segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Carta Aberta a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República do Brasil

"Nós nos atrevemos a ser livres"

“Se o senhor quiser realmente ajudar o nosso povo a abrir o caminho para a democracia e para a melhoria da situação, substitua os 1.200 soldados brasileiros da Minustah por médicos, enfermeiros, bombeiros, técnicos e operários, para reconstruir a destruição causada pelos furacões”

Senhor Presidente,

Nós somos dirigentes sindicais, de movimentos políticos e populares do Haiti. O nosso povo, o povo haitiano, foi o primeiro a se libertar, há 204 anos atrás, das cadeias da escravidão. "Nós nos atrevemos a ser livres", disse Jean-Jacques Dessalines em 1º. de janeiro de 1804, quando proclamou a primeira república negra do mundo, que tem o nome de Haiti.

Hoje, nosso país é o mais pobre do continente americano. A insegurança alimentar atinge atualmente 3,3 milhões de nossos cidadãos.

Senhor Presidente, o senhor deve ter notado, durante a sua última visita oficial ao Haiti, em maio passado, a devastação causada pelas políticas cujos responsáveis estão fora de nossas fronteiras. Uma situação agravada pela devastação, há dois meses, causada pela passagem sucessiva de quatro furacões.

O senhor sabe que o nosso povo, assim como o povo brasileiro, teve que pagar, na carne e com sangue, pelas décadas de regimes militares e ditaduras apoiadas diretamente pelos governos das grandes potências. Eles também foram responsáveis pela ocupação do nosso país, como foi o caso, pela primeira vez entre 1915 e 1934, do governo dos Estados Unidos da América.

E como a Minustah (sigla em francês para Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti), que é responsável pelas mais graves intervenções, poderia pretender estar no nosso solo para a estabilização e para a paz?

Senhor Presidente, nós lhe pedimos solenemente a retirada das tropas brasileiras do solo do Haiti.

E se o senhor quiser realmente ajudar o nosso povo a abrir o caminho para a democracia e para a melhoria da situação, substitua os 1.200 soldados brasileiros da Minustah por médicos, enfermeiros, bombeiros, técnicos e operários, para reconstruir a destruição causada pelos furacões.

Proponha aos outros 40 países que também têm tropas na Minustah que façam o mesmo; proponha que os 540 milhões de dólares do custo anual dessas tropas sejam usados na reconstrução, em ajuda alimentar, na construção de escolas, hospitais etc.

Nós lhe pedimos, Senhor Presidente, que receba uma delegação de nossas organizações.

Para que nós possamos lhe explicar os sentimentos e as exigências do nosso povo, que quer mais do que nunca recuperar sua soberania e, em primeiro lugar, lhe pede a prévia retirada das tropas estrangeiras da Minustah.

Através desta carta, nós lhe informamos que, em 12 e 13 de dezembro, estamos organizando em nosso país, na cidade de Porto-Príncipe, um encontro com militantes e cidadãos do continente a este respeito.

Receba, Senhor Presidente do Brasil, as nossas respeitosas saudações, e a certeza do nosso profundo compromisso de lutar até o fim pela soberania do nosso país.

Porto-Príncipe, 1º de novembro de 2008.

Organizações haitianas que assinam:

CATH – Central Autônoma dos Trabalhadores Haitianos, Louis Fignolé St. Cyr, secretário-geral; POS – Partido Operário Socialista Haitiano, Marc-Antoine Poinson, secretário de organização; FESTREDH – Federação Sindical da Eletricidade do Haiti, Dukens Raphaël, porta-voz; GIEL – Grupo de Iniciativa dos Professores do Ensino Secundário, Léonel Pierre, secretário-geral; ADFEMTRAH – Seção das Mulheres da Cath, Julie Génélus, secretária-geral; GRAHLIB – Grande União por um Haiti Livre e Democrático, Ludy Lapointe, coordenador-geral; FOS – Federação dos Operários Sindicalizados, Raymond Dalvius, diretor de Relações Públicas; KOREKEN – Coordenação Resistência Contra as Ingerências, Jhon Wagner Edol, coordenador; UNAPFEH – União Nacional pela Proteção das Mulheres e Crianças do Haiti, Itiane Derival, coordenadora; ACDIFED – Associação Cristã de Mulheres e Crianças do Haiti, Sherly Michel ; FUNA – Mulheres Universitárias por uma Nova Alternativa, Yvonne Printemps, secretária-geral; FHVC – Mulheres Deficientes, Kerlange Paulema, coordenadora; CHASS – Centro Haitiano de Serviço Social, Robinson Desiré, secretário-geral-adjunto; GROSSOL – Grupo Solidariedade, Eng. Poto Jean Marrais; ROFNA – Encontro de Organizações Femininas por uma Nova Alternativa, Nicole D. Michel, coordenadora; FEHMA – Mulheres Haitianas em Ação, Gina Désire, coordenadora; AFVS – Organização de Mulheres Vítimas de Solino, Luthana Auguste, coordenadora; JM – Jovens do Mundo, Dukerline Dorival, coordenadora; RONA – Encontro de Organizações por uma Nova Alternativa, Eng. Georghy Desire, coordenador-geral; COADMEH – Coalizão dos Médicos Haitianos, Dr. Gilles Labossière, coordenador-geral; GAPANAH – Grupo de Apoio pelo Avanço e a Promoção da Produção Nacional, Reginal Rebecca François; e MOFERPNH – Movimento das Mulheres de Por Um Novo Haiti, Josy Faidor, coordenador

Carta Aberta a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República do Brasil

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