quinta-feira, 7 de maio de 2009

"O que não se discute da gripe suína"


http://www.correiocidadania.com.br:80/content/view/3230/9/
(Altacir Bunde 30/04/2009 - Correio da Cidadania)
(Silvia Ribeiro - 05/05/2009 - )

Epidemia do lucro

por Michelle Amaral da Silva última modificação 05/05/2009 17:09
Colaboradores: Silvia Ribeiro

Parte da crise generalizada, tem suas raízes no sistema de criação industrial de animais, dominado por grandes empresas transnacionais

05/05/2009

Silvia Ribeiro


A nova epidemia da gripe suína que ameaça expandir-se a outras regiões do mundo não se trata de um fenômeno isolado. É parte da crise generalizada e tem suas raízes no sistema de criação industrial de animais, dominado por grandes empresas transnacionais.

No México, as grandes empresas avícolas e de suinocultura têm proliferado amplamente nas águas (sujas) do Tratado de Livre Comércio da América do Norte. Um exemplo é a Granjas Carroll, em Veracruz, propiedade de Smithfield Foods, a maior empresa de criação de porcos e processamento de produtos suínos do mundo, com filiais na América do Norte, Europa e China.

Em sua sede de Perote começou faz algumas semanas uma virulenta epidemia de enfermidades respiratórias que afetou 60% da população de Glória, fato informado por La Jornada em várias oportunidades a partir das denúncias dos habitantes do local, que faz alguns anos levam uma dura luta contra a contaminação da empresa e tem sofridos inclusive repressão das autoridades por suas denúncias. Granjas Carrol declarou que não tem responsabilidade pela atual epidemia, alegando que a população sofria de uma gripe “comum”. Por via das dúvidas, não fizeram análises para saber exatamente de que vírus se tratava.

Em contraste, as conclusões do Painel Pew Commission on Industrial Farm Animal Production (Comissão Pew sobre produção animal industrial), publicado em 2008, afirmam que as condições de criação e confinamento da produção industrial, sobretudo em porcos, criam um ambiente perfeito para a recombinação de vírus. Inclusive mencionam o perigo da recombinação da gripe aviária e a suína e como finalmente podem chegar a recombinar-se no vírus que afetam e são transmitidos entre humanos. Mencionam também que por muitas vias, incluindo a contaminação de águas, pode chegar a localidades longínquas, sem aparente contato direto. Um exemplo que se pode apresentar é o surgimento da gripe aviária. Veja por exemplo, o informe da GRAIN que ilustra como a indústria avícola criou a gripe aviária (www.grain.org http://www.grain.org).

Mas as respostas oficiais diante da crise atual, além de tardia (esperaram que os Estados Unidos anunciassem primeiro o surgimento do novo vírus, perdendo dias valiosos para combater a epidemia), parecem ignorar as causas reais e mais contundentes.

Mas do que enviar cepas do vírus para seu seqüenciamento genomico a cientistas como Craig Venter, que enriqueceu com a privatização da pesquisa e seus resultados (seqüenciamento que já foi objeto de investigações públicas do Centro de Prevenção de Doenças em Atlanta, Estados Unidos), o que é preciso é entender que este fenômeno vai continuar se repetindo enquanto continuem os criadouros dessas doenças.E na epidemia, são as transnacionais as que mais lucram: as empresas biotecnológicas e farmacêuticas que monopolizam as vacinas e os antivirais. O governo anunciou que tinha um milhão de doses de antígenos para atacar a nova cepa da gripe suínas, mas nunca informou a que custo.

Os únicos antivirais que ainda têm ação contra o novo vírus estão patenteados na maior parte do mundo e são de propriedade das grandes empresas farmacêuticas: zanamivir, com o nome comercial Relenza, comercializado por GlaxoSmithKline, e oseltamivir, cuja marca comercial é Tamiflu, patenteado por Gilead Sciences, licenciado exclusivamente para a Roche. Glaxo e Roche são a segunda e a quarta empresas farmacêuticas em escala mundial e, que igualmente ao restante de seus fármacos, as epidemias são as suas melhores oportunidades de negócio.

Com a gripe aviária, todas elas obtiveram centenas de milhões de dólares de lucro. Com o anúncio da nova epidemia no México, as ações da Gilead subiram 3%, as da Roche 4% e as de Glaxo, 6% e isto é apenas o começo. Outra empresa que está atrás desse grande negócio é a Baxter, que solicitou mostras do novo vírus e anunciou que poderá ter a vacina em 13 semanas.

Não precisamos enfrentar apenas a epidemia do vírus, mas também a do lucro.

Silvia Ribeiro, pesquisadora do grupo ECT. Artigo publicado no jornal mexicano La Jornada.
(Traduzida por Unisinos)

O que não se discute da gripe suína

Correio da Cidadania. 30-Abr-2009. Internacional.

http://www.correiocidadania.com.br:80/content/view/3230/9/

Escrito por Altacir Bunde

É impressionante que mais uma vez a imprensa burguesa não traga os elementos e as causas da origem do problema, nem mesmo o nome da empresa que cria porcos na região de Veracruz, no México. Aqui nos jornais dos Estados Unidos nada se fala sobre as empresas, até porque grande parte das que estão instaladas em Veracruz são americanas – sendo que esta forma de criação de porcos também é praticada aqui nos Estados Unidos.

Tenho ouvido relatos, aqui nos EUA, de que há regiões aonde a população de porcos chega a cinco para cada habitante. Daí se pode ter uma idéia de como está a região, com todos os restos fecais que são expostos em grandes tanques, nos quais são colocadas as fezes e jogados os porcos que morrem e demais dejetos orgânicos.

A empresa Smithfield Foods, uma gigante norte americana, a maior do mundoem produção, embalagem e exportação de carne de porco, pode estar diretamente ligada ao surto da gripe suína. A Smithfield opera de forma maciça na compra de porcos no México, no estado de Veracruz, onde o surto foi originado. As operações e criações se dão através de uma filial denominada Granjas Carroll, que mexe com cerca de 950.000 suínos por ano, de acordo com o site da empresa. Por aí se pode ter uma idéia da quantidade de dejetos produzidos...

Os residentes próximos à região onde há a criação de porcos afirmam que osurto da gripe suína foi causado por contaminações originárias das fazendas localizadas na área e de propriedade das Granjas Carroll. Foram estas grandes empresas criadoras de porcos na região e produtoras de imensas quantidades de dejetos fecais e orgânicos colocados ao ar livre que produziram as moscas que dali espalharam o vírus da gripe suína.

Algumas pessoas aqui nos Estados Unidos dizem ser praticamente impossível viver próximo a tais locais, inclusive nos Estado Unidos, tamanha a contaminação do ar e das águas com seus grandes depósitos de restos fecais e outros, e que a quantidade de moscas nestas áreas é tão enorme que é praticamente impossível de se viver por perto.

De acordo com um dos moradores da comunidade no estado de Veracruz, Eli Ferrer Cortes, os resíduos orgânicos e fecais produzidos pela Carroll Farms não são tratados adequadamente, levando à contaminação da água e do vento na região, da qual nasceu o surto.

Diante disso, podemos mais uma vez assistir as façanhas de um modelo de produção perverso. Esperamos que ao menos a opinião pública – claro, se tiver acesso à informação, o que será muito difícil – possa ao menos questionar a origem e a forma de como se produz o que comem...

Altacir Bunde é diretor nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores.








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Bruno Mello (Nutri-UFMG)

- Frente de Juventude - Brigadas Populares
- Apoio DANUT-UFMG (D.A. de Nutrição)

"Quem não se movimenta não sente as cadeias que o prendem" (Rosa Luxemburgo)

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."
('Privatizado' de Bertold Brecht)
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