Hermann Bellinghausen. La Jornada, 27/02/2009.
A Junta de Bom Governo (JBG) Coração Concêntrico dos Zapatistas diante do Mundo denunciou incursões de tropas federais na comunidade rebelde de Tivó, próxima a este centro de governo autônomo, além de sobrevôos de aviões e helicópteros sobre comunidades zapatistas na região de Los Altos e sobre o caracol de Oventik, numa das mais graves denúncias de ações militares em territórios zapatistas desde o início do governo de Felipe Calderón.
Não se trata de fatos isolados. No final de dezembro passado, na região fronteiriça da selva, aumentaram sensivelmente os patrulhamentos e controles militares e, nesta semana, foi retomada a presença do Exército no cruzamento Xanil, município de Chilón, a poucos quilômetros das cataratas de Água Azul. Indígenas desta região, que pertence ao caracol de Morelia, ouviram versões pelas quais se reinstalaria aí um acampamento militar.
A JBG de Los Altos detalha que "desde o dia 21 de fevereiro, houve patrulhamento de helicópteros em várias comunidades do município [autônomo] San Andrés Sakamch’en de los Pobres, principalmente no centro do caracol de Oventik, e em outros municípios próximos". Não é a primeira vez que isso acontece. Desde o início do ano, têm havido sobrevôos de aviões e helicópteros em Los Altos, mas nos últimos tempos eles têm aumentado, assim como as mobilizações militares terrestres.
No último dia 24 [de fevereiro] dois caminhões e um jipe com soldados chegaram no vizinho município oficial de Santiago del Pinar, "com o pretexto de realizar uma operação para procurar plantios de maconha". Na parte da tarde, um caminhão do exército se dirigiu à comunidade Talomwits e chegou em Tsajaló, onde a maioria dos moradores é de priistas, e acamparam uma noite. Os elementos castrenses não estavam sós, mas estavam sendo guiados por alguns priistas de San Andrés que vestiam os mesmos uniformes dos soldados.
Na quarta-feira, dia 25, no lugar de dirigir-se onde havia supostamente plantios de maconha, foram a Tivó, perto das casas dos companheiros bases de apoio do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), onde dá pra ver claramente que não há plantios de maconha, mas somente casas e hortas. Na tarde de ontem, os soldados voltaram a Santiago del Pinar onde permanecem até agora.
A JBG denuncia as ações do mau governo através do seu Exército e de pessoas filiadas ao PRI. Trata-se de "uma provocação e de um pretexto para enfiar soldados em nossas comunidades. Todo mundo sabe que nos municípios autônomos são proibidas a semeadura, o tráfico e o consumo de drogas, e estes são regulamentos que devem ser cumpridos em território zapatista. Mas para as pessoas que pertencem aos partidos políticos de pouco valem estes regulamentos e elas de dedicam a atividades ilícitas, com o respaldo dos maus governo, da polícia e do Exército federal".
Até agora não foram encontrados cultivos de bases zapatistas, afirma a JBG. "Todos são de pessoas de vários partidos políticos e paramilitares, e são elas que guiam a operação. Vê-se claramente que é um plano do mau governo para fazer-nos guerra". Toda vez que os soldados chegam para procurar os plantios, "só arrancam os maiores e deixam os menores para que cresçam e tenham assim pretextos para voltar com outra operação".
Os soldados vêm arrancar a maconha e deixam as plantas pequenas para serem arrancadas posteriormente e não dizem nada; sabem exatamente quem são os donos dos terrenos onde há plantios e os envolvidos continuam em liberdade.
Outro objetivo é entrar nas comunidades zapatistas para estudá-las, controlá-las, provocá-las e persegui-las. De acordo com a JBG, os soldados são guiados por paramilitares "para que conheçam e entrem para atacar ou deter os companheiros quando quiserem; os federais andam dizendo que não vão deter os donos, ainda que encontrem os plantios, porque têm a ordem de limitar-se a destruí-los".
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