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18 de maio 2017 - Dia Nacional da Luta Antimanicomial
FAZ ESCURO, MAS EU CANTO:
LIBERDADE EM TODO
CANTO!
Por uma sociedade sem manicômios: insígnia que
surge em 1987, há 30 anos, durante o II Encontro Nacional dos Trabalhadores de
Saúde Mental, em Bauru/SP, constituindo um singular coletivo – o Movimento
Nacional da Luta Antimanicomial. Desde então, a história é testemunha e atesta
os efeitos da luta pela liberdade e pelos direitos de cidadania na vida dos que
foram historicamente excluídos e segregados pelo abuso da razão.
Ao longo desse tempo, aqui em Minas Gerais,
apesar de comemorarmos o Dia Nacional da Luta Antimanicomial desde 1988, será
em 1997, que a Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam Tam organiza pela 1ª vez
seu cortejo no entorno da Praça Sete. Em sua estreia nas ruas, a manifestação
trazia aos olhos da cidade a poética das artes, vestindo uma bandeira que se
movimentava com a dança do corpo, os parangolés de Hélio Oiticica propondo
autonomia e liberdade, propondo na re-performance da obra, a expansão das
sensações, rompimento e estímulo da expressividade, antítese da lógica
manicomial.
A Escola de Samba, Liberdade Ainda Que Tam Tam
deu continuidade à manifestação no formato de desfile, abrindo alas, em
1998, ano do centenário da Carta dos Direitos Humanos com o primeiro samba
enredo “Pelos Direitos de Vida e de Amor” que organizaria a
manifestação-cortejo com os agrupamentos temáticos relacionados aos direitos
fundamentais: saúde, casa, terra, trabalho, liberdade, lazer, alegria.
E seguiu avenida afora por 5 anos
consecutivos, agraciados pelas composições de Airton Meireles, que nos pautava
e pediam passagem para a loucura desfilar a vida. Prá que remédio em tanta
fantasia?
E fomos em frente, inovando e reinventando ao
ampliar os espectros, os itinerários, as possibilidades e os lugares de
pertencimento, com a realização dos concursos de samba e outros destaques desde
2005 até 2017, ano da realização do 20º desfile pelo Dezoito de Maio,
reafirmando que celebrar também é reagir.
Num alto de retrocessos, com uma escuridão que
se faz presente de modo imperativo a perder o brilho dos afetos das coisas, ao
tentarem nos conter impondo-nos o sombrio da perda dos direitos conquistados e
diante das ameaças à nossa democracia brasileira, reagimos: nenhum passo atrás.
FAZ ESCURO, MAS EU CANTO: LIBERDADE EM TODO CANTO!
Em meio a uma enxurrada de subtrações impostas
ao povo, nesse delicado momento da história do nosso país, resistimos!
Enlouquecidos em nossos brados críticos e retumbantes, querelantes e teatrais,
denunciamos outros interesses que não os da democracia e da igualdade, lançamos
na arena a visão de um novo mundo, um mundo suave, inclusivo, onde os corpos
possam ser livres, onde a composição dos afetos e pensamentos possa dar forma a
potentes atos de criação e convivência. Enquanto subtraem-se da saúde, da
educação, da seguridade social os avanços conquistados, querem nossos corpos,
nossas consciências, querem nosso bem estar em detrimento de outros interesses
que não o da vida plena para todos e assim reeditam a velha escravidão, com
aplausos à “meritocracia”, essa quimera sedutora e excludente.
Por um mundo que não veja a rebeldia como
“erro”, mas como fio condutor para a criação de outras formas do dizer, para a
invenção de outros modos de sociabilidade para as criaturas. Por um mundo que
veja a loucura como a experiência que nos ensina sobre nossa humanidade. Essa é
a sociedade sem manicômios!
É um chamado ao encontro com a alteridade do
delírio, um olhar para o trabalho do louco, para a percepção da experiência de
enlouquecer. Faz escuro e precisamos da “claridez” para iluminar as saídas,
precisamos do louco reconhecido como criatura humana. Nossa intervenção em
forma de carnaval, nada mais é do que proposição de uma realidade que produza a
superação dos preconceitos e das dificuldades geradas na e pela indiferença.
E quando o poeta diz que: “Em Minas Ninguém
enlouquece, se manifesta!”, é nessa licença poética que a Escola de Samba
“Liberdade ainda que Tam Tam” vai festejar seus 20 anos de lutas e conquistas!
Que a Luta Antimanicomial vai comemorar seus 30 anos de coragem e ousadia.
Se no escuro o medo nos assombra, amedronta,
fecha e tranca, é nele que podemos encontrar a oportunidade de nos perceber,
reconhecendo nossa força e capacidade de resistência. Podemos fazer da
escuridão uma saída e não um ponto final.... Segue o enredo da vida e a escrita
de cada história, com a força da poesia e a coragem revolucionária do novo: um
novo canto e outros cantos que nos alentarão rumo à sociedade sem manicômios _
um outro gerador de vida.
Nosso desfile evoluirá com as seguintes alas:
1ª ALA: “Não se Coloca Ponto Final na Estaca
Zero”
Há exatos 30 anos, em Bauru/SP, aconteceu o II
Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental - um momento histórico na
Reforma Psiquiátrica que mudou o calendário brasileiro, alterou destinos,
produziu vida, iluminou saídas. Ali se definiu o lema ético “Por Uma Sociedade
Sem Manicômios” e foi instituído o Dezoito de Maio como Dia Nacional de Luta
Antimanicomial.
Em Minas Gerais, 10 anos depois, saía pelas
ruas do centro da capital uma manifestação/cortejo, uma preliminar do que seria
a Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam e para dar o tom daquele
acontecimento foi parodiado um samba do Martinho da Vila: “Canta, canta, minha
gente, deixa a tristeza prá lá, com a saúde mental encantar BH”.
Em 1988, ano do centenário da Carta dos
Direitos Humanos, foi composto o 1° samba original que organizou a
manifestação-desfile com agrupamentos temáticos, “pelos direitos de vida e de
amor”.
O “Louco Encanto” de Airton Meireles, com
direito à “Amazônia Ornamental na Alemanha ou à Geleira Tropical” aqui, trilhou
sonoramente a nossa homenagem a César Rodrigues Campos, em 1999.
E desfilamos avenida afora por 5 anos
consecutivos, agraciados pelas composições do Airton Meireles que “pediam
passagem prá loucura”. “Cabeça que é palha e que fica acesa noite e dia, quando
atrapalha, bota remédio em tanta fantasia?”
“O louco de hoje em dia quer sambar, ter
trabalho, emprego e por ser de lua cheia, traz a teia do Bispo para andar livre
no mundo pintado em aquarela. Viva os serviços de agora, as ONGs e os soldados
livres na avenida, para vencer a exclusão”.
Desde 2005, até nossos dias, acontecem os
concursos de samba enredo, a escolha da rainha de bateria e do casal de Mestre
Sala e Porta bandeira trazendo histórias e personagens por um caminho que se
faz aberto na “luta por delicadeza e em versos o reverso de um sonho para viver
em Minas livre e tam tam. Estou ouvindo vozes?”.
Nos enredos, ainda, a defesa incondicional do
SUS e do direito à diferença; as denúncias sobre a manipulação midiática, sobre
os desmandos do poder imperialista e a crítica às estruturas que aniquilam a
existência.
Nesse 20º desfile da Liberdade Ainda Que Tam
Tam confirmamos o poema de Olavo Romano que diz: Em Minas Ninguém enlouquece,
se manifesta! Por isso aqui nos apresentamos e seguiremos tecendo o manto dessa
história até o tempo da sociedade sem desmandos, respeitada em sua diversidade:
a luta por uma sociedade sem manicômios e seus 30 anos de existência.
(Serviços: Brumadinho, Hospital Galba Veloso,
Cersam Pampulha, Centro de Convivência - CC Pampulha, C.C. Oeste, Cersam Oeste.
Referência: Gisele/ Wilma: 3277-7310).
2ª ALA: “Há de Enlouquecer, Sem Perder a
Criatura”
Criador e criatura, sem perder a loucura, que
por vezes cria dor, mas atura e cria à altura. Num alto de retrocessos, com a
escuridão que se faz presente de modo imperativo, a perder o brilho dos afetos
das coisas, quando tentam nos conter impondo-nos o sombrio, reagimos: Nenhum
passo atrás. Lutamos por igualdade social, vendo os loucos como pessoas,
sujeitos que podem e devem mostrar sua loucura na arte e no cotidiano sem ser
tratado com preconceito.
Para que a diferença seja tratada na
igualdade, fazemos um chamado para um encontro com a alteridade do delírio.
Lançando uma mirada para o perspectivismo da loucura, damos luz ao louco e às
suas criaturas, convivas nossos de cada dia. Resistimos!
Enlouquecidos, com gritos frenéticos e brados
retumbantes, querelantes, teatrais e críticos, denunciamos os interesses e
desvios da luta entre o velho e o novo e lançamos na arena a visão de um novo
mundo, um mundo suave, inclusivo, onde os corpos possam ser livres, onde a
composição dos afetos e pensamentos deem forma a potentes atos de criação. Por
um mundo que não veja a rebeldia como “erro”, mas como fio condutor para a
criação, para as criaturas, partículas da vida em sua singela trajetória de
encontros e desencontros. Faz escuro, mas eu canto: liberdade em todo canto!
(Serviços: C.C. Barreiro, Sabará, Cersam
Barreiro, C.C. Providência, Cersam Norte. Referência: Betânia (3277-7482) e
Marise (3277-5889)
3ª ALA: “Adulto, Não nos Adultere!”
Desde o primeiro desfile da Escola de Samba
Liberdade Ainda Que Tam Tam, essa tradicional ala colore a avenida com sorriso
e carisma de cada criança e adolescente que ela representa.
Além de dar mais esperança a essa luta, o faz
com a leveza e a alegria que só os foliões mirins conseguem levar às ruas.
Este ano, o tema da ala é “Adulto, não nos
adultere!”, buscando sensibilizar a sociedade quanto à necessidade de atenção e
cuidados com as crianças e adolescentes. Adulterar é colocar em risco o encanto
da infância e adolescência. Dar a eles uma vida digna requer a garantia de
proteção e cuidados.
Esse apelo vem também num momento em que temos
assistido em Belo Horizonte à legitimação de um doloroso processo de sequestro
de crianças de mães com trajetória de rua e/ou usuárias de drogas. Suas
crianças são retiradas e dadas em adoção a partir de decisões da Promotoria de
Justiça da Infância e Juventude de Belo Horizonte. Essa é uma emergência que
criminaliza a pobreza, discrimina as mulheres e violenta as crianças e suas
mães.
Adulterar uma criança ou adolescente é
roubar-lhe as chances de uma infância rodeada de carinho e cuidados e,
sobretudo, é 'adultizá-la' precocemente infringindo-lhe dor e sofrimento.
Adultos, respeitem nossas crianças! No lugar
das marcas que a violência tem deixado em seus corpos, vamos envolvê-los em
laços de afeto, dignidade e delicadeza. Nesse 18 de Maio, as crianças e
adolescentes darão seu grito “Adulto, não nos adultere!”, um alerta, um
imperativo à toda sociedade.
(Serviços: Cersami Noroeste, Cersami Betim,
Arte da Saúde, CAPS I Neves, Equipes Complementares, Cersami Nordeste.
Referência: Rosalina (3246-7565(7564)) e Wellington (3277-9279/99974-7202).
4ª ALA: “Não Me Tires o Que Não Podes Me Dar”
Com o advento da Reforma Psiquiátrica no
Brasil, assistimos a partir dos anos 90, a um crescimento de demandas em
atenção psicossocial aos usuários de drogas na rede de saúde mental. Nos anos
2000, se instalam os primeiros CAPS/CERSAM Álcool e outras Drogas e em 2011 os
Consultórios de Rua inauguram a atenção aos usuários nas cenas de uso de álcool
e outras drogas em Belo Horizonte, demarcando o compromisso do SUS com os
usuários de drogas em situação de rua através das estratégias da Redução de
Danos. A Unidade de Acolhimento Travessia – em Belo Horizonte, há 2 anos traz o
diferencial para a continuidade do cuidado - um lugar que se opera nos
intervalos, nas descobertas, nas construções, no morar, na convivência!
Para iluminar nossa trajetória de luta
antimanicomial, buscamos o filósofo Diógenes de Sinope, o cínico, que no século
III a.C., com uma lanterna acesa durante o dia procurava uma pessoa honesta nas
ruas de Atenas. Diógenes “mangueava”, ou seja, pedia dinheiro às estátuas da
cidade alegando estar treinando para suportar a reação das pessoas. Morando em
um barril, encontrou tudo o que precisava para viver. Certa manhã de sol,
Alexandre, o Grande, se aproxima de Diógenes e lhe oferece qualquer coisa que necessitasse.
Este o contesta “Não me tires o que não podes me dar”; e assim Diógenes
solicita “Afasta-te do meu Sol”, algo tão necessário que nem a pessoa mais
poderosa da terra poderia lhe dar. Diógenes foi um filósofo em situação de rua
que se denominava “Cidadão do Mundo”, através de seu cinismo, produziu com seu
modelo de vida, uma experiência radical de liberdade e crítica ao poder.
Hoje em dia, entende-se que os “cidadãos do
mundo” têm como princípio fundamental o direito de transitar e se expressar em
liberdade, reconhecendo suas condições para apontar e construir sua trajetória
de vida da maneira que lhe é possível e suportável. A política de Redução de
Danos é antimanicomial e uma conquista que respeita a autonomia do sujeito na
construção do que deseja e de fato necessita.
Nos últimos anos, mulheres cidadãs do mundo,
usuárias de drogas em situação de rua, sofreram a destituição do direito de ser
mãe e a perda do direito dessas crianças de estarem com suas famílias extensas.
Direitos violados pelas Recomendações nº05/2014 e 06/2014 da 23ª Promotoria de
Justiça da Infância e Juventude de Belo Horizonte e da Portaria Nº 3 da Vara
Cível da Infância e Juventude; mesmo diante das orientações da Resolução
Estadual que visa preservar o direito dessas mães exercerem a maternidade
“possível”, no escuro que estamos vivendo, os filhos de cidadãos do mundo são
sequestrados em nome da pseudoproteção social.
Sob a voz dessas mães e demais cidadãos do
mundo, damos volume ao coro que afirma “não me tires o que não me podes dar”-
pela Liberdade e pelo direito de ser mãe, pelo direito de ser cidadão do
mundo. Em tempos de poderes sombrios resgatamos a lanterna de Diógenes e
pedimos licença, pois “o sol há de brilhar mais uma vez e o amor será eterno
novamente”.
(Serviços: CR Noroeste, C.C. Carlos Prates,
Cersam Noroeste, Cersam AD Barreiro, CMT, CR Norte. Referência: Elisa: 3277-
7228)
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