terça-feira, 14 de abril de 2009

Noticias do FSM

1- Ocupação Dandara

2- Território Quilombola do Sapê do Norte- ESPIRITO SANTO

3- Uma noticia sobre os piratas nas costas da Somália – vale a pena ler


UM MAR DE BARRACOS DE LONA.

O que começou com 150 famílias, na madrugada do dia 09/04, já alcança hoje, na tarde de segunda, a marca de 981 barracos cadastrados e numerados. Em alguns é possível encontrar famílias com dez ou quinze pessoas, dentre adultos, jovens e crianças. Ou seja, estima-se a presença de mais de quatro mil pessoas na mais nova ocupação rururbana de Belo Horizonte.

Batizada de Dandara, em homenagem a companheira de Zumbi dos Palmares, a ação foi realizada conjuntamente pelo Fórum de Moradia do Barreiro, as Brigadas Populares e o MST. A ação faz parte do Abril Vermelho, em que se reforçam as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana.

Neste sentido, a Dandara traz dois diferenciais. O primeiro é o perfil rururbano da ação, que reivindica um terreno de 40 mil metros quadrados no bairro Céu Azul, na periferia de Belo Horizonte. A idéia é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.

O segundo diferencial é a conjuntura da crise do capitalismo. A enorme massificação da área pelas famílias da região foi surpresa para todos os militantes presentes, e ainda segue chegando gente, na busca de sair de áreas de risco ou fugindo do aluguel que se tornou impagável.

Multiplicam-se os barracos de lona, entram famílias inteiras com colchões, móveis, fogões, filhos e sonhos. É a confirmação da instalação da crise econômica do capital, que vem varrendo o mundo por conta da insanidade dos ricos na sua busca de mais lucros no mercado financeiro, através do neoliberalismo do ultimo período. Agora pretendem cobrar a conta dos pobres, através do desemprego, da fome e da violência.

Histórico e Situação Atual

  • A ocupação foi realizada na madrugada de 09/04/09 com 150 famílias, pelo Fórum de Moradia do Barreiro, Brigadas Populares e MST. O terreno tem 40 hectares e está abandonado desde a década de 70, além de acumular dívidas de impostos na casa de 18 milhões de reais. Veja link 2, 3 e 5.
  • Toda a imprensa cobriu o caso e está havendo grande repercussão pública em Belo Horizonte. As matérias de modo geral (exceto Globo) têm tratado com relativa isenção, e o Estado de Minas resolveu silenciar. A Record tem feito plantões permanentes atualizando os fatos e dando a melhor cobertura.
  • Ao final do primeiro dia a polícia tentou despejar sem liminar de reintegração de posse, e durante a noite, o que é proibido por lei. Foram três horas de terror, com a investida de mais de 150 homens do batalhão de choque, que explodiram bombas, lançaram gás pimenta e destruíram dezenas de barracos com vôos rasantes de helicóptero.
  • A comunidade, em apoio aos manifestantes, resolveu intervir, atirando pedras e enfrentando fisicamente a polícia, o que resultou em vários feridos e três presos.
  • A polícia tem aproveitado o enorme efetivo deslocado para o local para enfrentar o tráfico de drogas da região, unificando o tratamento dado aos bandidos e aos lutadores do povo que reivindicam moradia. Também tem atuado de forma arbitrária ao confinar os barracos em uma área restrita dentro do terreno, onde já não cabem mais pessoas, e proibindo a instalação de tendas de reuniões, banheiros e acesso a água e energia.
  • Não param de chegar famílias para acampar. A última contagem numerou mais de 891 barracos e estima-se que isto corresponda a cerca de três à cinco mil pessoas (entre adultos, jovens e crianças).
  • Há intimidações da Construtora Modelo (http://www.construtoramodelo.com.br) que se alega proprietária, e através de sua advogada pressionou a retirada das famílias ameaçando o uso de seu poder econômico e de relações escusas com o judiciário. Segundo a advogada Márcia Froís seu marido seria desembargador do TJMG. Mesmo assim o pedido de liminar foi negado pelo plantão do tribunal, o que demonstra a inconsistência dos argumentos da construtora.
  • À medida em que se aglomeram mais pessoas aumentam os problemas de higiene e saúde, já que não há saneamento, nem acesso à água e energia. A noite todos ficam no escuro, ou à luz de velas e lamparinas, o que é um risco à segurança pela possibilidade de incêndio.
  • A comunidade local segue apoiando, (veja link 4) e muitos moradores tem tentado ajudar com comida, água, materiais de construção usados e outras coisas.
  • Existe possibilidade iminente de sair um despejo no pleno do tribunal, a partir de segunda-feira, o que reforça a necessidade de ajuda à esta situação.

Atualizações:

o A polícia tem dado vôos rasantes de helicóptero, intimidando as famílias acampadas.

o Ainda não foram solucionados os problemas de acesso à água e energia.

o Não há mais espaço na área de confinamento que a PMMG demarcou, mas seguem chegando famílias. Fizemos uma lista de espera que já tem 300 cadastros de famílias querendo entrar na Dandara.

O QUE VOCÊ PODE FAZER?

Precisamos apoio:

Político: até agora pouquíssimos parlamentares estiveram no local, e o poder público de modo geral tem se omitido, restando como interlocutor do Estado somente a Polícia Militar. Perguntamos se a mentalidade do Governo Aécio e do Prefeito Márcio Lacerda é de tratar os resultados da Crise Mundial, quando chegam aqui através do desemprego e da falta de moradia como caso de polícia?

Pedimos a todos enviar este correio e buscar em suas articulações o apoio necessário para assegurar a vitória desta luta justa.

Financeiro: a situação é muito precária!!! Falta água potável e alimentos, principalmente para as crianças, lona para as barracas, materiais diversos, pilhas e lanternas, velas, cobertores, materiais de limpeza e higiene pessoal, colchões, etc.

Estamos coletando as contribuições no próprio local, na secretaria da Ocupação Dandara, perto da portaria. Ou em dinheiro na conta poupança da CEF nº 204470-4 da agência 2333, op 013.

Militante: Precisamos de apoio dos militantes de Belo Horizonte, que estejam dispostos a ajudar a coordenar a ocupação, contribuindo nos corres externos e internos. A luta deve se intensificar nas semanas que vem, e a massificação também tem multiplicado as tarefas e demandas da luta. Precisamos apoio técnico nas áreas jurídica e de comunicação.

Ainda não conseguimos uma aparelhagem ou carro de som para as Assembléias, que a medida que tem mais gente ficam difíceis de se fazer sem este recurso.

AGENDA:

Próximas reuniões do comitê de solidariedade da Ocupação Dandara:

Terça, 14/04 as 19h30 no DCE UFMG

Quinta, 16/04 as 19h30 no DCE UFMG

Maiores informações nos telefones 31 85223029 e 31 97026725

DCE UFMG: Av Guajajaras, 694, Centro Belo Horizonte.

PARA VISITAR:

A área está situada no bairro Céu Azul, na Nova Pampulha, no encontro das Ruas Estanislau Pedro Boardman e Petrópolis, em frente a garagem de ônibus. Ônibus: 3302 – 2213 – 2215. (Céu Azul) Descer Próximo à Escola Estadual Deputado Manoel Costa.

Segue o link para o endereço:

LINK 1:

http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=rua+wanderley+teixeira+matos+01&sll=-19.83032,-44.012003&sspn=0.010133,0.01914&ie=UTF8&ll=-19.829371,-44.012153&spn=0.010133,0.01914&t=h&z=16&iwloc=A

LINKS IMPORTANTES:

Vídeo produzido pela Caracol sobre a ocupação:

LINK 2 :

http://www.youtube.com/watch?v=u5oK6hbKe58

REPORTAGENS SOBRE A OCUPAÇÃO DANDARA:

LINK 3:

http://globominas.globo.com/GloboMinas/Noticias/MGTV/0,,MUL1080964-9033,00.html

LINK 4:

http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=16136/noticia_interna.shtml (muito boa esta com depoimento de apoio dos vizinhos)

LINK 5:

http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=16176/noticia_interna.shtml

Mais fotos:

PELO reconhecimento do Território Quilombola do Sapê do Norte- ESPIRITO SANTO

Nós, movimentos sociais do campo e da cidade, entidades, organizações
e pessoas que há mais de 10 anos lutamos contra os desertos verdes em
território capixaba e nacional, estamos muitíssimo preocupado/a/s com
as tentativas de arranjos políticos e negociações de gabinete em torno
da política quilombola em nível federal, estadual e municipal, com
diversas forças agindo no sentido contrário ao reconhecimento e
regularização do território quilombola.

Já faz algum tempo que se observa a guinada, inclusive de militantes
da esquerda partidária brasileira, na defesa dos interesses do
capital. Agora temos em terras capixabas mais um exemplo flagrante da
reorientação política praticada em nível nacional, com grande
repercussão, e que têm desapontado boa parte da aguerrida militância
popular. Trata-se da situação das comunidades quilombolas do
Território Sapê do Norte, localizado no norte do Estado Espírito Santo
(especialmente nos Municípios de São Mateus e Conceição da Barra). As
condições em que vivem essas comunidades refletem bem o atual estágio
das parceiras entre o poder público e os interesses latifundiários e
agroindustriais na região, protagonizadas por lideranças sindicais e
partidárias que hoje ocupam cargos em instituições federais, estaduais
e municipais.

No Sapê do Norte, coberto por eucaliptais e canaviais, as 38
comunidades quilombolas que resistem ilhadas entre estas monoculturas,
vêm buscando recuperar suas terras que foram tomadas pelas grandes
empresas, como é o caso da Aracruz Celulose S/A, que invadiu este
território desde a década de 1970 e provocou sérios impactos
ambientais, sociais, econômicos e culturais na região, conforme
denunciado diversas vezes e por diversos meios e espaços pela Rede
Alerta Contra o Deserto Verde, como por exemplo, a denúncia que
fizemos à Corte Interamericana da OEA, através dos dois Relatórios de
Violação de Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais.

Depois de dois séculos de escravidão dos afro-descendentes, o
reconhecimento dos direitos quilombolas na constituição brasileira de
1988 tem gerado tensões, violência e racismo proveniente dos setores
conservadores do campo que, no Espírito Santo, se articulam no
famigerado Movimento Paz no Campo (MPC). Aliando-se aos interesses do
latifúndio monocultor, dos ruralistas e das grandes corporações, o MPC
tem buscado formas de minar a implementação da lei, através, sobretudo
de lobbies nos poderes legislativos, executivos e judiciários,
notadamente sobre os órgãos públicos responsáveis pelas políticas e
direitos territoriais das comunidades quilombolas.

Esta luta pela restituição do território quilombola, portanto,
encontra um cipoal de dificuldades. No âmbito estadual, os órgãos
públicos que deveriam avaliar e regular a posse de terras, promover e
fomentar a produção agrícola familiar diversificada, bem como cuidar
da preservação ambiental, de um lado, fazem vistas grossas aos
desmandos dos grileiros das terras devolutas e à devastação da mata
atlântica e dos mananciais hídricos que ainda restam na região. De
outro lado, colocam toda a estrutura de pesquisa e extensão rural a
serviço da monocultura de eucalipto e financiam sua expansão a partir
de programas de fomento florestal.

Mas, não é só isso. Após décadas de ocupação irregular do território
quilombola pela monocultura do eucalipto e da cana de açúcar, as
comunidades negras do Sapê do Norte têm sido fragmentadas em pequenos
terrenos, ilhadas pelo deserto verde, cujas famílias, uma vez isoladas
em meio ao eucaliptal, resistem a toda sorte de abusos e violência.

Denúncias em audiência pública promovida pelo Conselho Estadual de
Direitos Humanos (realizada em 2008 no Município de São Mateus), que
contou com a presença de várias autoridades dos Três Poderes da
República, demonstraram que essa violência tem sido praticada por
pessoas contratadas por grileiros, mas, também, por policiais
estaduais, que inclusive invadem as casas das famílias quilombolas sem
qualquer mandado judicial, provocando intimidações e ameaças.

O Poder Judiciário e o Ministério Público, com raríssimas exceções de
alguns de seus membros, recebem essas denúncias com total
parcialidade. Muitas vezes chegam a exagerar no rigor e até na
injustiça, quando se trata de punir negros acusados (muitas vezes sem
qualquer prova) de roubo de madeira pelos grileiros. Contudo, essas
mesmas instituições jamais cuidaram de investigar a fundo as
atrocidades praticadas pelos latifundiários e por policiais sobre as
comunidades quilombolas. Enquanto isso, as famílias negras são
humilhadas e discriminadas inclusive pelo racismo, mesmo quando várias
denúncias são promovidas em audiências públicas com a que ocorreu em
2008.

As Administrações Municipais e as Câmaras de Vereadores também são
coniventes com essa situação. Mas não é para menos. Seus membros
invariavelmente têm suas campanhas eleitorais financiadas pelos
proprietários da monocultura. Prefeituras e Câmaras Municipais mantêm
em seus quadros pessoas declaradamente vinculadas aos movimentos
políticos dos latifundiários e de pequenos proprietários cooptados
pelo falso eldorado dos programas de fomento florestal da Aracruz
Celulose e do governo estadual.

Um caso particular que ilustra bem a situação política da região
ocorre no Município de São Mateus. Ali, o último pleito eleitoral
resultou na Vitória de Amadeu Boroto (do PSB) como prefeito municipal.
O secretariado de Boroto reúne desde o conservadorismo dos fazendeiros
do Movimento Paz no Campo (MPC) até membros da chamada esquerda de São
Mateus, cuja maior expressão tem sido a do seu chefe de gabinete,
Silvio Manoel dos Santos.

Neste contexto da luta emancipadora das comunidades quilombolas,
nitidamente isoladas politicamente, o governo federal procura cumprir
o seu papel conciliador dos conflitos, sem alterar o status quo, como
fica nítido pelos últimos acontecimentos.

Os governantes agem por parâmetros políticos bem nítidos. É bom
lembrar que o governo federal tem como termômetro o apoio político
recebido pela Aracruz Celulose e pelos fazendeiros do MPC, tanto do
governo estadual e das prefeituras municipais, como da grande maioria
parlamentar no Congresso, na Assembléia Legislativa e nas Câmaras
Municipais envolvidas. Não se pode esquecer, também, que a Aracruz
Celulose sempre lembra aos políticos que tiveram suas campanhas
eleitorais por ela financiadas, dos acordos de reciprocidade que
garantiram suas eleições.

Cabe destacar o papel desempenhado pelo senador Renato Casa Grande,
que parece ter herdado a missão da defesa latifundiária do ex-senador
Gerson Camata, combinando interesses corporativos com as demandas
políticas dos financiadores de suas campanhas eleitorais. Com isso,
tem sido um dos parlamentares mais procurados pelos representantes do
MPC.

E foi exatamente numa dessas articulações políticas do MPC que foi
decidida a substituição de um técnico do INCRA que tem trabalhado no
processo de reconhecimento do território quilombola no Estado do
Espírito Santo. Uma nota oficial da Associação dos Servidores do INCRA
(ASSINCRA-ES) denunciou recentemente que o superintendente regional
deste órgão federal, José Gerônimo Brumatti (ex-presidente da CUT-ES e
pertencente ao grupo político de Silvio Manoel dos Santos no PT), tem
promovido uma reviravolta na política de reconhecimento dos
territórios quilombolas no estado. Diz um trecho da Nota Pública da
ASSINCRA-ES:

[WINDOWS-1252?]“No dia 04 de março, o superintendente do INCRA comunicou ao gestor da
Política de Regularização dos Territórios Quilombolas no ES que este
seria substituído, com a justificativa de que era preciso [WINDOWS-1252?]‘negociar’ a
política em São Mateus, tarefa para a qual o atual gestor não teria
[WINDOWS-1252?]‘perfil’ adequado. O futuro gestor, na opinião do superintendente,
deveria ter esse [WINDOWS-1252?]‘perfil [WINDOWS-1252?]negociador’ e representar [WINDOWS-1252?]‘menor [WINDOWS-1252?]resistência’
para o diálogo com os representantes dos interesses dos grandes
proprietários na [WINDOWS-1252?]região.”

Na seqüência a referida Nota Pública indaga o inevitável:

Essa estratégia de negociação com os grandes proprietários do norte do
ES e a substituição do responsável pela Política de Regularização dos
Territórios Quilombolas no estado foram decididas em uma reunião que o
próprio superintendente regional afirmou ter participado,
em São
Mateus, como o novo prefeito, Amadeu Boroto (PSB), e o chefe de
gabinete da Prefeitura, Silvio Manoel dos Santos (PT). Quais
interesses estavam de fato representados nessa reunião?

Para quem nomeou como secretário de Agricultura exatamente o Sr.
Eliseu Bonomo, membro fundador do MPC em São Mateus, o prefeito Amadeu
Boroto não iria patrocinar uma reunião desse calibre apenas para
debater amenidades. Certamente foi acertada a nova orientação política
da Superintendência Regional do INCRA no Espírito Santo, procurando
colocar uma pá de cal no reconhecimento oficial do Território
Quilombola no estado.

Contudo, alheias a esses movimentos oficiais e simplesmente
desconsideradas nesse jogo de barganhas políticas, as comunidades
quilombolas seguem com sua luta pela libertação de seu território e se
colocam ainda mais atentas às próximas jogadas dos que tentam forjar o
sepultamento de seus direitos ancestrais.

Assim, a Rede Alerta Contra o Deserto Verde que se constitui, por 10
anos, num coletivo de lutas e resistências dos povos atingidos pela
perversidade do modelo econômico monocultor/agroindustrial e
concentrador de terras se coloca solidariamente mais uma vez nessa
luta dos povos tradicionais do Sapê do Norte e vem a público denunciar
mais essa armação contra o reconhecimento de seu território.
Reafirmamos nosso compromisso de continuar presente em todas as
mobilizações organizadas pela Comissão Quilombola, na certeza de que a
luta pela libertação definitiva do povo negro em nosso estado não se
dobrará a jogadas rasteiras desses políticos que hoje nos traem.

E defendemos:

· A pronta titulação das terras das comunidades quilombolas do
território do Sapê do Norte e do Espírito Santo;

· O Decreto 4887/03 para a regularização dos territórios
quilombolas no Brasil;

· A discriminação e arrecadação das terras devolutas na região;

· A reconversão dos monocultivos para agroecologia; a
recuperação das nascentes, rios e córregos; garantindo a soberania
alimentar das famílias quilombolas;

· A implementação das políticas públicas para a educação e para
a saúde dos povos tradicionais afro-descendentes quilombolas;

· O direito dos povos a auto-identificação, conforme a
Convenção 169 da OIT.

Vitória, 4 de abril de 2009.

REDE ALERTA CONTRA O DESERTO VERDE NO ESPIRITO SANTO

Assinam também esta nota:

Comissão Quilombola Sapê do Norte (ES)

Instituto Elimu Professor Cleber Maciel [WINDOWS-1252?]– ES

ANAI - Associação Nacional de Ação Indigenista

*Estão-nos mentindo sobre os piratas*

5/1/2009, Johann Hari: *The Independent*, UK

Quem imaginaria que em 2009, os governos do mundo declarariam uma nova
Guerra aos Piratas? No instante em que você lê esse artigo, a Marinha Real
Inglesa – e navios de mais 12 nações, dos EUA à China – navega rumo aos
mares da Somália, para capturar homens que ainda vemos como vilãos de
pantomima, com papagaio no ombro. Mais algumas horas e estarão bombardeando
navios e, em seguida, perseguirão os piratas em terra, na terra de um dos
países mais miseráveis do planeta. Por trás dessa estranha história de
fantasia, há um escândalo muito real e jamais contado. Os miseráveis que os
governos 'ocidentais' estão rotulando como "uma das maiores ameaças de nosso
tempo" têm uma história extraordinária a contar – e, se não têm toda a
razão, têm pelo menos muita razão.

Os piratas jamais foram exatamente o que pensamos que fossem. Na "era de
ouro dos piratas" – de 1650 a 1730 – o governo britânico criou, como recurso
de propaganda, a imagem do pirata selvagem, sem propósito, o Barba Azul que
ainda sobrevive. Muita gente sempre soube disso e muitos sempre suspeitaram
da farsa: afinal, os piratas foram muitas vezes salvos das galés, nos braços
de multidões que os defendiam e apoiavam. Por quê? O que os pobres sabiam,
que nunca soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro *Villains Of
** All Nations*, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos
muito interessantes.

Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles
dias – se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse
faminto –, você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de
grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso, sempre faminto e sem dormir.
E, se se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote
[ing. *the Cat O' Nine Tails*, lit. "o Gato de nove rabos"]. Se você
insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa
vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.

Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo.
Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar
nos mares do mundo. Com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios;
depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões
eram tomadas coletivamente; e aboliram a tortura. Os butins eram partilhados
entre todos, solução que, nas palavras de Rediker, foi "um dos planos mais
igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no
século 18 ".

Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os
piratas mostraram "muito claramente – e muito subversivamente – que os
navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia
a Marinha Real Inglesa." Por isso eram vistos como heróis românticos, embora
sempre fossem ladrões improdutivos.

As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado
William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria *new age* que está em
todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em
Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: "O que fiz, fiz para não morrer.
Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver".

O governo da Somália entrou em colapso em 1991. Nove milhões de somalis
passam fome desde então. E todos e tudo o que há de pior no mundo ocidental
rapidamente viu, nessa desgraça, a oportunidade para assaltar o país e
roubar de lá o que houvesse. Ao mesmo tempo, viram nos mares e praias da
Somália o local ideal onde jogar todo o lixo nuclear do planeta.

Exatamente isso: lixo atômico. Nem bem o governo desfez-se (e os ricos
partiram), começaram a aparecer misteriosos navios europeus no litoral da
Somália, que jogavam ao mar contêineres e barris enormes. A população
litorânea começou a adoecer. No começo, erupções de pele, náuseas e bebês
malformados. Então, com o tsunami de 2005, centenas de barris enferrujados e
com vazamentos apareceram em diferentes pontos do litoral. Muita gente
apresentou sintomas de contaminação por radiação e houve 300 mortes.

Quem conta é Ahmedou Ould-Abdallah, enviado da ONU à Somália: "Alguém está
jogando lixo atômico no litoral da Somália. E chumbo e metais pesados,
cádmio, mercúrio, encontram-se praticamente todos”. Parte do que se pode
rastrear leva diretamente a hospitais e indústrias européias que, ao que
tudo indica, entrega os resíduos tóxicos à Máfia, que se encarrega de
"descarregá-los" e cobra barato. Quando perguntei a Ould-Abdallah o que os
governos europeus estariam fazendo para combater esse “negócio”, ele
suspirou: "Nada. Não há nem descontaminação, nem compensação, nem
prevenção."

Ao mesmo tempo, outros navios europeus vivem de pilhar os mares da Somália,
atacando uma de suas principais riquezas: pescado. A Europa já destruiu seus
estoques naturais de pescado pela super-exploração – e, agora, está
super-explorando os mares da Somália. A cada ano, saem de lá mais de 300
milhões de atum, camarão e lagosta; são roubados anualmente, por pesqueiros
ilegais. Os pescadores locais tradicionais passam fome.

Mohammed Hussein, pescador que vive em Marka, cidade a 100 quilômetros ao
sul de Mogadishu, declarou à Agência Reuters: "Se nada for feito, acabarão
com todo o pescado de todo o litoral da Somália."

Esse é o contexto do qual nasceram os "piratas" somalis. São pescadores
somalis, que capturam barcos, como tentativa de assustar e dissuadir os
grandes pesqueiros; ou, pelo menos, como meio de extrair deles alguma
espécie de compensação.

Os somalis chamam-se "Guarda Costeira Voluntária da Somália". A maioria dos
somalis os conhecem sob essa designação. [ Ler matéria importante sobre isso
aqui, em:*"**The Armada is not a
solution*"<

http://wardheernews.com/Articles_09/April/13_armada_not_solution_muuse.html>].
Pesquisa divulgada pelo *site* somali independente *WardheerNews* informa
que 70% dos somalis "aprovam firmemente a pirataria como forma de defesa
nacional".

Claro que nada justifica a prática de fazer reféns. Claro, também, que há *
gangster*s misturados nessa luta – por exemplo, os que assaltaram os
carregamentos de comida do *World Food Programme*. Mas em entrevista por
telefone, um dos líderes dos piratas, Sugule Ali disse: "Não somos bandidos
do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam nosso
peixe”. William Scott entenderia perfeitamente.

Por que os europeus supõem que os somalis deveriam deixar-se matar de fome
passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir
passivamente os pesqueiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que,
depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris
ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores
reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passa 20% do petróleo do
mundo... Imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.

A história da guerra contra a pirataria em 2009 está muito mais claramente
narrada por outro pirata, que viveu e morreu no século 4º AC. Foi preso e
levado à presença de Alexandre, o Grande, que lhe perguntou "o que
pretendia, fazendo-se de senhor dos mares." O pirata riu e respondeu: "O
mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é
pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é
chamado de imperador." Hoje, outra vez, a grande frota europeia lança-se ao
mar, rumo à Somália – mas... quem é o ladrão?

*O artigo original, em inglês, pode ser lido em:*

http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/johann-hari/johann-hari-you-are-being-lied-to-about-pirates-1225817.html

*Ou copiado/colado logo abaixo:*


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Um outro mundo é possível. um outro brasil é necessário!

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