terça-feira, 1 de março de 2011

Movimentos sociais preparam mais pressão sobre o governo

01/03/2011
    A pressão dos movimentos sociais sobre o Governo Dilma Rousseff e, de modo especial, sobre a política econômica, começa a crescer. Grandes organizações, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), decidiram nos últimos dias engrossar o coro dos descontentes que reclamam, além de reformas estruturais adiadas nos dois governos de Lula, o fim imediato do que chamam de “agenda regressiva” da equipe econômica: aumento dos juros, congelamento das contratações públicas, o contingenciamento orçamentário de R$ 50 bilhões e pouco diálogo em temas como o reajuste do salário mínimo.
    Na sexta-feira, 80 entidades de 11 estados e do Distrito Federal participaram da plenária nacional da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), em São Paulo, lançaram documento crítico ao governo e acordaram uma jornada unificada de lutas para 2011, que deve começar pela ampliação das ocupações de terra e protestos no “Abril Vermelho” do MST.
    A Coordenação dos Movimentos Sociais reclama que “as ações da equipe econômica estão seguindo um caminho diferente ao combinado nas urnas”, porque reproduzem “a velha pauta” do setor financeiro. Um dos desejos dos movimentos, principalmente o sindical, é compor o Conselho do Banco Central.
    “Nós, dos movimentos, sentimos um profundo carinho pela trajetória da presidente Dilma, mas esse não será um impeditivo para irmos às ruas. Ela não pode adotar o mesmo ritmo de Lula, pois o caminho foi preparado para que ela faça as mudanças agora. E nós cobraremos isso”, afirmou a Brasília Confidencial a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, da coordenação da CMS.
NAMORO E AGENDA
    Durante a abertura da plenária nacional, o presidente da CUT, Artur Henrique, deixou claro que a situação mudou em relação aos governos Lula. O líder sindical frisou que em 2005, na crise do mensalão, a pedido do governo, a CMS se mobilizou e ajudou a impedir a materialização de um suposto golpe contra o Governo Lula.
    “Esse namoro da Dilma com a mídia vai durar seis meses. E aí, depois, o governo virá nos procurar para sustentá-lo, como fez em 2005”, discursou o presidente da CUT.
    Henrique lembrou que o aumento dos gastos de custeio ocorridos durante o Governo Lula significou “aumento da transferência de renda” para as parcelas mais necessitadas da população e denunciou que, agora, ”é neste ponto que estão querendo mexer”. O sindicalista frisou que “a agenda do mercado”, que identificou como a “pauta dos derrotados nas últimas eleições”, não interessa ao povo. Ele defendeu o aumento da pressão dos movimentos sociais “com diálogo e luta, negociação e mobilização”. O governo cogita de uma reunião com dirigentes das centrais sindicais nesta semana, mas o encontro ainda não foi marcado.
    “Assim como os empresários têm interlocução direta, nós também precisamos ter. E não é reuniãozinha, mas um espaço institucional que envolva os ministérios e as autoridades afins para debater e resolver os nossos problemas, que são os do povo brasileiro”, disse o presidente da CUT.
DISCURSO
    O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, afirmou que as medidas adotadas pela equipe econômica de Dilma estão na contramão do projeto pelo qual ela foi eleita.
    “As últimas ações do Governo Dilma representam um balde de água fria sobre o aquecimento da possibilidade de desenvolvimento brasileiro”. Para o dirigente estudantil, a equipe econômica adotou um discurso mentiroso.
    “Salário mínimo de R$ 545,00, juros altos, corte assustador de R$ 50 bilhões, congelamento de contratações. E a justificativa para isso é um discurso mentiroso, como é o tal surto inflacionário, os gastos públicos”, protestou Chagas, avaliando que a real sangria  está no pagamento de juros aos banqueiros, que ele classifica como “uma distribuição de renda às avessas”.
    O MST defende uma pauta unificada com os seguintes pontos: reformas agrária, urbana, educacional e política, democratização da comunicação, combate à criminalização do movimento sindical e da pobreza, defesa do pré-sal, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e defesa das lutas sociais, como o passe livre para os estudantes e o combate à violência contra as mulheres.

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