No segundo semestre desse ano iniciou-se um festival de mortes no
Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, que atualmente abriga
aproximadamente 400 mulheres, algumas grávidas. Não podemos prestar
informações exatas em números, pois para isso teríamos que abrir a
“caixa preta” da Secretaria de Estado de Defesa Social. Ainda bem que
Minas não têm mar, se não, qual a quantidade de verba necessária para
juntar todos os dados reais do Sistema Prisional mineiro, botar numa
caixa blindada e jogar em alto mar pra ter certeza de que essas
informações jamais cheguem a público, especialmente no próximo ano?
No
caso do Complexo Penitenciário Estevão Pinto no segundo semestre de
2009 foram quatro mortes, se não nos falham as informações obtidas,
obviamente, por fontes não oficiais, sendo a dessa semana a quinta
morte. Se houver engano em nossos números será por uma mulher a menos
morta, o que não muda nada nessa sucessão de tragédias. Dessas
anunciadas e evitáveis tragédias.
Na terça-feira, dia 22 de
dezembro de 2009, uma mulher que chamaremos de N. tentou suicídio
usando como instrumento os cacos de um vazo sanitário que ela teria
quebrado. Nossa pergunta é: como? E com eles cortado os pulsos.
Socorrida e atendida, ao que tudo indica na UPA Leste, na quarta-feira,
dia 23 de dezembro de 2009, já de volta ao Complexo Penitenciário foi
encaminhada ao alojamento onde permaneceu até a chegada de seu esposo.
Apesar do regime da mesma permitir a saída de Natal a sentenciada se
recusou a ir pra casa com o marido. A mesma deveria sair na
quinta-feira, mas o Complexo Penitenciário por seu estado de saúde ou
prevendo, intuindo uma nova tragédia, acreditou que, ou se livraria
dela – a tragédia – ou uma vez estando fora das grades a mulher
refletisse melhor e desistisse de terminar com sua vida.
Com a
recusa da sentenciada em deixar o Complexo Penitenciário ela foi
retirada do alojamento que dividia com outras mulheres e colocada
sozinha no que é denominado de “Hospital”, uma espécie de enfermaria
dentro do Complexo. Sozinha, sem monitoramento direto, pois nesse
setor, em conjunto com o albergue, durante a noite está presente
diretamente fazendo a ronda apenas uma agente penitenciária, em algum
momento, no intervalo da ronda da agente entre o “albergue” o
“hospital” a Sentenciada N. enforcou-se.
Isso mostra o
despreparo dos agentes penitenciários, não importa o cargo que ocupem,
para lidar com uma situação de tentativa de auto-extermínio. A última
coisa que poderia acontecer a N. era ficar sozinha, erro elementar, que
terminou com a sua morte.
Tantos casos de mortes consecutivos
que associam o suicídio à negligência ou demora no socorro médico pelo
visto não ensejaram nenhuma mudança no famoso “procedimento”.
Aí
fica a pergunta, que não é retórica, quantas dessas mulheres terão que
morrer para que a SEDS compreenda que tudo vai mal? Em Minas, no
sistema prisional principalmente, avançam a incompetência, a
prepotência e, sobretudo, a arrogância que tem vitimado nossos parentes
e amigos.
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