terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Debate com italianos revelou desafios da esquerda europeia

A crise política na Itália e os desdobramentos da crise econômica desatada em 2008 naquele país foram objeto de debate realizado na noite de segunda-feira (21) na sede nacional do Partido Comunista do Brasil, promovido pelo PCdoB, pela Fundação Maurício Grabois e pelo Portal Vermelho. O tema “Desafios da esquerda italiana e europeia frente à crise e às políticas liberais” foi tratado por Fábio Amato e Marco Consolo, ambos dirigentes nacionais do Partido da Refundação Comunista da Itália.

Alex Prestes
Debate no PCdoB  Marco Consolo, Ricardo Abreu "Alemão" e Fabio Amato
O evento fez parte de uma série de atividades de que participam os comunistas italianos em visita ao Brasil, a convite do PCdoB. A ideia é intensificar as relações bilaterais entre as duas organizações. Em breve, dirigentes brasileiros também visitarão o país.

Amato abriu o debate com uma explanação sobre a atual crise política que a Itália atravessa. Segundo Amato, a crise italiana é produto da crise do neoliberalismo na União Europeia. "A crise das dívidas públicas, que criou o déficit fiscal atual de mais de 50 bilhões de euros, fez com que os Estados procurassem jogar a conta nas costas dos trabalhadores".

A situação política na Itália, hoje, é de perspectiva pela queda de Berlusconi. "Todos sabemos que ele cairá, mas não sabemos quando, se no ano que vem, se em dois meses". Para Amato, Berlusconi hoje é mantido no poder pelo grande capital, porque a tese de que "ruim com ele, pior sem ele" é a que prevalece nos reais detentores do poder na União Europeia.

Diante da crise, a União Europeia parte para o espezinhamento dos direitos trabalhistas no continente, o que tem acontecido na Grécia, na Irlanda, na Espanha e em Portugal e, segundo ele, está prestes a acontecer na Itália.

"O desafio atual dos movimentos sociais é construir uma frente antineoliberal na Europa", diz. Amato aponta uma demora na resposta da esquerda às agressões do capital contra os direitos dos trabalhadores no continente, porque não existe organização. "Na América Latina a luta antineoliberal construiu uma resposta, que a Europa não conseguiu construir. No velho continente a resposta não é organizada. Os sindicatos europeus não têm capacidade de organizar uma ação comum, solidária, em todo o continente", apesar dos protestos e greves nacionais que são cada vez mais comuns em várias nações europeias.

Os 20 anos de governos de direita e de centro-esquerda na Itália implantaram políticas neoliberais que deram origem ao "fenômeno Berlusconi", construindo um bloco social que é a base de sua capacidade política. Nesse período, a Itália passou a sofrer não só uma crise politica, mas também uma crise de valores, uma crise estrutural.

A Itália de Berlusconi é hoje o país com a maior desigualdade social na União Europeia, "onde 10% das famílias possuem 50% das riquezas nacionais", índice semelhante ao de algumas nações da América Latina, segundo Amato.

Forte onda

Em sua intervenção, Marco Consolo destacou a necessidade "de conjugar um partido de lutas e de governo", relatando também o que os comunistas viveram na Itália a partir de 2006, quando chegaram ao poder em uma vitoriosa coalizão de partidos, no que chamou de "uma forte onda contra a maré neoliberal" vivida a partir do início da década de 1990.

Para Consolo, o peso político dado pela "forte onda" fez com que os comunistas avaliassem que poderiam negociar dentro do governo. O resultado, segundo ele, foi desastroso, pois houve uma "desmobilização social diante do governo e erros de cooptação" além de "certa visão institucionalista do PRC dentro do governo".

"As decisões já não eram tomadas dentro do partido, mas dentro do governo", conta. Houve perda da credibilidade e hoje os comunistas lutam para recuperá-la. "É preciso construir um centro político, mais além do partido. Trabalhamos na construção de um pólo, a Federação de Esquerda".

Em relação ao atual governo, Consolo destaca o trabalho contínuo das mídias em desconstruir o passado histórico da Itália e de desvalorizar o papel que os comunistas tiveram na vitória sobre o fascismo no fim da Segunda Guerra Mundial. Em uma Itália de crise de valores, crise social, Consolo conta que é comum os ministros de Berlusconi pronunciarem declarações fascistas, sem que haja qualquer reação na sociedade.

Para Consolo, a concentração midiática em torno de Berlusconi foi fundamental para essa crise. A quase totalidade dos meios de comunicação da Itália pertencem ao grupo comandado pelo chefe do governo do país, o que demanda a luta pela democratização dos meios de comunicação, "tema central que teremos nos próximos anos", sublinhou.

Da redação

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