NOTA DE SOLIDARIEDADE AOS POVOS EM LUTA CONTRA A
HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE
Passados mais de 20 anos do fim da ditadura
militar, que cerceou os direitos sociais e atentou contra qualquer luta e
reivindicação da sociedade, resquícios ainda perduram, embora com alguns
avanços conquistados rumo à democracia. Com assombro nos últimos anos,
assistimos a multiplicação de grandes empreendimentos em todo o Brasil,
mormente compondo o Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal,
que vem se configurando, na prática, como verdadeiros atentados à democracia
pretendida. As ações, no sentido de implementar estes projetos se dão,
anacronicamente e sem exceção, através de atos eminentemente ditatoriais,
ignorando as leis e, principalmente, as populações locais atingidas por estes
projetos do capital.
Exemplos não faltam: projeto de transposição do rio
São Francisco, hidrelétricas no rio Madeira e várias outras grandes e pequenas
centrais hidrelétricas, estradas, hidrovias e portos. Projetos cuja semelhança
está, principalmente, em não permitir a efetiva participação daqueles e daquelas
que serão brutalmente atingidos e cerceados, em muitos casos, de seus espaços
de vida secularmente construídos.
Assim é o Projeto hidrelétrico de Belo Monte,
herança ainda da ditadura militar, que já foi chamada de Kararaô. Mudou o nome,
mas não as formas de pressão e atentados contra os povos que tem no rio Xingu
mais que uma porção de água. Para os povos indígenas, o Xingu é vida, fonte de
sobrevivência, de alimento, de fé, de cosmovisão, de mitos. O Xingu é a estrada
que se trilha para a esperança, representando o maior bem humano, que é a casa.
Não se destrói a casa do outro.
É nesta região que se trava a arena de conflitos,
principalmente causadas pelas grandes construtoras, mineradoras, companhias
hidrelétricas, empresários e demais segmentos do capital e do poder político,
que em nome do desenvolvimento tem destruído o ambiente, e consequentemente
trazendo os dilemas sociais de segmentos considerados marginalizados, à mercê
de políticas que insistem em roubar a vida... Não há nenhum direito que seja
legítimo, quando roubamos a esperança do povo brasileiro, uma prática herdada
da sangrenta história brasileira e que ainda persiste de forma direta ou
indireta.
Diante de uma nova política pública para a Amazônia
Legal, com objetivos de um novo modelo de desenvolvimento, é de duvidar das
reais intenções desse propósito se no trato com questões tão preciosas para os
povos da floresta, em especial os rios da bacia amazônica, novamente vemos o
desrespeito às reivindicações sociais locais, às leis ambientais, e o embate
das polícias públicas que se chocam neste espaço.
Lutamos por eleger um governo democrático, que tem
como base os movimentos sociais, advindos das lutas ainda nos tempos da
ditadura, e que pensamos que seria mais sensível às lutas pelas coisas que o
povo, o mais simples, o que tem a terra como fonte de vida e que se reconhece
neste espaço pudesse ter audiência neste embate. São nessas grandes lutas, em
que os grupos em condições de vulnerabilidade sente que está sozinho, que a lei
que o protege é desrespeitada, além de todo sua cultura e seus valores.
Apoiamos o movimento social formado na região do
Xingu "Movimento Xingu Vivo para Sempre" para impedir as barragens e
formamos com eles um elo de solidariedade contra esse projeto, contra a liberação
da licença prévia, contra o início do projeto. Entendemos que a voz desse
momento que se posiciona contrário é a nossa voz também.
É preciso assegurar, respeitar e considerar o
diálogo com a sociedade civil de forma aberta e participativa, principalmente,
com os grupos diretamente afetados, garantindo, assim, a ampliação do debate
acerca de sua implantação e do alcance dos danos acarretados à sociedade.
Para além de luta solidária, que parece ser alheia
a nós, nosso manifesto soma-se à luta dos povos da floresta, entre tantos
grupos sociais, porque reconhecemos que a luta é intrínseca e não estranha ao
Grupo de Trabalho de Mobilização Social do estado de Mato Grosso. Neste
momento, com especial consideração aos povos do Xingu, posicionamo-nos
fortemente contrários à hidrelétrica de Belo Monte, e a qualquer projeto
desenvolvimentista que seja gerador de mortes por injustiças socioambientais. É
preciso construir outra Nação, sob a consideração de que os megaprojetos têm
trazido mais prejuízo do que benefícios aos povos da floresta. E toda vez que
triunfa a esfera econômica, sucumbe o sonho, a esperança e a vontade de
construir um Brasil mais justo do ponto de vista social, e ousadamente mais
sensível para proteger nosso ambiente.
Não à usina,
pela fé na vida!
Xingu para
sempre!
Grupo de Trabalho e Mobilização Social – GTMS
Mato Grosso, 12 de fevereiro de 2010.
SIGNATÁRIOS:
Grupo
de Trabalho de Mobilização Social / GTMS
Associação
Amigos da Amazônia Viva / AAAV
Associação
Brasileira de Homeopatia Popular / ABHP
Associação
Rondopolitana de Proteção Ambiental / ARPA
Coletivo
Jovem de Meio Ambiente / CJMT-MT
Comissão
Interinstitucional de Educação Ambiental / CIEA-MT
Conselho
Indigenista Missionário / CIMI-MT
Fórum
de Lutas das Entidades de Cáceres / FLEC
Grupo
de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação, UFMT
Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental, UFMT
Instituto
Caracol
Instituto
Gaia
Instituto
Indígena Maiwu
Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra / MST-MT
Rede
Axe Dudu
Rede
Mato-Grossense de Educação Ambiental / REMTEA
Revista
Sina
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