terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cobertura da imprensa burguesa no FSM 2009 de Belém

FSM 2009: A cobertura tendenciosa do evento

Heitor Reis (*)

Cotidiano de um mundo "alternativo"

Contradições - Como o Fórum Social Mundial foi palco daquilo que tanto criticou

O clamor por uma sociedade mais justa que vem das tendas parece conviver de mãos dadas com cenas de ilegalidade, consumo de drogas e exploração do trabalho infantil, entre outras mazelas distantes do propósito do evento, mas que se tornaram corriqueiras no cotidiano dele.

(Jornalista Josué Costa, de O Liberal, de Belém do Pará, abaixo e em http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=397378)

De uma coisa, podemos estar certos: aqueles que defendem por convicção, por má-fé ou mercenarismo, o atual sistema político e econômico, em que o capitalismo domina a tudo e a todos, mesmo já manifestando seus estertores finais, que podem durar um século, jamais considerariam um Fórum Social Mundial como algo simpático aos seus interesses, em função da oposição que encontra ali, sua cartilha ideológica.

Ao observarmos bem, de doutrina econômica, o capitalismo saltou para doutrina política e, posteriormente, para uma fé religiosa, alcançando a visão apocalíptica da Besta descrita pelo apóstolo João, há quase dois mil anos atrás. Uma religião, cujos templos mais visíveis são as bolsas de valores e os centros de compras ("shoppings centers"), mas está democraticamente disseminada em cultos domésticos via emissoras de TV e rádio, onde se prega o evangelho materialista e hedonista.

Em se tratando da grande mídia também, o objetivo é obter lucro a qualquer custo! A pura e sacrossanta verdade não dá lucro suficiente para satisfazer a voracidade do animal capitalista (Delfim Neto). Para tanto, somente o sensacionalismo barato contribuirá com a venda de jornais ou audiência na radiodifusão, atendendo a um mercado composto por 74 % de analfabetos e semi-analfabetos de todas as classes sociais, especialmente por uma quase totalidade de analfabetos políticos, na definição de Bertolt Brecht.

Quanto ao Fórum Social Mundial, há uma Carta de Princípios disponível para quem deseja uma visão mais profunda sobre as bases em que se fundamenta este processo: http://www.forumsocialmundial.org.br/main.php?id_menu=4_2&cd_language=1

Dentro deste quadro, surge a matéria donde extraímos o texto em epígrafe, que representa tudo que tenho percebido aqui, mas o jornalista Josué Costa preferiu fazê-lo de forma desequilibrada em favor dos problemas, mesmo citando rapidamente que isto é parte do comportamento e não é o todo. Portanto, considero-a tendenciosa e manipuladora da verdade jornalística. Seguramente é apenas um exemplo comum de como a grande mídia decidiu pautar o fórum, visando maximizar e amplificar uma imagem negativa dos problemas que ali realmente acontecem.

O FSM representa a sociedade brasileira e planetária com suas mazelas e qualidades. É um grande caldeirão, onde se cozinham idéias de todas as formas, mas o filtro é o objetivo de se construir um mundo melhor, menos repressivo, menos capitalista e mais solidário, humano, fraterno e pacífico.

Asseguro aos meus ilustres e raros leitores que, em momento algum, aqui, houve alguém defendendo a invasão Afeganistão, do Iraque e da Palestina pelo maior país terrorista da face da terra, os EUA, a serviço de Israel e vice-versa, cujo poder econômico e político dominam os maiores interesses materialistas do planeta.

Mesmo assim, não é objetivo do fórum proibir qualquer tipo de manifestação. Quem quisesse defender o terrorismo do império capitalista poderia até fazê-lo, mas encontraria ali, absoluta oposição. Nem a organização do FSM teria condições de impor e fiscalizar tudo isto que é criticado na matéria de O Liberal, tradicional oponente ao governo do PT aqui, conforme fui informado. Organizar um evento desta proporção exige um esforço enorme e não dá para se concentrar em coisas como as condenadas aqui, que ocorrem em qualquer carnaval ou festa popular.

Se fosse uma matéria honesta e se o jornalista diplomado respeitasse a ética e a qualidade da informação que prega a FENAJ, como sendo uma garantia do diploma, ele, pelo menos, faria uma estimativa ou uma pesquisa breve de como um determinado número de participantes percebe esta dispersão. Porque ele não quantificou um percentual para dar uma idéia mais próxima do real para o leitor. Esta dispersão seria de 1 %, 20 %, 50 % ou 90 %? "De 20 participantes aleatoriamente pesquisados, obtivemos uma média de dispersão de tantos por cento."

Sem isto, este profissional, estará apenas documentando fatos isolados e praticando um tipo de jornalismo sensacionalista e tendencioso, sem ética e sem qualidade.

Será porque ele não ouviu a outra parte, como manda o bom jornalismo? Qual é o ponto de vista dos organizadores do FSM a respeito desta matéria? Fica a sugestão para que solicitem direito de resposta!...

Assim, publicações deste nível permitem pessoas ansiosas e precipitadas, como uma internauta da lista de discussão do Yahoo, intitulada Brasil-Política, emitir seu veredito final:

mfragaferreira@uol.com.br
"Eu não estou inventando nada. Esta notícia está em 'O Liberal', jornal de Belém do Pará. Este é o mundo que 'eles' querem. Com certeza não é o que EU quero!"

Ela, certamente, foi incapaz de perceber aspecto positivo mínimo mencionado, de chofre, pelo jornalista a serviço da manipulação. De deturpação, em deturpação, a Matrix dos poderosos vai engolindo suas vítimas, ansiosas de qualquer informação que lhes alimente a fobia contra a construção de um mundo melhor para a maioria.

Não conheço o trabalho deste jornalista e nem deste jornal, além desta matéria, mas seria de se esperar, caso eles sejam realmente dignos de utilizar estes nomes, que adotassem ênfase proporcional para condenar o genocídio de 1.300 palestinos em Gaza, em menos de um mês. Bem como outros promovidos pelos EUA, em todo o mundo, nas últimas décadas: http://www.midiaindependente.org/pt/red/2003/12/269975.shtml

Um outro jornalismo é possível!

Um jornalismo que dissesse apenas a verdade e nada mais que a verdade: O FSM é um evento sério, de qualidade e coerente com os princípios estabelecidos para sua existência, onde ocorrem alguns problemas que a grande maioria dos presentes gostaria que fossem evitados, mas que, em respeito à diversidade de interesses são respeitados. Como em qualquer outro evento desta natureza.

Ninguém defende ali um pensamento único e um comportamento estereotipado por alguns sabichões nazistas. Mas, nada mais incomoda o sistema mercadológico e a massificação da economia que algo capaz de gerar as surpresas promovidas pela liberdade de pensamento, de escolha e de ação.

Então, nada mais se faz necessário que uma Conferência Nacional de Comunicação, onde temas como a manipulação da grande imprensa (Perseu Abramo) possam ser mais bem tratados, de uma forma democrática, justa e objetiva.

Somente assim, teremos, um dia, uma democracia de verdade neste país, apesar do Estado, do sistema de ensino, da grande mídia e dos jornalistas mercenários que o servem enganarem a população, afirmando que já estamos desfrutando deste momento, quando na realidade, vivemos sobre a mais cruel ditadura do poder econômico, levando a humanidade à beira do suicídio moral, ético e físico.

(*) Heitor Reis é um adolescente mesocentenário ou um centenário meso-adolescente. Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (www.cmqv.org) e articulista. Nenhum direito autoral reservado: Esquerdos autorais ("Copyleft"). Contatos: (31) 3243 6286 - heitorreis@gmail.com - 02/02/2009

http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=397378)
Cotidiano de um mundo "alternativo"

Edição de 01/02/2009

CONTRADIÇÕES - Como o Fórum Social Mundial foi palco daquilo que tanto criticou

JOSUÉ COSTA

Da Redação



Afinal, qual o perfil do novo mundo que o Fórum Social Mundial (FSM) 2009 acha possível construir? As respostas dos seus participantes não são uníssonas. Os dois territórios do evento mostram um abismo entre o que se diz e o que se faz. O clamor por uma sociedade mais justa que vem das tendas parece conviver de mãos dadas com cenas de ilegalidade, consumo de drogas e exploração do trabalho infantil, entre outras mazelas distantes do propósito do evento, mas que se tornaram corriqueiras no cotidiano dele.

'Não acredito que outro mundo é possível com essa dispersão', criticou, em alta voz, para uma platéia de cerca de 30 universitários, o jovem Fábio Felix, coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Brasília (UnB). A crítica do estudante candango repousa, em parte, no que vê: nem todos os participantes do evento estão nos territórios para reunir, discutir, aprovar ou reprovar demandas voltadas para a construção do tão sonhado mundo novo.


Os territórios das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (Ufra) servem de chão para muitos participantes que vivem completamente indiferentes ao que acontece nas tendas e outros palcos de discussão das propostas. São tantos que não se pode dizer se são minoria ou maioria. Estão por toda parte, no vai-e-vém dos corredores asfaltados, sequer se importando com o propósito do FSM. Na Ufra, as cenas que reforçam o abismo são mais frequentes.


COMÉRCIO

Nas universidades, acontece de tudo - ou quase tudo. Dentro das tendas, nem sempre com seus assentos todos ocupados, vê-se gente valorizando o evento, fazendo valer o propósito do encontro, expondo e debatendo a pauta programada. Fora delas, no entanto, o cenário é degradante: trabalho infantil, consumo de drogas, comércio informal desorganizado e comercialização de produções piratas, como CDs e DVDs, aqueles mesmos que a Polícia combate fora desses territórios.

Na manhã de ontem, por exemplo, por volta das 10 horas, no território da Ufra, a reportagem acompanhou parte dos passos de um grupo de cinco estudantes que, mais tarde, descobriu-se, veio de Feira de Santana, na Bahia. Nesse horário, o grupo tomava o café da manhã numa barraca. Tapioquinha, pão, café, cigarro de maconha e o 'Loló', que é a inalação de jatos de um spray sobre uma flaneja, faziam parte do cardápio. Tudo a céu aberto, em meio à multidão, sem qualquer discrição. Terminaram e caminharam. Tomaram rumo contrário a todas as tendas de discussão.

DROGAS

Na perspectiva dos valores que abraçam, nada de errado no comportamento do grupo nordestino se, pertinho da barraca do café da manhã, não estivesse acontecendo um encontro de estudantes, cuja postura estava afinadíssima com o propósito do evento. Eram em torno de 30. Muita tenda para pouca gente. A quantidade, pelo que se via e ouvia, era superada pela qualidade. Foi lá que a reportagem entrevistou Fábio Felix.

O estudante da UnB esbravejava exatamente contra os 'dois' FSMs que acontecem em Belém: o dos que valorizam a proposta e dos que, mesmo presente nos territórios, estão para outros fins. Felix, como quem fala de cima de um trio-elétrico disparava críticas à organização do evento. 'Não tenhamos dúvidas de que este fórum, financiado pelo governo, foi preparado exatamente para esse fim: dispersar. Ele (governo) preparou uma programação e montou uma infraestrutura nitidamente para provocar dispersão, desinteresse e, assim, evitar críticas, críticas contra o governo Lula e contra o governo Ana Júlia', disparou o rapaz, recebendo demorados aplausos.


Nem Eduardo Freitas, da organização da Associação Secreta dos Maconheiros Assumidos, concordava com o que via. 'Nossa orientação não reprime o consumo da maconha, mas pede discrição, orientando o consumidor a não se expor, fumando, por exemplo, na frente das crianças', ponderou o rapaz, discordando das cenas que lhe eram apontadas.


Uso de entorpecentes como a maconha foi frequente durante a semana


Se fumar maconha na frente de crianças é desaconselhável, muito mais é submeter essas mesmas crianças ao trabalho. Trabalho infantil, aliás, conforme soam as vozes das tendas, é crime. Mas, enquanto o combate está reservado para outras circunstâncias, nos territórios do Fórum Social Mundial (FSM) 2009 é comum ver crianças trabalhando. 'É R$ 1, R$ 1. Água mineral geladinha. Só R$ 1', gritava João Paulo dos Santos, 12 anos, na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), na manhã de ontem.



Morador da Terra Firme, disse que estava ajudando o pai, que estava perto do filho, com outra venda. E perto deles, o comércio de CDs e DVDs piratas. Outra cena de ilegalidade. Indagado se havia orientação para reprimir o consumo de drogas, o bombeiro militar Pessoa não quis responder. Limitou-se a dizer que só o oficialato da corporação poderia conceder entrevista. Ele, oficial, e mais quatro colegas estavam de prontidão perto de uma barraca onde a fumaceira da erva tragada lhes chegava no rosto.



COELHOS

'Isso era previsto', avaliou Trajano de Jesus, chefe de Segurança da Ufra. Trajano, que conta com um efetivo de 38 homens desarmados, diz que a única preocupação de sua tropa é defender o patrimônio. Nesse sentido, tudo em ordem, à exceção do sumiço de quatro coelhos, que foram parar numa panela de um acampamento. 'Nesses dias, quem manda são eles. Deixamos de ser Ufra para sermos o território do Fórum', contemporiza.



Outras preocupações, afirma Trajano, existem. E dizem respeito ao comportamento de grupos de participantes. Na última quinta-feira, por exemplo, ele saiu de casa para o trabalho às 6 horas e retornou à meia-noite. À 1 hora da madrugada o telefone tocou. Foi chamado para resolver um problema de um som que tocava em alto volume, numa tenda de acampamento. (J. C.)

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