terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Expressão Popular: 10 anos de ação para além do capital

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por Admin última modificação 30/11/2009 11:08 Roberta Traspadini
A chama viva e acesa da nossa expressão só será popular se popularizarmos esse instrumento junto com o sentido de classe que ele possui


30/11/2009

Roberta Traspadini


Estamos em festa. Em meio às várias amarras, opressões, condicionamentos burgueses dos donos do capital, uma editora consegue dar vida a sujeitos revolucionários e suas obras clássicas.


E o faz porque o seu processo não está centrado na maximização dos lucros. Sua base de sustentação coletiva, solidária é a da maximização do conhecimento a partir da democratização das históricas idéias socialistas.


Ideias revolucionarias daqueles que, ao longo do seu caminhar histórico, defendem um mundo com os olhos, corpos, mentes, processos e sentidos de uma classe que, ao se ver como trabalhadora, protagoniza, em cada época, o caminho de construção sobre o seu destino.


Em plena era dos falsos discursos sobre o fim da história, o fim do trabalho, o fim do sujeito coletivo politizado e o fim da luta de classes, o que essa expressiva aniversariante popular nos convida a comemorar, é o grande pequeno gesto vitorioso de uma classe que não se rende à violenta e cotidiana opressão do capital.


Nestes 10 anos esta aniversariante expressa de forma popular um conteúdo que tem a memória como instrumento vigoroso da história.


É a história em movimento, cuja contradição manifesta ao longo de períodos específicos, revela o projeto de superação da alienação, do fetiche, da opressão e dominação, vigentes como suposto apogeu reinante e absoluto do capital.


Por que em plena era do gelo, em que o esfriamento das relações entre o humano e os demais seres, se choca com o aquecimento global, tal aniversario é tão importante?

Porque retrata o fruto de uma experiência que não se esgota no conjuntural, nem nos ensinamentos puramente mercantis do capital.


É importante porque estes 10 anos retratam a convicção de que outro mundo é necessariamente possível e tem uma identidade concreta: aquela em que caibam outros mundos, cujo caráter é o do fim de qualquer opressão-exploraçã o de uma classe sobre a outra. Mas que sabe que para superar é preciso, organizar, reunir, reconhecer, refazer o novo, com base na histórica memória da luta de classes.


O popular, quando deixado ao capital, é diminuído em seu conteúdo. É tomado como sinônimo de bárbaro, inculto, pobre, de pouco valor, uma vez que a dominância é a do dinheiro sobre o ser, cujo único valor que tem sentido, é o da troca. Uma troca que produz a riqueza mercantil com base na apropriação privada da vida, do sentido do trabalho, do conhecimento e da produção de uma mais valia capitalista.


Em contrapartida, o popular quando manifesto pelos próprios trabalhadores, é potencializado para romper com o que fomos educados para ler, e instituir uma nova leitura sobre si mesmo e do processo histórico ao longo de nosso caminhar. A isso se da o nome de popular socialista.


O popular socialista é um popular com sentido de classe, que dá o máximo valor à outra dimensão da riqueza: a do valor de uso, em um estar sendo do ser social que se vê em coletividade, cooperação, solidariedade com os demais seres.


Vivemos esta tensão entre o sentido do popular burguês, e a expressão popular socialista: No molde burguês, a práxis é alienada, a partir da separação entre o trabalho e sua realização. No processo socialista a práxis é reflexão para a ação emancipadora. A aquela que, ao aprender porque está sendo condicionada, revê dita condição humana e potencializa o caminhar projetado sobre seu próprio destino.


O popular emancipador expressa e necessidade de socializar com o maior número possível de sujeitos políticos, em vários lugares ao mesmo tempo, o que outros tantos pensaram, pensam e pensarão junto conosco.


O popular deixa de ser sem saber, e passa a saber no estudo coletivo, quem produziu, na dominação violenta, saberes aparentemente maiores e menores.


O popular revolucionário tem o desafio de expressar este duplo sentido de classe.

Deve ser capaz de expressar o sentido da classe dominante burguesa que trata o popular como ferramenta para alienar o maior número possível de sujeitos. Manifesta esta alienação em livros de auto-ajuda que não retomam nem a história, nem o sujeito coletivo da história. Colocam para o individuo a superação divina como um desígnio próprio ou de Deus.


Mas no mesmo espaço, contexto, em meio à estas produções hegemônicas, coexistem outros processos com outros sentidos. O popular neste outro processo, dentro do mesmo contexto, ganha outra magnitude e levanta outras vozes. A da produção coletiva de um saber que não está sedimentado somente naquilo que vivemos, mas essencialmente na história que pode consolidar, para além do que temos, o que queremos.


A expressão popular enquanto editora dos movimentos sociais, dos sujeitos políticos engajados e da intelectualidade orgânica é um instrumento da classe, para a classe e se contrapõe ideologicamente aos instrumentos da classe dominante.


Nossa editora, evidencia no seu processo de estruturação do conhecimento, de seleção e veiculação dos materiais, que ainda é possível valorizar o uso a ser dado pelo humano, sem mercantilizá- lo através da lógica dominante do valor de troca.


Quais são os principais ensinamentos que ficam deste comemoração coletiva que, esperamos, permaneça com sua vela acesa, nas próximas décadas?


1.A importância da identidade da classe, do gênero e da etnia relacionados ao sentido do trabalho, e da concepção real de emancipação do humano, tanto através do conhecimento, quanto na essência mesma da produção do saber.


2.A importância de conhecermos a história para nos reconhecermos no processo histórico de produção tanto do mundo que se tem, quanto do mundo que - se compreendido, coletivizado, cooperado -, pode ser superado para o que se quer, enquanto classe.


3.A importância de unificar o que o capital separou: o conhecimento popular-conheciment o científico; o saber popular e o saber sistematizado; a produção coletiva do conhecimento, que no âmbito revolucionário, não pode ser separada de seu contexto e de sua reflexa ação.


4.A importância da democratização não só do conhecimento histórico da classe trabalhadora que, com os pés no chão produz para si, a complexa síntese da história dominante sob a qual levanta sua própria história, cuja raiz é a luta de classes.


5.A importância do grito, ora silencioso, ora escandaloso de que se o conhecimento liberta, ele precisa primeiro, clamar o fim da célula orgânica que o aprisiona: a propriedade privada dos fatores e meios de produção, da vida, do sentido do trabalho e do conhecimento.


6.A importância da aprendizagem, cuja linguagem vai sendo superada a partir de uma disciplina militante que não se convence com o histórico destino que traçado por outros para sua vida: a da invisibilidade social, moral, econômica e cultural.


7.A importância da união, no conhecimento que liberta, da classe que vive do trabalho e que para retomar o sentido do mesmo, necessita estar unida nos vínculos que a fragmentou, diminuiu em seu potencial de ser mais: a unidade de classe rumo à consolidação de um projeto popular socialista.


O que está em jogo neste aniversário, não é o logro comercial de ser diferente em meio ao homogêneo processo de reprodução ampliada do capital.


O que está em jogo, neste e em muitos outros aniversários que virão é se, enquanto classe, poderemos juntos continuar reunindo, revendo, resignificando, aquilo que o capital insiste em explorar.


A chama viva e acesa da nossa expressão só será popular se popularizarmos esse instrumento junto com o sentido de classe que ele possui. Ao ter acesso aos livros da expressão, nos deparamos com um conhecimento que está para além dele e de nós: o da classe em si e para si. Classe trabalhadora, protagonista tanto do projeto que a aprisiona, quanto do que a possivelmente a libertará.


Com a expressão popular comemoramos uma vitória como classe: a de permanecermos convictos em nossos processos de formação, articulação e luta enquanto que classe que sabe que para viver o que quer, necessita conhecer para destruir o que não quer. Necessita se expressar de forma popular, com sentido de classe, e ir muito além do capital.

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