerra: a invasão do Afeganistão foi seguida pela ocupação ainda mais sangrenta e criminosa do Iraque. Em todas as partes tem havido guerras: nos Bálcãs, no Líbano e Gaza, a guerra de Darfur, na Somália, na Uganda. No Congo cerca de 5 milhões de pessoas foram massacradas nos últimos anos, a ONU e a chamada comunidade internacional não moveram um dedo.

Consciente de seu enorme poder, Washington substitui a diplomacia "normal" pela agressividade mais vergonhosa. Sua mensagem é brutalmente clara: "faça o que dizemos ou do contrário os bombardeamos ou lhe invadiremos". O antigo presidente do Paquistão, o general Pervez Musharraf, revelou que pouco depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, os EUA ameaçaram bombardear seu país até "devolvê-lo à Idade da Pedra" se não oferecesse sua cooperação na luta contra o terrorismo e os talibãs. Agora Musharraf se foi e a força aérea norte-americana bombardeia o território paquistanês.

O imperialismo norte-americano invadiu o Iraque com o falso pretexto de que tinha armas de destruição em massa. Disseram que Saddam Hussein era um ditador brutal que assassinou e torturou seu próprio povo. Agora a ONU teve que admitir que no Iraque ocupado o assassinato e a tortura massiva são algo endêmico. Segundo uma recente enquete, 70% dos iraquianos pensam que vivem pior hoje do que com Saddam.

A "guerra contra o terrorismo" provocou mais terrorismo em escala mundial do que nunca. Ali onde põem os pés os imperialistas norte-americanos, causam a destruição e o sofrimento mais terríveis. As espantosas cenas de morte e destruição no Iraque e Afeganistao recordam as palavras do historiador romano Tácito: "Criaram um deserto e o chamaram paz". Mas, comparado com o poder do imperialismo norte-americano, o poder do Império Romano era um jogo de crianças. Não contente em saquear o Iraque, Washington ameaça a Síria e o Irã. Conseguiram desestabilizar a Ásia Central. Constantemente tentam derrubar o governo eleito democraticamente da Venezuela e assassinar o presidente Chávez. Conspira para reduzir Cuba novamente ao status de semi-colônia e organizar atentados terroristas contra ela.

A maioria das pessoas repudia estas barbaridades. Parece que o mundo, de repente, enlouqueceu. Entretanto, esta resposta é inútil e contraproducente. A situação atual à qual se enfrenta a raça humana não se pode explicar com uma expressão da loucura ou a crueldade inerente a homens e mulheres. O grande filósofo Spinoza disse em certa ocasião: "Nem rir, nem chorar. Mas compreender". É um conselho sério: se não somos capazes de compreender o mundo no qual vivemos, nunca seremos capazes de transformá-lo. A história não é algo sem sentido. Pode-se explicar, e o marxismo oferece uma explicação científica.

Não tem sentido se aproximar à guerra desde um ponto de vista sentimental. Clausewitz já há algum tempo disse que a guerra é a continuação da política por outros meios. Este caos sangrento reflete algo. É um reflexo das contradições insolúveis às que se enfrenta o imperialismo em escala mundial. São as convulsões de um sistema sócio-econômico que se encontra em um beco sem saída. Vimos situações similares antes na história do mundo, como no largo declive do Império Romano ou no período de agonia do feudalismo. A atual instabilidade global é só um reflexo do fato de que o sistema capitalista esgotou seu potencial histórico e não é mais capaz de desenvolver as forças produtivas como o fez no passado.

O capitalismo senil, assediado por contradições insolúveis por todos os lados, encontra sua contrapartida no imperialismo mais brutal que o mundo já viu. A galopante corrida armamentista está consumindo uma porção cada vez maior da riqueza criada pela classe operária. Os EUA, que agora são a única superpotência mundial, cada ano gastam 600 bilhões de dólares em armas. Contam com quase 40% do gasto militar mundial. Diferentemente, Grã-Bretanha, França e Alemanha representam somente 5%, cada um, enquanto a Rússia, incrivelmente, só conta com aproximadamente 6%. Esta situação representa uma ameaça para o futuro da humanidade.

As enormes somas de dinheiro gastas em armas seriam por si só suficientes para resolver o problema da pobreza mundial. Segundo alguns cálculos, só o custo total da guerra do Iraque custará 3 trilhões de dólares aos EUA. Todo o mundo sabe que isto é uma loucura. Mas o desarmamento só se pode conseguir com uma transformação fundamental da sociedade. A liquidação do imperialismo só se pode conseguir liquidando o capitalismo e o domínio dos bancos e monopólios, estabelecendo uma ordem mundial racional, baseado nas necessidades da população e não na luta voraz por mercados, matérias-primas e esferas de influência, que é a causa real da guerra.

Exigimos:

• Oposição às guerras reacionárias do imperialismo.

• Retirada imediata de todas as tropas estrangeiras do Iraque e Afeganistão.

• Corte drástico do gasto inútil em armas e aumento massivo do gasto social.

• Plenos direitos civis para os soldados, incluindo o direito de filiar-se em um sindicato e o direito de greve.

• Defesa da Venezuela, Cuba e Bolívia contra os planos agressivos de Washington.

• Contra o racismo! Defesa dos direitos de todos os povos oprimidos e explorados! Pela unidade de todos os trabalhadores, independentemente da "raça", cor, nacionalidade ou religião!

• Pelo internacionalismo proletário! Trabalhadores do mundo, uní-vos!

3.6. Por um mundo socialista!

Não se pode planificar ou regular o mercado. Não responde às medidas tomadas pelos governos nacionais. O presidente do Banco Mundial admitiu isso quando disse: "O G7 não funciona. Necessitamos de um grupo melhor para um tempo melhor". Mas os tempos melhores não estão à vista. O FMI não pode resolver a situação de todo o mundo. A crise, à qual nos enfrentamos agora, é mundial. Nenhum país pode escapar. A crise é global e exige uma solução global. Esta só pode chegar com o socialismo.

Na Idade Media a produção se limitava ao mercado local. Inclusive para transportar mercadorias de uma cidade a outra devia se pagar impostos, pedágio e outros direitos. A eliminação destas restrições feudais, o estabelecimento de um mercado nacional e um Estado nacional foram as condições prévias para o desenvolvimento do capitalismo moderno. No século XXI, entretanto, os Estados nacionais e o mercado nacional são demasiadamente estreitos para conter o fabuloso desenvolvimento da indústria, agricultura, ciência e tecnologia. Em lugar de uma série de economias nacionais, surgiu o mercado mundial. Karl Marx já previu esta situação no brilhante prognóstico que fez em "O Manifesto Comunista", há mais de 160 anos. O grandioso domínio do mercado mundial agora é a característica mais importante da época moderna.

Em seu primeiro período, o capitalismo jogou um papel progressista, derrubando as velhas barreiras e restrições feudais, criando o mercado mundial. Mais tarde, a expansão do capitalismo criou o domínio do mercado mundial, que é a característica mais importante da época moderna. A chegada da globalização é uma expressão do feito de que o crescimento das forças produtivas superou os estreitos limites do Estado nacional. Entretanto, a globalização não elimina as contradições do capitalismo. Só as reproduz a uma escala muito maior. Durante um tempo, o capitalismo conseguiu superar suas contradições, aumentando o comércio mundial (globalização). Os capitalistas encontraram novos mercados e lugares para o investimento na China e outros países. Mas agora este processo alcançou seus limites.

A crise atual é, em última instância, uma expressão da rebelião das forças produtivas contra a camisa de força da propriedade privada e do Estado nacional. A crise atual tem um caráter global. A globalização se revela como uma crise global do capitalismo. É impossível resolvê-la sobre as bases nacionais. Todos os especialistas estão de acordo de que os problemas aos quais se enfrenta o planeta não podem ser resolvidos sobre bases nacionais. O problema da fome mundial em grande medida se exacerbou com a produção dos biocombustíveis nos EUA. Tudo isto vai de acordo com os interesses das grandes empresas agrárias e de ninguém mais. Só uma economia global planificada pode por freio a esta loucura.

Em sua busca insaciável por lucro, o sistema capitalista pôs em perigo todo o planeta. Um sistema econômico que destroça o planeta em busca de pilhagem, que destrói o meio ambiente, que põe abaixo as florestas tropicais, que envenena o ar que respiramos, a água que bebemos e a comida que comemos, não merece viver. As avenidas de nossas grandes cidades estão congestionadas com veículos privados. Só em 2003, o congestionamento do tráfico levou as pessoas a dedicarem 7 bilhões de horas e desperdiçarem 22 bilhões de litros de combustível na paralisação do tráfego. A ausência de planificação leva ao colapso da infra-estrutura, do transporte e ao deterioramento do meio ambiente, provocado pela emissão de gases poluentes e a contaminação atmosférica - cerca de 60 a 70% do qual é provocado por veículos.

Deixemos de lado o tremendo custo humano desta loucura: os acidentes, as pessoas mortas e mutiladas nas estradas, a tensão insuportável, as condições desumanas, o ruído e o caos. Mesmo assim a perda de produtividade é colossal. E, entretanto, tudo isto poderia resolver-se facilmente com um bom sistema integrado de transporte público gratuito ou quase gratuito de qualidade. Os transportes aéreos, rodoviários, ferroviários e marítimos deveriam ser de propriedade pública e integrados racionalmente para servir às necessidades humanas.

A continuação do capitalismo não só é uma ameaça para os empregos e níveis de vida; é uma ameaça para o futuro do planeta e para a vida sobre a Terra.

3.7. É uma utopia?

Com o aumento da participação nos mercados mundiais, os banqueiros e capitalistas conseguiram fabulosos lucros durante o último período. Mas este processo agora alcançou seu limite. Todos os fatores que serviram para empurrar para cima a economia mundial durante o último período, agora se combinam para provocar uma espiral descendente. A demanda, que se expandiu artificialmente graças às baixas taxas de juros, agora se contraiu abruptamente. A severidade da "correção" reflete a exagerada confiança e a "exuberância irracional" do período anterior.

Assim como no período da decadência feudal as velhas barreiras, os pedágios de vias, os impostos e as moedas locais tinham se convertido em obstáculos intoleráveis para o desenvolvimento das forças produtivas, os atuais Estados nacionais com suas fronteiras nacionais, passaportes, controles à importação, restrições da imigração e alfandegagens protecionistas se converteram em barreiras que impedem o livre movimento de mercadorias e pessoas. O livre desenvolvimento das forças produtivas, a única garantia real para o desenvolvimento da civilização humana e a cultura, exige a supressão de todas as fronteiras e o estabelecimento de uma comunidade mundial.

Tal desenvolvimento só será possível sob o socialismo. A condição prévia é a abolição da propriedade privada dos pontos-chave da economia: a propriedade comum da terra, os bancos e as principais indústrias. Um plano de produção comum é a única maneira de mobilizar o colossal potencial da indústria, a agricultura, a ciência e a técnica. Isso significaria um sistema econômico baseado na produção para as necessidades de muitos, não para o lucro de uns poucos.

Uma federação socialista da Europa, América Latina ou do Oriente Médio, abriria um tremendo e novo panorama para o desenvolvimento humano. O objetivo final é a Federação Socialista Mundial, onde os recursos de todo o planeta se dediquem ao benefício de toda a humanidade. As guerras, o desemprego, a fome e a privação se converteriam só em uma má lembrança do passado, como um pesadelo já meio esquecido.

Alguns dirão que se trata de uma utopia, ou seja, algo que não se pode conseguir. Mas se a um camponês medieval lhe houvéssemos explicado a perspectiva de uma economia mundial com computadores e viagens ao espaço, haveria reagido exatamente da mesma maneira. E olhe bem, é realmente tão difícil? O potencial das forças produtivas permitiria solucionar facilmente todos os problemas que atormentam a humanidade: pobreza, falta de habitação, fome, enfermidade e analfabetismo. Os recursos estão aí. O que faz falta é um sistema econômico racional que possa colocá-los em funcionamento.

As condições objetivas para o socialismo já existem. É realmente uma utopia? Só os céticos mais míopes, sem um conhecimento da história ou visão do futuro, poderiam dizer isso. A pergunta que devemos fazer é a seguinte: é aceitável que na primeira década do século XXI as vidas, os empregos e as habitações de todo o mundo se decidam da mesma maneira que um jogador lança os dados em um cassino? Realmente cremos que a humanidade não merece um sistema melhor que o jogo cego das forças do mercado?

Os defensores do chamado "livre mercado" não podem dar um argumento racional sequer que possa justificar esta absurda suposição. No lugar do argumento lógico, eles afirmam simplesmente que esta é a situação natural e inevitável das coisas e que, em qualquer caso, não há alternativa. Não é um argumento coerente, senão apenas um preconceito cego. Esperam que, repetindo constantemente a mesma invocação, finalmente as pessoas acreditarão nisto. Mas a vida real por si só revelou a mentira de que "a economia de livre mercado funciona". Nossa própria experiência e as provas que nos dão nossos olhos nos dizem que não funciona; que é um sistema destruidor, caótico, bárbaro e irracional que destroça a vida de milhões para o lucro de uns poucos.

O sistema capitalista está condenado porque nem sequer é capaz de alimentar a população mundial. Sua continuação ameaça o futuro da civilização e a cultura, e inclusive ameaça a continuidade da própria vida. O sistema capitalista deve morrer para que a raça humana possa viver. Na futura sociedade socialista, os homens e as mulheres livres olharão para trás e verão nosso mundo atual com o mesmo sentido de incredulidade com o qual nós contemplamos o mundo dos canibais. E para os canibais, um mundo onde homens e mulheres não se devoraram mutuamente também pareceria uma utopia.

3.8. A crise de direção

Em 1938, Leon Trotsky escrevia: "As charlatanices de toda espécie segundo a qual as condições históricas não estariam ainda 'maduras' para o socialismo não são senão produto da ignorância ou de um engano consciente. As condições objetivas da revolução proletária não só estão maduras, como começaram a apodrecer. Sem revolução social no próximo período histórico, a civilização humana está sob ameaça de ser arrasada por uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, ou seja, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária".

Já faz tempo que a classe operária criou partidos para defender seus interesses e transformar a sociedade. Alguns se chamaram socialistas, outros trabalhistas, comunistas ou de esquerda. Mas nenhum deles defende uma política comunista ou socialista. O largo período de auge capitalista depois da Segunda Guerra Mundial pôs o selo final à degeneração burocrática e reformista das organizações de massa do proletariado. Os dirigentes dos sindicatos, assim como dos partidos socialistas e comunistas, cederam à pressão da burguesia, e a maioria deles faz tempo que abandonou qualquer pretensão de defender uma transformação da sociedade.

Os dirigentes dos partidos operários tradicionais, social-democratas e Partidos Trabalhistas, estão totalmente entranhados com os capitalistas e seu Estado. E contra seus desejos, os capitalistas tiveram que nacionalizar bancos, mas o fizeram de maneira que dedicam enormes subvenções aos banqueiros e não em benefício à população. Nós exigimos a nacionalização de todo o setor bancário e financeiro, com um mínimo de compensação só em caso de necessidade comprovada.

Os dirigentes dos antigos partidos comunistas da Rússia, Leste Europeu e de muitos outros países abandonaram totalmente o programa revolucionário de Marx e Lenin. Enfrentamo-nos à contradição expressa de que precisamente no momento em que o capitalismo está em crise em todas as partes, quando milhões de homens e mulheres buscam uma transformação fundamental na sociedade, os dirigentes das organizações de massas se aferram cada vez mais tenazmente à ordem existente. Como Trotsky disse há tempo: a situação política mundial em geral se caracteriza principalmente pela crise histórica da direção do proletariado.

É intolerável que os dirigentes que falam em nome do socialismo e da classe operária, ou inclusive da "democracia", aprovem enormes planos de resgate para bancos privados, o que significa um aumento importante da dívida pública, que será paga com anos de cortes e austeridade. O que fazem em nome do "interesse geral", mas na realidade é uma medida que vai de encontro ao interesse dos ricos e contra os interesses da maioria. Esta situação não pode durar.

Não há alternativa para a classe operária fora do movimento operário ou sindical. Em condições de crise capitalista, as organizações de massa sofrerão uma tremenda sacudida. Começando pelos sindicatos, os dirigentes da ala direita sofrerão pressão da base. Ou cedem a essa pressão e começam a refletir a pressão desde baixo ou serão deixados de lado e substituídos por pessoas que estejam mais em contato com as idéias e aspirações dos trabalhadores. Nossa tarefa é levar as idéias do marxismo ao movimento operário e ganhar a classe operária para as idéias do socialismo científico. Há mais de 160 anos Marx e Engels proclamaram o seguinte no Manifesto Comunista:

"Qual a relação dos comunistas com os proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte dos demais partidos operários.

Não têm interesses próprios que os distingam dos interesses gerais do proletariado. Não professam princípios especiais com os quais aspirem a modelar o movimento proletário.

Os comunistas não se distinguem dos demais partidos proletários mais que nisso: em que destacam e reivindicam sempre, em todas e cada uma das ações, os interesses comuns e peculiares de todo o proletariado, independente de sua nacionalidade, e em que, qualquer que seja a etapa histórica em que se mova a luta entre o proletariado e a burguesia, mantém sempre o interesse do movimento em seu conjunto.

Os comunistas são, pois, praticamente, a parte mais resoluta, o alicate em constante tensão de todos os partidos operários do mundo; teoricamente, levam a vantagem em relação às grandes massas do proletariado por sua clara visão das condições, dos cursos e resultados gerais do movimento proletário".

Nós, marxistas, compreendemos o papel das organizações de massas. Não confundimos a direção com a massa de trabalhadores que está por trás dela. Há um abismo entre os oportunistas e reformistas que estão na direção e a classe que lhes elege. A crise atual dará luz a este abismo e o ampliará até alcançar um ponto de ruptura. Entretanto, a classe operária se aferra às organizações de massas, apesar da política dos dirigentes, porque não há alternativa. A classe operária não quer saber de pequenas organizações. Todas as tentativas das seitas de criar "partidos revolucionários de massas" à margem das organizações de massas fracassaram miseravelmente e estão destinadas a fracassar no futuro.

Lutaremos contra a política de bancarrota e nos enfrentaremos à velha direção. Exigimos a ruptura com os banqueiros e os capitalistas, exigimos que apliquem uma política no interesse dos trabalhadores e da classe média. Em 1917, Lênin e os bolcheviques disseram aos dirigentes mencheviques e social-revolucionários: "Romper com a burguesia, tomar o poder!" Mas os mencheviques e social-revolucionários se negaram obstinadamente a tomar o poder. Aferraram-se à burguesia e, desta maneira, prepararam a vitória dos bolcheviques. Da mesma maneira, dizemos a esses partidos e organizações que se apóiam nos trabalhadores e que falam em seu nome, que rompam politicamente com a burguesia e que lutem por um governo socialista com um programa socialista.

Daremos apoio crítico aos partidos operários de massa contra os partidos dos banqueiros e capitalistas, mas exigimos que coloquem em prática uma política de interesse da classe operária. Não há maneira de que a crise se solucione com medidas paliativas dos governos e banqueiros. As medidas parciais não proporcionam uma saída. O problema é que as direções das organizações operárias de massa, em todos os países, não possuem uma perspectiva de transformação fundamental da sociedade. Mas isso é precisamente o que está faltando!

O ser social determina a consciência. A classe operária em geral aprende da experiência, e a experiência da crise capitalista implica que aprenderá rápido. Ajudaremos os trabalhadores a retirar as conclusões necessárias não com estridentes denúncias, senão com a explicação paciente, com o trabalho sistemático nas organizações de massa. As pessoas se fazem perguntas e buscam respostas. A tarefa dos marxistas só é fazer consciente o desejo inconsciente ou semiconsciente da classe operária de transformar a sociedade.

• Contra o sectarismo!

• Pela transformação das organizações de massa da classe operária!

• Lutemos pela transformação dos sindicatos!

• Combatamos por um programa marxista!

3.9. Ajude-nos a construir a CMI!

Não basta se lamentar diante da situação que se encontra o mundo. É necessário atuar! Aqueles que dizem: "não estou interessado em política" deveriam ter nascido em outra época. Hoje não é possível escapar da política. Tente isso! Se feche em sua casa, tranque a porta e esconda-se em baixo da cama. A política baterá na sua porta e entrará em sua casa. A política afeta a cada um dos aspectos de nossas vidas. O problema é que muita gente identifica a política com os partidos políticos existentes e com seus dirigentes. Dá uma olhada nos salões do parlamento, o arrivismo, os discursos vazios, as promessas não cumpridas, e se afastam.

Os anarquistas chegam à conclusão de que não necessitamos de um partido. Isso é um erro. Se minha casa cai, não posso chegar à conclusão de que devo dormir na rua, senão que devo começar a reconstruí-la urgentemente. Se não estou satisfeito com a direção atual dos sindicatos e dos partidos operários, devo lutar por uma direção alternativa, com um programa e uma política adequada às minhas necessidades.

A Corrente Marxista Internacional luta pelo socialismo em quarenta países e cinco continentes. Defendemos energicamente os fundamentos do marxismo. Defendemos as idéias básicas, tradições, política e princípios elaborados por Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Atualmente nossa voz é ainda fraca. Durante muito tempo os marxistas se viram obrigados a nadar contra a corrente. A Corrente Marxista Internacional têm demonstrado sua capacidade de manter-se firme em condições adversas. Agora nadamos a favor da maré da historia. Os acontecimentos confirmam todas as nossas perspectivas. Isso nos dá uma confiança inquebrantável nas idéias e métodos do marxismo, na classe operária e no futuro socialista da humanidade.

Começando pelos trabalhadores e jovens mais avançados, nossa voz chegará à massa de trabalhadores em cada fábrica, sindicato, comissão de fábrica, instituto e universidade, a cada bairro operário. Para levar a bom termo este trabalho necessitamos da sua ajuda. Necessitamos colaboradores que escrevam artigos, vendam nossos jornais, arrecadem dinheiro e trabalhem nos sindicatos e no movimento operário. Queremos que você também participe nisso. Não pode pensar: "eu não posso contribuir em nada importante". Juntos, uma vez organizados, poderemos conseguir coisas realmente importantes.

A classe operária tem em suas mãos um poder colossal. Sem a permissão dos trabalhadores não se acende uma lâmpada, não se move uma roda e nem toca o telefone. O problema é que os trabalhadores não são conscientes desse poder. Nossa tarefa é conscientizá-los disto. Lutamos favoravelmente pelas reformas, por qualquer avanço, por menores que sejam, porque somente através da luta cotidiana sob o sistema capitalista é que os trabalhadores conquistarão a confiança necessária em suas forças para mudar a sociedade.

Em todos os lugares o clima entre as massas está mudando. Na América Latina existe uma fermentação revolucionária que se intensificará e se ampliará para outros continentes. Na Grã-Bretanha, nos EUA e outras nações industrializadas, muitos dos que antes não questionavam a ordem existente, agora estão questionando. Idéias que antes se ouvia só entre um reduzido número de pessoas, encontram eco e uma audiência muito mais ampla. Está se preparando o terreno para um auge sem precedentes da luta de classes em todo mundo.

Quando a URSS entrou em colapso nos disseram que a história havia acabado. Pelo contrário, a história ainda não começou. Nos últimos vinte anos o capitalismo demonstrou ser um sistema em total bancarrota. É necessário lutar por uma alternativa socialista! Nosso objetivo é conseguir uma mudança fundamental da sociedade e lutar pelo socialismo em escala internacional. Lutamos pela causa mais nobre: a emancipação da classe operária e pelo estabelecimento de uma forma de sociedade humana nova e superior. Essa é a única causa realmente digna pela qual há que combater nessa primeira década do século XXI.

Junte-se à Corrente Marxista Internacional! Junte-se à esquerda Marxista!

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