quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"A guerra eleitoral das mídias"


A guerra eleitoral das mídias  23 de novembro de 2010, da Vila Setembrina do Continente de Sepé, Azurduy y Artigas, Bruno Lima Rocha  Entramos na reta final de um ano eleitoral e nos deparamos com algumas constatações de difícil digestão. Nas linhas que seguem abordamos um extrato destas, tomando a mídia como foco de análise.  Se o ano de 2009 encerrou-se com entusiasmo pontual com a realização da primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o corrente ano termina sem protagonismos distintos. A primeira, é inegável, é a derrota da coligação de centro-direita, encabeçada por José Serra (PSDB-SP) e secundada pelo jovem aspirante a porta-estandarte do lacerdismo udenista contemporâneo, Índio da Costa (DEM-RJ). Ao perder no pleito, a aliança tucano-democrata espelha a não realização da vontade política das quatro famílias controladoras dos maiores grupos de mídia operando no Brasil. As famílias, Marinho (Organizações Globo), Mesquita (Grupo Estado de São Paulo), Frias (Folha) e Civita (Grupo Abril) decidiram-se, de forma indireta ou estampada (como foi o caso do Estadão), no apoio do ex-governador de São Paulo para o Planalto. Negar isto é refutar o óbvio e, pontualmente, tal perda acarreta uma mudança pontual na balança do poder brasileiro.  Atenção. Refiro-me ao conflito de interesses entre as percepções imediatas da população - se sua vida piorou ou melhorou na comparação com oito anos - e o jogo de forças diante dos líderes empresariais na produção de bens simbólicos do gênero “jornalístico” e na formação da opinião pública “bem informada”. Nesta tensão, os agentes econômicos e políticos da indústria da comunicação social tentaram incidir na disputa através de argumentos “moralistas”, e apesar de obterem o segundo turno, perderam a corrida. Esta derrota deu-se também porque, na base da pirâmide social, não se alterou a maioria das linhas gerais demarcadoras das preferências traçadas através do senso comum e da escala de lealdades básicas. Estas são, a saber: a família; o círculo de sociabilidade cotidiano; se há ou não freqüência em Igrejas; a influência da (s) ideologia(s) circulante no mundo do trabalho; além da própria hiper-exposição midiática sobre os brasileiros.  O detalhe cruel para as mídias engajadas na campanha da oposição pode estar na possibilidade de que, apesar do consumo ainda excessivo de produções audiovisuais de tipo telenovela e programas de auditório, a influência dos telejornais tenha diminuído nas classes C e D, sendo insuficiente para derrotar a sensação (real) de mobilidade social e inclusão na cidadania capitalista, baseada na realização de direitos básicos e no mundo do consumo através do emprego formal e a explosão do crédito pessoal.  Se há algum consenso entre os partidários da teoria crítica nas ciências sociais brasileira de hoje, este pode se refletir nos dois parágrafos acima. O dissenso está (ou estaria) no grau de distanciamento (por esquerda) do governo atual (Luiz Inácio) e sua sucessora, em especial na pauta das comunicações. Cunhou-se o termo Partido da Imprensa Golpista (PIG), muito popular nos blogs mais à esquerda e entre os jornalistas ex-globais que publicam com freqüência e criatividade na internet. Mas, se as quatro famílias acima estariam intentando influir nos resultados da macro-política do governo (como seria o caso dos ataques à imagem da Petrobrás), o que dizer dos grupos empresariais vinculados à campanha de Dilma ou aos feitos de Lula? Como caracterizá-los sem fazer coro com a direita midiática? Uma boa denominação veio do jornalismo cultural de Porto Alegre, especificamente de Tiago Jucá, editor da revista O Dilúvio (http://odiluvio.blogspot.com) o termo PIG 2, ou o Partido da Imprensa Governista.  A escalação do PIG2 é composta de referentes do jornalismo brasileiro tais como: Carta Capital (de Mino Carta); Terra Magazine (do editor Bob Fernandes, mas pertencente ao Grupo Telefônica de Espanha); os blogs de Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna (todos excelentes repórteres e que estão na folha de pagamento da Record, pertencente a Edir Macedo); isto sem falar em dezenas de portais respeitáveis, a começar pela Carta Maior, as revistas Fórum e Caros Amigos e os sites individuais. No final do segundo turno, até a Isto É, publicação semanal da Editora Três (família Alzugaray) começa a bater no governo de São Paulo, levantando suspeitas relevantes de falta de idoneidade na administração pública. Estas seriam as publicações que, uma vez alinhadas com o mandato de Luiz Inácio, defenderiam a sucessora contra o PIG e seus candidatos.  Não é difícil concordar com estar parte do consenso das esquerdas brasileiras ao bater na direita e não afirmar de maneira leviana que a coligação de centro-esquerda é idêntica a de centro-direita. Até aí tudo bem, mas como não atacar a imagem de Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma (PT-RS)? Indo além, como não atacar as políticas de comunicação do governo Lula, cujo maior feito fora a aprovação do padrão japonês para o Sistema “Brasileiro” de TV Digital Terrestre?  No Brasil atual, uma parte (ainda minoritária, é verdade) da mídia empresarial conforma um bloco governista e sai vitoriosa das urnas em outubro. Ir a reboque de um governo de turno e não apostar em forças próprias já ocorrera antes, como na primeira metade da década de ’60, em especial no último ano do governo de João Goulart. Quando veio o golpe de 1º de abril de 1964, simplesmente não havia dispositivo de contra golpe organizado e nem sequer uma resistência popular à altura dos acontecimentos. Quando a militância, os setores críticos da academia e as entidades de exercício e direito a comunicação se vêem na adesão de um projeto político escorado em grupos empresariais consolidados, eis o conceito de reboquismo

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