Há 40 anos o jornalista e escritor Günter Wallraff usa disfarces para
escrever seus livros e produzir seus filmes. Em seu mais novo
trabalho, ele mostra a discriminação sofrida por um refugiado africano
na Alemanha.
O jornalista alemão Günter Wallraff quer abrir um debate sobre o
racismo na Alemanha através de seu filme Schwarz auf Weiss (Preto no
branco). "Pode-se avaliar cada sociedade pela forma como ela reage aos
estrangeiros" , define ele.
No documentário, que estreou no final de outubro nos cinemas alemães,
Wallraff percorreu toda a Alemanha disfarçado como Kwagi Ogonno, um
refugiado somali naturalizado alemão. Equipado com uma minicâmera e um
microfone, ele chama a atenção para o racismo no dia-a-dia.
Uma equipe de filmagem acompanhou o autor à distância. Em Colônia, ele
fracassou na tentativa de alugar um apartamento. Em Cottbus, foi
insultado por torcedores de futebol. Quando tentou instalar-se
permanentemente em um camping, seu pedido foi rejeitado.
De um grupo de excursionistas e em bares ele teve que ouvir frases
como "África para macacos, Europa para os brancos", ou "Você é um
crioulo". A aversão contra os negros, que ele enfrentou tanto no oeste
quanto no leste do país, o deixou "muito impressionado" , disse
Wallraff à imprensa. Ele pretende exibir o documentário para os
torcedores do Dynamo Dresden, considerados radicais de direita, e
discutir com eles, disse Wallraff durante um debate num cinema em
Berlim.
Reações divergentes
Nas últimas décadas, o escritor tem seguidas vezes se infiltrado, sob
falsa identidade, em empresas ou camadas desprivilegiadas da
sociedade. Entre os papéis que desempenhou estão um trabalhador
temporário turco, um repórter do jornal sensacionalista Bild, mendigo,
negociador de armas e trabalhador de call-center, submetido a jornadas
de trabalho exaustivas. Em suas reportagens sob disfarce, ele relata
as péssimas condições em que essas pessoas precisam viver e trabalhar
na Alemanha. Günter Wallraff é considerado uma lenda.
As reações sobre seu novo projeto são divergentes. Um dos principais
pontos das crítica é que Wallraff vai disfarçado a lugares ou regiões
onde as reações de racismo ou discriminação são esperadas. "Seja em
torcidas organizadas em Cottbus, em grupos de trilhas em Gummersbach
ou simplesmente em qualquer rua, Wallraff busca o tempo todo as
pessoas que não o querem, e documenta a aversão destas em imagens de
solidão infinita", descreve o jornal taz.
O periódico conservador Die Welt vai além e o acusa de oportunismo:
"Wallraf se veste e se maquia como um espantalho para se passar por um
somali, o que já tem algo de mau gosto e pérfido. Ele faz uma imitação
barata dessas pessoas, que ele só consegue ver como vítimas do
racismo, e as usa para criar cenas bizarras."
"Jornalismo investigativo à antiga"
A revista Stern fala de "um Borat piorzinho", e critica o fato de, no
atual filme, Wallraf não ter dado voz aos verdadeiros atingidos. "Ele
deveria ter pedido para africanos e alemães afrodescendentes que vivem
na Alemanha para fazer a viagem pelo país, ele deveria tê-los
entrevistado, e depois mostrado as suas experiências, em vez de se
apropriar dessa experiência como somali fantasiado."
Mesmo assim, sem dúvida com seu mais novo projeto, o autor chamou
atenção a atenção para o racismo no cotidiano e reavivou o debate na
Alemanha. "Sem Günter Wallraff, o tema nunca voltaria aos canais de
debate. Enquanto houver pessoas que duvidem que a discriminação racial
ainda faz parte do dia-a-dia no país, alguém como Günter Wallraff
ajuda a esclarecer" publicou a Stern.
Na opinião do Frankfurter Allgemeiner Zeitung, o trabalho de Wallraff
"continua surpreendentemente atual" e elogia o retorno do jornalismo
investigativo à moda antiga.
MN/ff/dpa
Revisão: Augusto Valente
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