segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Laudo do Instituto Del Picchia afirma que são falsos os recibos utilizados para comprovar a compra da TV Paulista pela Rede Globo

Falsificações são grosseiras, diz perito do Instituto Del Picchia

por jpereira última modificação 26/02/2008 22:01

Laudo do Instituto Del Picchia afirma que são falsos os recibos utilizados para comprovar a compra da TV Paulista pela Rede Globo

Laudo do Instituto Del Picchia afirma que são falsos os recibos utilizados para comprovar a compra da TV Paulista pela Rede Globo

26/02/2008


Eduardo Sales,

da redação


Uma análise do Instituto Del Picchia de Documentoscopia atesta que os documentos relacionados à transferência de ações para o grupo de Roberto Marinho são apócrifos (elaborados após a data da negociação) e montados, segundo laudo. Essa é a principal argumentação da família Ortiz Monteiro que contesta a venda da TV Paulista – atual Rede Globo de São Paulo – para as Organizações Globo.


O laudo foi feito com base nos documentos apresentados pelos advogados que fizeram a defesa da Globo e constam da ação judicial. Tratam-se de papéis fotocopiados; os originais teriam desaparecido, segundo os advogados da família Marinho. Um comportamento que levanta suspeitas. “Quem é que deveria ter a obrigação de ter os originais? Ela (Rede Globo) invoca a sua própria incúria para impedir perícia”, salienta ao Brasil de Fato Celso Mauro Ribeiro Del Picchia, perito responsável pelo laudo.


Evidências

A família Ortiz Monteiro contesta a veracidade de quatro procurações de Oswaldo Ortiz Monteiro outorgadas ao ex-representante jurídico da família Marinho, Luiz Borgerth - uma de outubro de 1953, representando as ações de Hernani Monteiro, e as demais de dezembro de 64. Esses documentos dariam a ele poderes para transferir a terceiros as ações que estavam em nome do ex-Ortiz Monteiro, de Hernani Monteiro, Manoel Vicente da Costa e Manoel Bento da Costa.


Mas, segundo o laudo do Instituto Del Picchia, as datas das quatro procurações são falsas e os documentos foram redigidos entre 1974 e 1975. Uma das comprovações da falsificação está no fato de que todas trazem o número do Cartão de Identificação do Contribuinte (CIC) de Borgerth – atual CPF –, sendo que esse sistema só foi criado pelo governo em 1969.


“A existência do CIC nessas cópias é o que a gente chama de ‘anacronismo intransponível’, que prova a falsidade da data sem qualquer margem à dúvida”, afirma Celso Del Picchia. Ele ironiza: “Como é que poderia ter o CIC, premonição?” Além disso, o representante de Marinho, Luiz Borgerth, só foi admitido na Globo em 1967, não podendo ter recebido uma procuração em 1953.


“Máquina do tempo”

Outra evidência de falsificação apontada pelo laudo é que a máquina de datilografia utilizada nos documentos datados de 1953 e de 1964 era exatamente a mesma de que se valeu para produzir um outro datado de 1975. Essa constatação levou o documentoscopista Celso Del Picchia a concluir que todos esses documentos falsos datariam de 1974 ou 1975. Ou seja, há fortes indícios de que todo o processo de transferência de ações se valeu com a elaboração de uma série de procurações e recibos que se estendiam de 1975 a 1953, dando plenos poderes ao funcionário de Marinho, Luis Eduardo Borgerth, de negociar com elas. De posse desses documentos, Borgerth pôde passar os 52% da TV Paulista para Marinho.


“Mais uma prova da falsidade é que a máquina não existia na época”, argumenta Del Picchia. O equipamento, identificado na perícia como “Tecni 4”, só foi colocado em uso em 1965. O documentocopista aponta, ainda, que os roletes da máquina estavam na mesma posição em todos os papéis. Isso indicaria que os papéis foram elaborados todos de uma só vez, embora com datas diferentes: 1964, 1953 e 1975.


Chama a atenção que, durante os vinte anos seguintes à compra da TV Paulista pela família Marinho até a morte de Oswaldo Junqueira Ortiz Monteio, em 1984, o mesmo nunca contestou a operação de venda da Rádio TV Paulista. Quanto a esse fato, é dito que o negócio teria sido combinado entre Oswaldo, Marinho e Victor Júnior. “Se a venda se justifica ou não, isso não me interessa, mas os documentos são falsos”, afirma Celso Del Picchia.

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