sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Só 25% dos brasileiros conseguem compreender e interpretar diferentes textos


Em 16/02/2011
 
O baixo nível de letramento é um problema complexo que está associado a múltiplos fatores, como a desigualdade social, a democratização do ensino, o acesso aos bens culturais, as condições de vida e de trabalho. Não é um problema só da escola, mas é um problema também da escola!



Apesar do investimento para inverter a curva ascendente dos índices de analfabetismo no Brasil, os números mostram uma situação alarmante. De acordo com pesquisas do IBGE, há 14,2 milhões de analfabetos entre a população acima de 15 anos de idade e 32,1 milhões de analfabetos funcionais. Analisando os estudos do INAF - Índice Nacional de Analfabetismo Funcional, encontra-se um cenário ainda mais desolador: apenas um quarto da população (25%) é capaz de compreender, interpretar e comparar informações de diferentes textos. A conclusão parece óbvia: ainda que crianças tenham acesso às escolas e que consigam permanecer nas salas de aula por mais de quatro anos, não há garantia de que seja cumprido o mais básico dos objetivos da escolaridade: a efetiva aprendizagem da língua escrita.

Com o objetivo de discutir a temática em sua complexidade, contribuir para erradicar o analfabetismo e superar os baixos níveis de letramento, o livro Textos em contextos - Reflexões sobre o ensino da língua escrita (224 p., R$ 50,90), lançamento da Summus Editorial, usa o referencial socioconstrutivista para relacionar teoria e prática em diferentes abordagens. Organizada pela educadora Silvia M. Gasparian Colello, a obra reúne artigos de profissionais que fazem parte do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alfabetização e Letramento (Geal). Partindo de suas próprias experiências, com professores e alunos de diferentes idades e em diferentes contextos, eles apresentam suas pesquisas e discutem aspectos do ensino da língua escrita.

O compromisso de ensinar a ler e a escrever na escola, segundo Silvia, deve ser um meio e uma meta para todos os educadores. Meta porque alfabetizar é uma atribuição formal da escola. Meio porque, sem domínio da leitura e escrita, os alunos ficariam à margem dos propósitos educativos mais amplos; entre eles, o de participar efetivamente de muitas práticas sociais de comunicação. "Alfabetizar é mais do que ensinar a escrever corretamente; é garantir ao sujeito a oportunidade de se aventurar na língua para libertar o pensamento e compreender o mundo", afirma a educadora.

A consciência do duplo significado do ensino de língua escrita põe abaixo as concepções de que "a alfabetização é uma atribuição apenas dos professores das séries iniciais" e "o ensino da língua materna é uma responsabilidade específica do professor de português". Em outras palavras, compreender a natureza da língua, os processos de alfabetização, os mecanismos de construção cognitiva, as relações do sujeito aprendiz com a sociedade letrada, a realidade da formação e das condições de trabalho dos professores e, finalmente, os percalços da transposição didática para um ensino de qualidade são caminhos indispensáveis para todos aqueles que se importam com educação, entendendo-a como instrumento de luta pela consolidação da democracia do país.

Respeitando a diversidade de abordagens, o livro está organizado em cinco partes. Na Parte I, o propósito das autoras foi o de situar as concepções acerca da língua e suas implicações para a prática pedagógica. O foco da Parte II recai sobre as trajetórias escolares e sua relação com a aquisição da escrita. Afinal, o que significa saber ler e escrever e como estudantes de diferentes idades lidam com essa aprendizagem?

As escritas de crianças e jovens em diferentes contextos de produção constituem o recorte temático da Parte III, que tem o objetivo de investigar especificidades dos processos cognitivos na aquisição ou produção da escrita. "A compreensão de diferentes variáveis na produção textual dos pequenos escritores pode representar uma importante contribuição para o modo como os educadores se relacionam com o sujeito aprendiz e com a construção da prática pedagógica. Vivida a longo prazo, a história dessa relação é, contudo, um processo que não se completa nas séries iniciais e, ao longo da trajetória escolar, vai deixando suas marcas em produções textuais tantas vezes comedidas ou transfiguradas", afirma a educadora.

A Parte IV traz uma avaliação sobre as atividades propostas pelos livros didáticos aos alunos, além de ampliar a reflexão sobre os desafios da transposição pedagógica. E, finalmente, na Parte V, o tema da transposição é retomado pela perspectiva das concepções docentes e suas implicações na formação continuada.

As experiências apresentadas no livro revelam, segundo Silvia, que a aprendizagem não se processa por uma via de mão única, do professor para o aluno. "Ela pressupõe um ativo processo de reflexão a partir do qual o estudante lida com as informações e delas se apropria por diferentes vias", afirma. E conclui: "A revisão das concepções de ensino e das diretrizes pedagógicas não será uma prática estéril se ela puder subsidiar a construção de uma escola que possa, efetivamente, ensinar a ler e a escrever".



A organizadora

Silvia M. Gasparian Colello é formada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Mestre e doutora também pela USP, é docente, na mesma instituição, dos cursos de graduação e de pós-graduação. Coordenou cursos de capacitação docente, ministrou inúmeras palestras e prestou assessoria a escolas particulares e públicas, coordenadorias de ensino e secretarias de educação. Na condição de pesquisadora, coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alfabetização e Letramento (Geal). O produto desse trabalho evidencia-se na participação em inúmeros eventos científicos e na publicação de artigos no Brasil e no exterior. É autora dos livros Alfabetização em questão (Paz e Terra, 2004), A escola que (não) ensina a escrever (Paz e Terra, 2007) e Alfabetização e letramento: pontos e contrapontos (em coautoria com Sérgio Leite e Valéria Arantes, Summus, 2010).

Nenhum comentário: