sábado, 22 de agosto de 2009

Brasil de Fato: Recuperação da economia é momentânea; crise persistirá

É apenas o começo da luta contra a crise

por peruano última modificação 20/08/2009 12:00

JÁ NÃO RESTAM dúvidas de que, por sua natureza de crise de superprodução, estamos diante de uma crise prolongada. A construção de um dia nacional de lutas contra a crise, em 14 de agosto, unindo as centrais sindicais combativas e os movimentos sociais do campo e da cidade, configura um importante momento da luta popular.
Como demonstramos na edição especial sobre a crise, o colapso financeiro em nosso país tem mostrado efeitos diferentes para a burguesia e para a classe trabalhadora devido à política econômica adotada pelo governo, utilizando os recursos públicos para subsidiar os lucros dos capitalistas. Desde o início, os grandes meios de comunicação apresentaram a crise como uma catástrofe da natureza, que exigia uma postura passiva ante seus inevitáveis e terríveis efeitos. Agora, se esforçam em construir o imaginário de que o pior já foi superado.
Embora os trabalhadores estejam sendo penalizados pelos impactos da crise, como demonstram os indicadores econômicos, ainda não se rompeu com a ilusão de que “o pior já passou”.
Sabemos que estamos diante de uma crise profunda, que atingirá todos os setores da economia; mas também prolongada, que provavelmente se arrastará pelos próximos anos. Também podemos afirmar que os principais impactos econômicos ainda não se instalaram nos países de nosso continente. Como demonstramos em reportagem na edição especial, o aumento da informalidade, em um período em que o desemprego cresce, funciona como um amortecedor temporário dos impactos sociais da crise.
Eis porque é fundamental a resposta unitária das forças populares. Sem vacilar, os movimentos sociais perceberam que seu papel era desenvolver um trabalho pedagógico, explicando a causa da crise, seus aspectos políticos, ambientais e ideológicos e apontando seus responsáveis.
Agora, com a jornada unitária de lutas, combinando marchas, paralisações, passeatas e panfletagens por todo o país, as forças populares assumem um novo patamar de luta. Já não estamos apenas denunciando, mas construindo um conjunto de bandeiras unitárias que representam uma alternativa da classe trabalhadora para enfrentar a crise.
A crise proporciona alterações na dinâmica da luta de classes e pode gerar um novo ciclo do reascenso da luta de massas. Além disso, abre uma oportunidade histórica, na medida em que altera o quadro geopolítico internacional, determinando o rearranjo dos países e da ordem econômica mundial, abalando a hegemonia econômica e política do imperialismo.
O abalo da hegemonia imperialista e a fratura dos setores dominantes abrem uma brecha fundamental para a superação desse último período histórico, marcado pela ofensiva capitalista e o consequente descenso da luta de massas. O quadro histórico iniciado no começo dos anos de 1990 chegou ao fim. Estamos ingressando em um novo período que exigirá um salto de qualidade para as organizações populares.
Assume especial importância a tarefa de construir unidade de ação das forças populares e possibilitar que assumam um programa unitário, colocando-se no plano político como uma alternativa do projeto popular. Para tanto, no interior da classe trabalhadora, será necessário intensificar esforços pela retomada da capacidade de luta dos operários da indústria, sujeito social decisivo na construção da unidade entre as forças populares.
O elemento mais importante para que essa oportunidade converta-se em saídas populares é a capacidade da classe trabalhadora em construir alternativas de poder, articulando o conjunto das forças em cada país. Para chegarmos a essa construção é essencial retomar a unidade das forças populares e, principalmente, contribuir para que essa unidade avance na compreensão e defesa de um programa para o Brasil.
Somente uma unidade construída em torno de lutas concretas, em torno de um programa que cada força social reconheça como seu, será possível avançar para o necessário passo de uma alternativa política do projeto popular.
Nesse contexto, o esforço de realizar a jornada unitária do dia 14 é um pequeno passo, ainda embrionário, para a construção de uma alternativa da classe trabalhadora ante a crise. Muitas lutas ainda serão necessárias e estamos apenas iniciando esse novo período histórico, mas, com todas as dificuldades de construção, é para se comemorar essa unidade em torno das lutas.

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