"Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se
informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria difícil que
nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior filósofo
brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista político
é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da historiografia
nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e que o maior
especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli. Trata-se de outro
monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de desfaçatez: a
mitologia do especialista convocado para validar as posições da própria
mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos." (Texto na íntegra, ao final)
O pior de tudo isto é ser feito por jornalistas diplomados a serviço da manipulação da informação.
Comprovamos, então que o diploma em nada afeta a qualidade e a
ética profissional. O problema está na relação capital e trabalho, como
em qualquer outra profissão, mas no caso do jornalismo, por forma
opinião, é mais grave que qualquer outra!
Um povo amestrado
dominado por um estado privatizado através de políticos amestrados
que mantêm um sistema de ensino amestrado desde o primeiro grau,
bem como uma academia amestrada,
que gera profissionais amestrados,
para uma mídia amestrada para a qual trabalham,
mercenariamente, jornalistas amestrados.
Com raríssimas exceções...
Se Gramsci condenou o trabalhador que compra um jornal burguês,
como fica a situação do profissional que trabalha hoje para a mídia
burguesa? [ http://observatoriodaimprensa. com.br/artigos.asp?cod= 561IPB009 ]
"É uma escolha cheia de insídias e de perigos que deveria ser feita
com consciência, com critério e depois de amadurecida reflexão. Antes
de mais, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com
o jornal burguês. Deveria recorda-se sempre, sempre, sempre, que o
jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento
de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os
seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma
idéia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato:
combater a classe trabalhadora"
Assim é mantido o adestramento da sociedade e o lucro dos amestradores.
Leia gratuitamente o livro eletrônico do Conselho Federal de
Psicologia que nos demonstra como a mídia escraviza a mente de nosso
povo (PDF, 396 páginas): http://www.pol.org.br/pol/ export/sites/default/pol/ publicacoes/ publicacoesDocumentos/livro_ midiapsicologia_final_web.pdf
Adquira o livro de Altamiro Borges intitulado "A Ditadura da Mídia": http://altamiroborges. blogspot.com/2009/07/lancado- o-livro-ditadura-da-midia.html
E como fica uma Conferência Nacional de Comunicação, dominada por
40 % de delegados dos capitalistas da mídia, 20 % dos políticos
financiados pelos capitalistas em geral, exigindo 60 % para aprovação
de temas que os empresários consideram "sensíveis", enquanto os
trabalhadores aceitaram ter apenas 40 % dos delegados.
Uma conferência também amestrada, né?!
Alguém tem interesse em sair desta "matrix"?
Vai tomar a pílula azul ou a vermelha?
Assista "Mediatrix": http://www.youtube.com/watch? v=Sv55JusfEC8
Defenda sua projeção durante a I Confecom!
Acadêmicos amestrados
Por Idelber Avelar
Se um marciano aterrissasse hoje no
Brasil e se informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria
difícil que nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior
filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista
político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da
historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e
que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli.
Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de
desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as
posições da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.
Se você for acadêmico e quiser espaço na
mídia brasileira, o processo é simples. Basta lançar-se numa cruzada
contra as cotas raciais, escrever platitudes demonstrando que o racismo
no Brasil não existe, construir sofismas que concluam que a política
externa do Itamaraty é um desastre, armar gráficos pseudocientíficos
provando que o Bolsa Família inibe a geração de empregos. Estará
garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o seu histórico na
disciplina seja bastante modesto.
Mesmo pessoas bem informadas pensaram,
durante os anos 90, que o elogio ao neoliberalismo, à contenção do
gasto público e à sanha privatizadora era uma unanimidade entre os
economistas. Na economia, ao contrário das outras disciplinas, a mídia
possuía um leque mais amplo de especialistas para avalizar sua
ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e criou um
efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade
científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que
essa unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph
Stiglitz, uma série de economistas com obra reconhecida no mundo
apontou o beco sem saída das políticas de liquidação do patrimônio
público. Chris Harman, economista britânico de formação marxista,
previu o atual colapso do mercado financeiro na época em que os
especialistas da mídia repetiam a mesma fórmula neoliberal e
pontificavam sobre a "morte de Marx". Foi ridicularizado como
dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de desculpas dos
papagaios da cantilena do FMI.
Há uma razão pela qual não uso aspas na
palavra especialistas ou nos títulos dos acadêmicos amestrados da
mídia. Villa é historiador mesmo, Maggie é antropóloga de verdade, o
título de filósofo de Roberto Romano foi conquistado com méritos. Não
acho válido usar com eles a desqualificação que eles usam com os
demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são, nem de
longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua
visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um
reflexo de reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir
do qual os meios de comunicação os teriam buscado para opinar como
autoridades. É um uso desonesto, feito pela mídia, da autoridade do
diploma, convocado para validar uma opinião definida a priori. É
lamentável que um acadêmico, cujo primeiro compromisso deveria ser com
a busca da verdade, se preste a esse jogo. O prêmio é a visibilidade
que a mídia pode emprestar - cada vez menor, diga-se de passagem. O
preço é altíssimo: a perda da credibilidade.
O Brasil possui filósofos reconhecidos
mundialmente, mas Roberto Romano não é um deles. Visite, em qualquer
país, um colóquio sobre a obra de Espinosa, pensador singular do século
XVII. É impensável que alguém ali não conheça Marilena Chauí, saudada
nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do Real, obra de 941
páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que revoluciona a
compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da liberdade. Uma
vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma seleção das
coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente na
revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me
acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista
desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de
"vagabunda" pela revista semanal de maior circulação no seu próprio
país.
Enquanto isso, Roberto Romano é
apresentado como "o filósofo" pelo jornal O Globo, ao qual dá
entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de "terrorismo de Estado".
Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10 de junho de 2009.
Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma vítima de
terrorismo de Estado real - por exemplo, uma família palestina expulsa
de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses - se lhe
disséssemos que um filósofo qualifica como "terrorismo de Estado" a
inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as
entrevistas com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se
prestam os acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de
visibilidade.
A lambança mais patética aconteceu
recentemente. Em artigo na Folha de São Paulo, Marco Antonio Villa
qualificava a política externa do Itamaraty de "trapalhadas" e chamava
Celso Amorim de "líder estudantil" e "cavalo de troia de bufões
latino-americanos". Poucos dias depois, a respeitadíssima revista
Foreign Policy - que não tem nada de esquerdista - apresentava o que
era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo
Lula: Celso Amorim, o "melhor chanceler do mundo", nas palavras da
própria revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela
Folha.
Poucos países possuem um acervo acadêmico
tão qualificado sobre relações raciais como o Brasil. Na mídia, os
"especialistas" sobre isso - agora sim, com aspas - são Yvonne Maggie,
antropóloga que depois de um único livro decidiu fazer uma carreira
baseada exclusivamente no combate às cotas, e Demétrio Magnoli, o
inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência biológica das
raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem que só
existe na cabeça dos negros e dos petistas.
Por isso, caro leitor, ao ver algum
veículo de mídia apresentar um especialista, não deixe de fazer as
perguntas indispensáveis: quem é ele? Qual é o seu cacife na
disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros pontos de vista
existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos de vista
foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira, as
respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.
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