O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, aborda em seu segundo artigo como colunista do portal WSCOM Online sobre o debate proposto na Conferência Nacional de Comunicações, previsto para dezembro deste ano, de democratização das comunicações.
No texto, reproduzido no site da Revista NORDESTE (www.revistanordeste.com.br), Zé Dirceu defende a realização do evento, critica ação de conservadores para barrar a conferência e aponta a necessidade de se rediscutir o modelo de comunicação social no país.
Confira.
Ofensiva tenta barrar Conferência Nacional de Comunicações
José Dirceu
Ex-ministro-chefe da Casa Civil
Um relatório anual sobre 2008, divulgado essa semana pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e com ataques ao presidente Lula - acusado de fazer ”críticas desmedidas à imprensa” - foi a senha lançada pelos conservadores para começar a torpedear a Conferência Nacional de Comunicação programada para dezembro próximo.
Defendo e apóio firmemente a realização da Conferência nos termos em que está sendo organizada, por considerar que ela será um espaço democrático, onde a sociedade poderá debater e encaminhar as mudanças necessárias no atual modelo de comunicação social brasileiro, arcaico, com nada menos de 47 anos (foi elaborado em 1962) e que permitirá uma verdadeira democratização nos meios de comunicação.
Para atacar o presidente, a entidade cita, entre outros pontos, a proposta apresentada pelo governo de criação do Conselho Federal de Jornalismo. O relatório da SIP diz que o objetivo do Conselho é “disciplinar e fiscalizar o trabalho da imprensa", o que é uma grotesca mentira que fica absolutamente desnudada com a leitura do projeto enviado pela Federação Nacional de Jornalistas, que solicitou ao governo que o enviasse ao Congresso Nacional.
O que nem todos sabem é que a SIP é um instrumento da direita e do conservadorismo na América Latina. Não defende a liberdade de imprensa coisa nenhuma, defende a liberdade das empresas e dos donos dos meios de comunicação no continente. Além da passividade que manteve diante das ditaduras implantadas no continente no passado, com raros e tímidos protestos, a SIP calou-se recentemente num silêncio sepulcral quando a direita, usando todo o poder da mídia, conspirou até dar um golpe de Estado contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, eleito democraticamente. É só ler os jornais da época, ouvir as emissoras de rádio e ver as de TV para constatar a omissão da SIP diante desta tentativa golpista na Venezuela.
Não tem, portanto, autoridade moral nenhuma para criticar o presidente Lula. Beira o ridículo sua crítica à entrevista do presidente à revista Piauí na qual o chefe do governo emitiu suas opiniões pessoais sobre a mídia. Só falta agora não se poder mais criticar a mídia conservadora, monopolista e golpista, como é o caso de alguns jornais e redes de rádio e TV na Argentina, Equador, Chile, Bolívia, Venezuela, enfim, em praticamente todos os países da América Latina.
Não satisfeita com as críticas a Lula, a SIP, comparou o comportamento do presidente brasileiro ao do presidente da Venezuela Hugo Chávez. Na verdade, a Chávez e ao presidente Evo Morales (Bolívia). O que só comprova o caráter político da nota e seu direcionamento ideológico.
O que faltou nessa nota e na ação da SIP são os fatos. Como, aliás, faltam nas matérias editorializadas que cada dia mais parte da imprensa faz. Afirmar que Lula ataca a imprensa é absurdo, ridículo, é uma censura aberta a um presidente da República, uma tentativa de impedir críticas à imprensa, o que demonstra o caráter antidemocrático da SIP.
Todo e qualquer cidadão tem o direito de resposta e de imagem, o direito de ter sua opinião e exprimi-la sobre a imprensa - inclusive o presidente da República. Era só o que faltava a SIP querer censurar os cidadãos que não concordam com as matérias, notícias, editoriais, artigos, opiniões, com as verdadeiras campanhas movidas pela mídia.
A SIP em seu relatóirio anual e seus aliados da grande imprensa brasileira dizem estar preocupados porque os debates (na Conferência Nacional de Comunicação) serão conduzidos por ONGs e movimentos sociais que, segundo eles, querem interferir no comportamento da imprensa.
O que há por trás disso? Um jogo de pressões para forçar o governo a não realizar, ou a protelar, indefinidamente a Conferência possibilitando-lhes manter o os oligopólios que dominam na manipulação da informação, em prejuízo do interesse público e nacional.
Artigo publicado em: http://www.wscom.com.br/
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