domingo, 31 de maio de 2009

O Homem que Enganou Roberto Marinho

Começa a ser produzido no Rio um documentário que vai dar o que falar. O título é “O Homem que Enganou Roberto Marinho” e o filme se baseia na nebulosa transação que redundou na compra da antiga TV Paulista (hoje, TV Globo de São Paulo, responsável por mais de 50% do faturamento da rede líder de audiência no País).

Dirigido pelo jornalista Carlos Newton, o documentário vai esmiuçar os bastidores da negociação realizada no auge do regime militar, passando para Roberto Marinho o controle da emissora, que era uma sociedade anônima com mais de 600 acionistas, entre eles o famoso palhaço Arrelia e que tiveram suas valorizadas ações transferidas ao empresário carioca por cedente ilegítimo e sem contrapartida financeira.

Até então, a TV Paulista era controlada pelo sócio majoritário, ex-deputado federal Ortiz Monteiro, e por outros membros de sua família. Como nenhum deles participou da negociação, seus herdeiros impetraram há alguns anos uma ação contra Roberto Marinho e a TV Globo, para simplesmente obterem a declaração da inexistência da transação.

Recentemente, a Rede Globo informou, por meio de sua assessoria, que aguarda a decisão do Superior Tribunal de Justiça para se posicionar na ação em que a família Ortiz Monteiro impugna a cessão das ações então majoritárias.

Em sua defesa no processo, Roberto Marinho e a TV Globo inicialmente argumentaram que o negócio fora fechado por meio de procurações e documentos com datas em 1953 e 1964, mas, de fato, montados em 1975.

Depois, quando foi anexada aos autos uma perícia do Instituto Del Picchia de Documentoscopia, demonstrando que os papéis eram nulos de pleno direito, pois continham diversas irregularidades, sobretudo números de CPF nas procurações, com datas de épocas em que ainda nem havia sido instituído esse controle pela Receita Federal, a Rede Globo passou a alegar que não efetuara o negócio com os Ortiz Monteiro e sim com Victor Costa Júnior, em 9 de novembro de 1964.

Segundo documentos do Ministério das Comunicações, Victor Costa Júnior nunca foi acionista da emissora e era apenas o administrador, sem poderes, portanto, para efetuar a venda do controle. Além disso, no inventário dos bens deixados por seu pai nunca constou a propriedade das ações da antiga Rádio Televisão Paulista S/A, hoje, TV Globo de São Paulo.

“A transferência ocorreu com múltiplas irregularidades, mediante diversos documentos, mal redigidos e com imprecisões, sem qualquer registro nos órgãos competentes, sem firmas dos signatários reconhecidas, e com a utilização de procurações outorgadas por vários cedentes já falecidos à época", argumenta nos autos do processo o advogado Luiz Nogueira, que representa a família Ortiz Monteiro.

E as acusações não param por aí. Nas procurações datadas de 1953 e 1964, os representantes apresentados por Roberto Marinho para aprovação da compra, como Luiz Eduardo Borgeth, ex-diretor da TV Globo, não somente exibiram números inexistentes de CPF, como também forneceram endereços falsos. Além disso, não existe nos processos de outorga de emissora de TV do Ministério das Comunicações nenhum documento que prove que o jornalista Roberto Marinho tenha adquirido o canal 5 de São Paulo do empresário Victor Costa Júnior.

O documentário sobre o caso está sendo rodado inicialmente no Rio de Janeiro e terá locações também em São Paulo e Brasília, onde o processo será julgado de forma definitiva.

“É o caso judicial mais interessante em curso na Justiça brasileira e vale um documentário. Estamos planejando editá-lo em média metragem, mas o assunto é tão vasto e apaixonante que pode até render um longa metragem, devido ao grande número de pessoas a serem entrevistadas e o interesse de possíveis patrocinadores que se encantaram com o texto e o roteiro preliminares”, diz o jornalista Carlos Newton, que recentemente dirigiu uma produção sobre a montagem do balé “O Quebra-Nozes”, de Tchaikowsky, apresentado no Teatro Raul Cortez, na cidade de Duque de Caxias, com participação de 55 bailarinos da Baixada Fluminense e com cenários e figurinos criados pela escola de samba Grande Rio.

O título de sua nova produção condiz com a realidade: nessa operação de aquisição do canal 5 de São Paulo, não há dúvida de que Roberto Marinho comprou a TV da pessoa errada.Quem o enganou? Os vendedores ou seus assessores de então? A resposta surgirá no final do documentário “O Homem que Enganou Roberto Marinho”.

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