terça-feira, 14 de abril de 2009

A OCUPAÇÃO DANDARA

A crise que Lula disse que era uma “marolinha”, impedindo, assim, que o povo se mobilizasse e se preparasse para enfrentar os seus efeitos nefastos, trazendo mais sofrimento e mais injustiça para a gente já tão sofrida dos campos e das periferias mais pobres e abandonadas, está se alastrando. Ela golpeia mais onde a economia é ainda mais atrasada, multiplicando o desemprego já endêmico e a fome.

Reagindo contra o tsunami da crise que multiplica o sofrimento, 150 famílias agiram na periferia de Belo Horizonte, ocupando um terreno abandonado há dezenas de anos e transformado num antro para a ação da bandidagem. Mesmo assim a PM de Aécio Neves investiu com toda força contra a ocupação pacífica, ordeira e construtiva dos trabalhadores, a mando do dono absenteísta da área e sem nenhum documento da justiça, autorizando o emprego da força para a reintegração da posse.

A política do governo mineiro é a mesma do velho Estado coronelista: protetora do latifúndio, das glebas abandonadas e entregues à bandidagem e dos ricos anti-sociais, da prepotência e da injustiça contra o povo pobre.

O nosso blog se solidariza com os trabalhadores tratados pela PM de Aécio Neves como se fossem bandidos e traficantes de drogas e faz um apelo pressante para que as pessoas de boa vontade manifestem o seu apoio a este movimento. O país precisa, de um lado, crescer de baixo para cima, combatendo a criminalidade, e de outro, elevando os marginalizados à condição de verdadeiros cidadãos. Os ocupantes da gleba abandonada querem terra, trabalho, casa e justiça! A ação, denominada significativamente de Dandara, a heroína do quilombo Zumbi dos Palmares, foi apoiada pelas Brigadas Populares, o MST e o Forum de Moradias do Barreiro, que divulgaram o texto abaixo, com os devidos esclarecimentos para a opinião pública sempre mal orientada pelo silêncio e/ ou o facciosismo da grande imprensa.

Não obstante o nome algo militarizante de “brigadas”, os integrantes do movimento têem agido da forma mais política e correta com a população vizinha dos locais ocupados. A prova disso está no apoio que conquistaram dos moradores da circunvizinhança que não querem a área dominada pela bandidagem e o narcotráfico. A população local tem o que o governo Aécio Neves não tem: juízo cívico, sentimento democrático e assim, boa percepção do que convem ao povo e ao país.

Minha familia e eu conhecemos bem a PM fascista de Aécio Neves que já invadiu violentamente a minha residência, em Nova Lima, por duas vezes. Invadiram a residência com a arma em punho, empurrando as pessoas, minha mulher, profa. Carmen Dulce, do Depto de Comunicação da UFMG e minha filha, advogada. Apanharam-me, nos dois casos, algemaram-me e me conduziram, sempre com violência, no camburão, até à Delegacia de Nova Lima. Nem os remédios contra a pressão arterial eu pude pegar!

A alegação para tudo isto? Apoiaram-se nos jovens drogados e alcolizados que cercavam minha casa, faziam baderna e jogavam garrafas e pedras, para afirmar que eu estava armado! Mas não acharam arma alguma em minha casa! Desesperados com a falta de provas de suas alegações absurdas, agrediram o meu caseiro, virando pelo avesso a sua pequen bolsa de pano à procura da alegada arma!!! Na busca desesperada de um álibi para sustentar uma ação tão visivelmente provocatória, acabaram por agredir um trabalhador que nada tinha com os fatos das agressões dos jovens alcolizados! Denunciei os fatos logo em seguida mas a PM se valeu do próprio Tribunal Militar para decretar (sic!) que os PMs agiram corretamente e de uma promotora de Nova Lima para arquivar apressadamente o caso!

Sustentaram tudo isto da forma mais arbitrária. Não deram nenhuma importância ao que disseram as minhas testemunhas e chamaram como próprias testemunhas os baderneiros (sic!) e outros elementos, notórios informantes policiais. Em que se basearam os violentos PMS de Aécio para sustentar toda a mentira? Imaginem: nos vizinhos baderneiros contra os quais eu chamei a PM para uma ocorrência e em elementos estranhos ao fato mas ligados à própria PM como informantes!!! O visado sou eu e minha família e não os baderneiros drogados e/ou alcolizados. É o mesmo que ocorre agora com os ocupantes da gleba abandonada e tomada pela bandidagem. Num caso e noutro a PM, entre a bandidagem e os defensores da legalidade constitucional, fica com a bandidagem!(Fernando Massote)

UM MAR DE BARRACOS DE LONA (*)

O que começou com 150 famílias, na madrugada do dia 09/04, já alcança hoje, na tarde do sábado, 11, a marca de 550 barracos cadastrados e numerados. Em alguns é possível encontrar famílias com dez ou quinze pessoas, dentre adultos, jovens e crianças. Ou seja, estima-se a presença de mais de duas mil pessoas na mais nova ocupação rururbana de Belo Horizonte.

Batizada de Dandara, em homenagem a companheira de Zumbi dos Palmares, a ação foi realizada conjuntamente pelo Fórum de Moradia do Barreiro, as Brigadas Populares e o MST. A ação faz parte do Abril Vermelho, em que se reforçam as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana.

Neste sentido, a Dandara traz dois diferenciais. O primeiro é o perfil rururbano da ação, que reivindica um terreno de 40 mil metros quadrados no bairro Céu Azul, na periferia de Belo Horizonte. A idéia é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.

O segundo diferencial é a conjuntura da crise do capitalismo. A enorme massificação da área pelas famílias da região foi surpresa para todos os militantes presentes, e ainda segue chegando gente, na busca de sair de áreas de risco ou fugindo do aluguel que se tornou impagável.

Multiplicam-se os barracos de lona, entram famílias inteiras com colchões, móveis, fogões, filhos e sonhos. É a confirmação da instalação da crise econômica do capital, que vem varrendo o mundo por conta da insanidade dos ricos na sua busca de mais lucros no mercado financeiro, através do neoliberalismo do ultimo período. Agora pretendem cobrar a conta dos pobres, através do desemprego, da fome e da violência.

Histórico e Situação Atual

o A ocupação foi realizada na madrugada de 09/04/09 com 150 famílias, pelo Fórum de Moradia do Barreiro, Brigadas Populares e MST. O terreno tem 40 hectares e está abandonado desde a década de 70, além de acumular dívidas de impostos na casa de 18 milhões de reais. Veja link 2, 3 e 5.

o Toda a imprensa cobriu o caso e está havendo grande repercussão pública em Belo Horizonte. As matérias de modo geral (exceto Globo) têm tratado com relativa isenção, e o Estado de Minas resolveu silenciar. A Record tem feito plantões permanentes atualizando os fatos e dando a melhor cobertura.

o Ao final do dia a polícia tentou despejar sem liminar de reintegração de posse, a mando da construtora que alega ser proprietária do terreno. Foram três horas de terror, com a investida de mais de 150 homens do batalhão de choque, que explodiram bombas, lançaram gás pimenta e destruíram dezenas de barracos com vôos rasantes de helicóptero.

o A comunidade, em apoio aos manifestantes, resolveu intervir, atirando pedras e enfrentando fisicamente a polícia, o que resultou em vários feridos e três presos.

o A polícia tem aproveitado o enorme efetivo deslocado para o local para enfrentar o tráfico de drogas da região, unificando o tratamento dado aos bandidos e aos lutadores do povo que reivindicam moradia. Também tem atuado de forma arbitrária ao confinar os barracos em uma área restrita dentro do terreno, onde já não cabem mais pessoas, e proibindo a instalação de tendas de reuniões, banheiros e acesso a água e energia.

o Não param de chegar famílias para acampar. A última contagem numerou mais de 550 barracos e estima-se que isto corresponda a cerca de duas à cinco mil pessoas (entre adultos, jovens e crianças).

o Há intimidações da Construtora Modelo (http://www.construtoramodelo.com.br) que se alega proprietária, e através de sua advogada pressionou a retirada das famílias ameaçando o uso de seu poder econômico e de relações escusas com o judiciário. Segundo a advogada Márcia Froís seu marido seria desembargador do TJMG. Mesmo assim o pedido de liminar foi negado pelo plantão do tribunal, o que demonstra a inconsistência dos argumentos da construtora.

o À medida em que se aglomeram mais pessoas aumentam os problemas de higiene e saúde, já que não há saneamento, nem acesso à água e energia. A noite todos ficam no escuro, ou à luz de velas e lamparinas, o que é um risco à segurança pela possibilidade de incêndio.

o A comunidade local segue apoiando, (veja link 4) e muitos moradores tem tentado ajudar com comida, água, materiais de construção usados e outras coisas.

o Existe possibilidade iminente de sair um despejo no pleno do tribunal, a partir de segunda-feira, o que reforça a necessidade de ajuda à esta situação.

O QUE VOCÊ PODE FAZER?

Precisamos de apoio:

Político: até agora somente um deputado esteve no local, e o poder público de modo geral tem se omitido, restando como interlocutor do Estado somente a Polícia Militar. Perguntamos se a mentalidade do Governo Aécio e do Prefeito Márcio Lacerda é de tratar os resultados da Crise Mundial, quando chegam aqui através do desemprego e da falta de moradia como caso de polícia?

Pedimos a todos enviar este correio e buscar em suas articulações o apoio necessário para assegurar a vitória desta luta justa.

Financeiro: a situação é muito precária!!! Falta água potável e alimentos, principalmente para as crianças, lona para as barracas, materiais diversos, pilhas e lanternas, velas, cobertores, colchões, etc.

Estamos coletando as contribuições no próprio local, na secretaria da Ocupação Dandara, perto da portaria. Ou em dinheiro na conta poupança da CEF nº 204470-4 da agência 2333, op 013.

Militante: Precisamos de apoio dos militantes de Belo Horizonte, que estejam dispostos a ajudar a coordenar a ocupação, contribuindo nos corres externos e internos. A luta deve se intensificar nas semanas que vem, e a massificação também tem multiplicado as tarefas e demandas da luta. Precisamos apoio técnico nas áreas jurídica e de comunicação.

Ainda não conseguimos uma aparelhagem ou carro de som para as Assembléias, que a medida que tem mais gente ficam difíceis de se fazer sem este recurso.

AGENDA:

Reuniões do comitê de solidariedade da Ocupação Dandara:

Domingo, 12/04 as 16h

Segunda, 13/04 as 12h

Maiores informações nos telefones 31 8815-4120/ 31 8531-3551

PARA VISITAR:

A área está situada no bairro Céu Azul, na Nova Pampulha, no encontro das Ruas Estanislau Pedro Boardman e Petrópolis, em frente a garagem de ônibus. Ônibus: 3302 – 2213 – 2215. (Céu Azul) Descer Próximo à Escola Estadual Deputado Manoel Costa.

Segue o link para o endereço:

LINK 1:

http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=rua+wanderley+teixeira+matos+01&sll=-19.83032,-44.012003&sspn=0.010133,0.01914&ie=UTF8&ll=-19.829371,-44.012153&spn=0.010133,0.01914&t=h&z=16&iwloc=A

LINKS IMPORTANTES:

Vídeo produzido pela Caracol sobre a ocupação:

LINK 2 : http://www.youtube.com/watch?v=u5oK6hbKe58

REPORTAGENS SOBRE A OCUPAÇÃO DANDARA:

LINK 3:

http://globominas.globo.com/GloboMinas/

LINK 4:

http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,

(*) Brigadas Populares,

Movimento dos Sem Terra,

Fórum de Moradias do Barreiro

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