Leia abaixo, também, um tributo que escrevi para ele.

Fique à vontade para compartilhar tanto o áudio quanto a homenagem livremente em diferentes plataformas.


NYASH, UMA VIDA COMPROMETIDA COM A MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA NAS FAVELAS

Nyash quase sempre carregava um grande sorriso, porém, junto de seu sorriso, estava uma grande paixão pelas pessoas menos afortunadas e as injustiças que elas sofrem. As injustiças do Estado, localmente e globalmente, concomitantes às injustiças da pobreza.

No começo de fevereiro, fui almoçar com Nyash no gueto de Korogocho, onde ele viveu a maior parte de sua vida. Nós tinhamos combinado de nos encontrar em Othaya, um "nyama choma", espécie de churrascaria muito popular em Korogocho.Cheguei um pouco mais cedo e, quando ele chegou, já estava com seu sorriso característico. Desculpou-se pelo atraso por estar concluindo outras reuniões. Eu entedi, porque sabia que Nyash era tão proeminente e profundamente envolvido em tantas iniciativas em trazer uma vida melhor para as pessoas de Korogocho.

Momentos após sua chegada, Nyash começou a ajudar o garçom a servir as pessoas que entravam aos bandos no restautrante. Ele passava de mesa em mesa cortando carne e lavando as mãos das pessoas. E não fazia isso porque trabalhava lá, mas porque percebeu que o único garçom do local estava sobrecarregado.

Enquanto servia as pessoas próximas da minha mesa, lançou aquele largo sorriso para mim e disse gentilmente, 'sisi ni watumishi wa community - nós servimos à comunidade'.

Essas (cinco) palavras descrevem como Nyash vivia e morreu - servindo à comunidade que ele amava. Servindo ao povo das favelas de Korogocho para colocar comida em suas mesas, selar as goteiras dos telhados, levar suas crianças para a escola, combater a criminalidade, fazer melhorias nas estradas, viver pacificamente, encontrar meios dignos de sobrevivência e ter voz.

Nyash fez isso através de várias organizações das quais ele participou como: Kosh FM, rádio comunitária de que ele foi co-fundador e presidiu; Koch Hope, outra organização de que ele foi co-fundador e que provê banheiros, conferências e recreação para as pessoas de Korogocho; Guetto Films, organização que informa e empodera as pessoas da favela através dos filmes e o Indymedia Kenya, um movimento que fornece uma plataforma para a comunidade ativista encontrar unidade e clareza na sua voz comum para as pessoas.

Desde o momento em que conheceu o Indymedia Kenya, Nyash se transformou não apenas em um participante ativo, mas também em um companheiro proeminente do movimento. Junto de outros três ativistas, ele representou o Indymedia Kenya no Senegal durante uma conferência que o Indymedia fez no país. Ao retornar, ficou imerso na visão e no trabalho do Indymedia Kenya.

Na nossa última 'Conferência do povo', Nyash fez o importante papel de mobilizar ativistas locais e 'stakeholders'. Ele também assegurou que o local do evento estivesse disponível e depois organizou um almoço para os organizadores.

A última vez que falei com ele foi no sábado, dia 18 deste mês. Porque eu estava na Ilha de Lamu, nós agendamos um encontro no dia 22 para prepararmos uma estratégia para o trabalho do Indymedia Kenya em 2012.

Tristemente, na manhã do dia em que deveríamos nos encontrar, eu recebi uma mensagem de texto de Roba, um membro do Indymedia Kenya e renomado músico ativista. A mensagem era simples, 'nós perdemos Nyash, bonge la maandamano Koch.' Nós pervemos Nyash e toda a população de Korogocho está fazendo uma manifestação.

Algumas horas antes, Nyash havia sido morto a balas fora de sua casa em Korogocho. Ele foi baleado no peito e no estomago e não conseguiu chegar ao hospital. Ainda não está claro quem cometeu esse ato brutal e vil. O que está claro é que, apesar de terem tirado a sua vida, eles não podem jamais tomar o seu legado. Deixo vocês agora com as próprias palavras dele:?sisi ni watumishi wa community ? nós servimos à comunidade .?

O maior tributo que podemos fazer para nosso amigo, camarada e irmão Nyash é assegurar que seu serviço permaneça vivo e ativo ao continuarmos a servir as pessoas das favelas de Korogocho e àqueles em nossa sociedade que são menos afortunados.

Nota: o Indymedia Quênia se reunirá e consultará amplamente à comunidade ativista local e internacional sobre como melhor homenagear a Nyash e como contribuir num projeto concreto que ajudará sua família e o povo de Korogocho. 

Por John Bwakali, Indymedia Quênia