RESAB – REDE DE EDUCAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
TEXTO DE ALERTA CONTRA O PRECONCEITO
Em análise para a escolha dos livros que servirão de apoio didático para o ano de 2009, o setor pedagógico do Geo Petrolina recebeu da Editora Moderna o livro "Caatinga: a paisagem e o homem sertanejo" de SAMUEL MURGEL BRANCO, o qual, de tão preconceituoso com os sertanejos nordestinos, não deveria ter sido nem publicado (já está na 2ª edição, de 2003, e na 16ª impressão). Vejam o que o autor (professor da USP, consultor da OMS - Organização Mundial da Saúde) diz sobre alguns elementos constitutivos da história, da cultura e do bioma caatinga. Se você é nordestino/brasileiro, prepare-se para ficar com raiva, muita raiva.
Vejam DOZE pérolas do preconceito desse livro (nele tem muito mais):
1-"Se você viajar de avião, de Salvador para as terras do interior da Bahia, e observar a paisagem, irá deparar com uma brusca mudança. O ambiente úmido da orla marinha, povoado de graciosos coqueiros, e a extensa planície de densa vegetação são, repentinamente, substituídos – a menos de 90 quilômetros do mar – por uma plataforma imensa, de solo pedregoso, de coloração amarelo-avermelhada onde vegetam apenas os cactos e arbustos espinhosos e retorcidos. Uma
paisagem seca e pobre, contrastando tristemente com o panorama vivo e
alegre do mar e das matas que ficaram para trás. É a paisagem do sertão. Sua vegetação é a caatinga."
A imagem da caatinga apresentada pelo autor, como fica explícito no trecho transcrito, é a de uma região feia e agressiva. Isso é reforçado com a retomada de expressões similares em diversas partes do livro, como nas seguintes páginas:
2-"O que caracteriza, realmente, essa vegetação, que se estende a perder de vista sobre as chapadas nordestinas, é a sua aparência ressequida, tortuosa e agressiva, como que torturada pelo sol calcinante e pela ausência de chuvas" (p.9)
3-"O caboclo é o único ser humano capaz de sobreviver nessas terras" (p.16).
4-"O sertanejo é apenas contratado pelo fazendeiro, um rico proprietário, que vive no litoral e que, muitas vezes, nem sequer conhece suas próprias terras" (p.54)
5-Seguindo a linha teórica que inferioriza a caatinga e o sertanejo por morar nela, o autor apresenta o sertanejo como um ser atrasado, rude e – o mais grave – preguiçoso. Na p.16, o autor descreve o sertanejo assim:
"De aparência indolente e tostado pelo sol, com a pele esturricadacomo as próprias plantas espinhentas e retorcidas que o cercam" (grifo nosso).
Definição do Dicionário Aurélio para a palavra indolente: " 1.Que ou quem é insensível, apático. 2. Que ou quem evita esforço, trabalho, preguiçoso (grifo nosso).
6-" O principal meio de transporte no sertão nordestino é o jegue" (p.17)
7-"Como não possui automóvel, o sertanejo leva um dia inteiro transportando, sobre a cabeça ou no lombo do jegue, uma lata d'água que mal dá para saciar a sede da família" (p.15).
8-"A riqueza cultural do sertanejo, responsável pela sua regionalidade e baseada em tradições, observações e costumes milenares, dever ser objeto de estudo para oferecer-lhe explicações racionais e objetivas sobre a natureza da caatinga, em substituição às suas crendices e atitudes incoerentes e nocivas" (grifo nosso).
Para o autor, portanto, o sertanejo é incoerente (errado) em suas crenças e precisa da "luz da ciência e da objetividade" – das quais ele (o autor) é o representante.
9-"Criação de jegues" (p.51). Esse animal não é criado em grande quantidade, como diz o livro.
10- "A jacarezada é prato típico das regiões situadas às margens do Velho Chico e, segundo dizem, muito saboroso" (p.46). Não há registro desse "prato típico da região".
11-Sobre Lampião, os retirantes e os jagunços, o autor diz: "Quando essas retiradas (sic) se dão em massa – e no caminho faltam comida e água -, os retirantes podem promover assaltos. Já houve época em que alguns indivíduos desses grupos de retirantes tornaram-se bandidos – os chamados jagunços -,os quais se embrenhavam na caatinga para fugir da polícia. Formavam, então, bandos, que passavam a viver de assaltos e matanças e empregavam sua própria justiça. O mais famoso desses bandos foi o de Lampião." (p.66).
Resumindo: segundo o autor:
a) ainda existem retirantes (as retiradas se dão em massa);
b) os retirantes, que ainda existem, podem promover assaltos;
c) os retirantes podem se transformar em jagunços;
d) Lampião foi um retirante e um jagunço. Quem conhece um pouquinho da história do Nordeste sabe que nada disso é verdade.
12-"Por que o solo do sertão não produz quase nada?" (p.26).
Como assim, o sertão não produz quase nada?
O autor desconhece a produção de frutas tropicais do Vale do São Francisco (93% da manga exportada pelo Brasil sai dessa região, localizada no sertão de Pernambuco e da Bahia). O autor desconhece a produção de uva (duas safras por ano, coisa que nem o Rio Grande do Sul consegue), cebola, tomate, acerola, melão etc. Em Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande (também sertão de Pernambuco) tem grandes vinícolas que usam a uva produzida nessa região.
Para refletirmos ( e agirmos):
Alguns dos pilares da pós-modernidade são: a luta pelos direitos das minorias, o respeito à diferença e o combate a qualquer forma de discriminação/ de preconceito. O livro "Caatinga: a paisagem e o homem sertanejo", da Editora Moderna (São Paulo), destinado a alunos do Ensino Fundamental, foge a esses princípios porque propaga idéias preconceituosas com os nordestinos.
Sugerimos que instituições defensora dos Direitos Humanos tomem, a partir da análise aqui feita, tomem iniciativas inibidoras do preconceito com os nordestinos sertanejos. Entendemos que está mais do que na hora de os nordestinos/ sertanejos também exigirem respeito à sua identidade como povo (isso está na Constituição Federal), postura adotada pelo genial poeta sertanejo Patativa do Assaré, quando escreveu no poema musicado Cabra da Peste:
"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome , pergunto: que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."
O Geo Petrolina já apresentou esse estudo à imprensa e à câmara de vereadores de Petrolina, a qual fará moção de repúdio ao conteúdo do livro. Este texto está sendo enviado para diversas instituições públicas e particulares para que o "silêncio dos bons não seja uma arma para o triunfo do mal".
PETROLINA, SERTÃO DE PERNAMBUCO (COM MUITO ORGULHO)
DEZEMBRO DE 2008.
"Meu interesse está no futuro porque é lá que vou passar o resto da minha vida."
"Se você está compromissado com o seu objetivo, é possível!"
Um comentário:
Eu não sei que foi o ignorante que começou com essa história sobre o livro Caatinga ser preconceituoso, mas com certeza ele nunca leu Euclides da Cunha ou sequer ouviu Fagner. E mais, o infeliz nunca comeu jacarezada na vida dele. Vergonha somos nós nordestinos, ficarmos dando corda e fazendo papel de ignorantes. Deem uma olha nos textos de Euclides e pelo amor de Deus! Leiam o livro original, porque o idiota que criticou, alterou o texto. O infeliz, repito, disse que não existe jacarezada. Para tirar a dúvida, procurem por um livro de um conterrâneo que é "o Grande Líder", na pagina 22 faz refência ao prato típico, e que por sinal é um delicia!
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