sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Assassinato de uma Liderança Indígena

Caros Lutadores e Apoiadores da Causa Indígena,

É com muito pesar que escrevo esse e-mail para comunicar o assassinato na madrugada do dia 10 da indígena Paresi Valmireide Zoromará, uma liderança entre os Paresi Kaxíniti da TI Estação Parecis. Ela, seu esposo, seu irmão e filhos estavam pescando e foram pegos de surpresa, pegos de tocaia, atacados sem chances de defesa.

Valmireide Zoromará morreu com vários tiros no peito, seu marido foi ferido gravemente na cabeça e olhos (está na UTI), e o número só não foi maior porque os demais conseguiram correr. A FUNAI foi acionada e a polícia também. Os indígenas sobreviventes apontam os conflitos fundiários como o motivo do ataque, visto que há tempos recebem ameaças.

Recebi um telefonema hoje de uma das filhas de Valmireide, desesperada, pedindo em nome dos Zoromarás que a notícia seja divulgada, que ganhe corpo na mídia, pois todos temem novos ataques, como também não querem que a memória de sua mãe e a luta deles pela Terra seja esquecida ou sufocada.

Os Paresi Kaxíniti, em particular a família Zoromará, tem uma longa e desgastante história de luta pela terra, história essa que perpassa também as trilhas de Rondon. Foram aos poucos, e ao longo dos tempos, espoliados de suas terras, espalhados, subjugados, ameaçados, esquecidos... mas persistiram, mesmo com as adversidades, com as barreiras e com o pouco que lhes foi possível assegurar de seus antigos territórios tradicionais.

Valmireide era uma grande mulher, uma grande guerreira, filha dessa história, herdeira desta trajetória de luta. Ela não temia as ameaças constantes, peitava e enfrentava os desafios, os contrários a demarcação, e foi com esse mesmo peito aberto que teve sua vida ceifada de forma covarde.

Os Zoromará estavam mais do que nunca empenhados na luta pela resolução efetiva e definitiva da questão da demarcação da TI Estação Parecis, questão que se arrasta há décadas. Nos últimos meses estavam animados com os projetos que começariam esse mês na aldeia, projetos que visavam também fixá-los de forma mais efetiva e com possibilidades de sobrevivência na área, com isso estariam mais fortes, mais resistentes, o que, sem dúvida, despertou a ira de alguns...

Mais uma liderança indígena é assassinada nesse país, mais uma família chora a perda irreparável de um ente amado, uma perda também para o povo Paresi, para o Movimento Indígena.
Hoje o dia amanheceu mais triste, um dia de lágrimas, um dia de lamento de Enoré.

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