segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Proposta de Pauta para o programa Fórum, da TV Justiça: SBTVD - Sistemas japonês, europeu e brasileiro

À Equipe de Produção do Programa Fórum
Assisti aos minutos finais do programa de hoje sobre a TV digital, onde Marcelo Bechara de Souza Hobaika, Consultor Jurídico do Ministério das Comunicações e um engenheiro eletricista ali presente estavam defendendo incondicionalmente tal sistema.
Teriam sido mencionadas suas desvantagens? Será que foram mencionadas as vantagens e desvantagens do sistema brasileiro? E do Europeu? Por que tanta pressa em implantar a digitalização? Considerou-se a questão do controle público sobre o inconstitucional e impune oligopólio da mídia? E a democratização da comunicação impossibilitada pela mutiprogramação?

Honrando o que preconiza o verdadeiro jornalismo, bem como a própria justiça, o nome do programa e o espírito público que deveria reger o interesse dos participantes, sugiro, caso já não o tenham feito, que convidem também pessoas ou entidades que discordem da forma como vem sendo feita a digitalização como o PSOL - Partido Socialismo e Liberdade e "a Procuradoria Geral da República (que) considerou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo PSOL contra o Decreto 5.820/2006, que instituiu o Sistema Brasileiro de TV Digital(SBTVD)". (Notícia ao final.)

Certamente, entidades que vem lutando por esta causa há anos, também poderão contribuir para uma abordagem imparcial deste relevante assunto, como FNDC - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, ABCcom - Associação Brasileira de Canais Comunitários a Cabo, Abraço - Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária e Coletivo Intervozes.

Caso já o tenham feito, gentileza informar-me como poderia obter a gravação do programa em que isto tenha ocorrido.

Como o programa será reprisado na segunda-feira, 17/08, 21 horas, vou gravá-lo para assistir posteriomente. Caso necessário, enviarei uma retificação desta mensagem.
Segue, ao final, texto de minha autoria sobre este assunto.

Atenciosamente
Heitor Reis
Membro da(o)
Suplente da Comissão de Ética Nacional da Abraço
Articulista com textos sobre comunicação (e outros temas) publicados no Observatório da Imprensa, ABN - Agência Brasileira de Notícias, Círculo Multidisciplinar de Qualidade de Vida, etc.
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http://www.psolsp.org.br/osasco/?p=267

Parecer da PGR considera inconstitucional Lei da TV Digital
16/07/2009
Convergência Digital

A Procuradoria Geral da República considerou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo PSOL contra o Decreto 5.820/2006, que instituiu o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD).
O parecer, assinado pelo ex-procurador geral Antonio Fernando de Souza e publicada no último dia 19 de junho, coloca novamente em questão a legalidade do dispositivo.
O parecer da Procuradoria foi solicitado pelo relator da Adin no Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, que deve definir seu voto até aproximadamente o mês de agosto. A decisão final sobre a ação caberá ao plenário do STF.

A justificativa da Adin, solicitada pelo PSOL, corroborada pela Procuradoria Geral da República, é a de que o SBTVD não se trata de uma simples atualização de tecnologia de transmissão de TV.
O espaço de 6 MHz ocupado para transmitir uma única programação no sinal analógico pode ser usado para transmitir de quatro a oito vezes mais conteúdo no sistema digital.
A digitalização, portanto, rompe com o paradigma atual da radiodifusão e cria novas possibilidades de comunicação para as empresas concessionárias, de modo a superar a abrangência de suas atuais outorgas.

No parecer, a PGR considera que a transmissão em sinal digital teria de ser considerada como um serviço diverso da transmissão analógica, para o qual seria necessário nova outorga de concessão de canais. Estes novos processos, portanto, estariam sob a competência do Poder Legislativo, responsável pelas concessões e renovações de outorgas.

A Procuradoria Geral da República faz observações ainda sobre vários pontos. Entre eles que a multiprogramação, objeto de desejo das emissoras comerciais - a ABRA está na justiça solicitando o direito de uso, hoje, concedido apenas às emissoras públicas, reforçaria o cenário de oligopolização do setor. O Convergência Digital disponibiliza a íntegra do parecer da PGR.
Interesse Público
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CONFECOM & TV DIGITAL
Por que o ministro quer o padrão japonês

Por Heitor Reis em 28/7/2009

Por mais respeito e boa vontade que possamos ter com um ministro de Estado, nossa paciência tem limite. Exemplo perfeito dessa situação é o que acontece com o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Na terça-feira (21/7), ele declarou que o padrão japonês de TV digital é o melhor para o Brasil, e anunciou triunfante: "A bola está na marca do pênalti. Está tudo pronto e preparado para que o presidente Lula faça um gol de placa" [ver aqui].

E Lula fez gol contra!

Minhas mais calorosas congratulações ao PSOL por lutar contra este crime de lesa pátria cometido pelo Lula em cumplicidade com Hélio Costa e Rede Globo.

E, quando quase todos consideravam que tínhamos chegado ao triste fim desta história, surge um fato novo: Parecer da PGR considera inconstitucional Lei da TV Digital [ver aqui].

Em síntese, o PSOL, agora, faz o que o PT sempre fez até abocanhar um naco do poder: mostrar os podres que os governantes querem esconder.

Certamente este assunto deve ou deveria ser tratado com espírito republicano na Confecom, caso não consigam desmontá-la antes de acontecer, e propor que se desfaça esta maracutaia. Ou vamos partir do fato de que o Estado brasileiro está privatizado há 509 anos e que chegamos ao fim de história política e ideológica? Afinal, o capitalismo que financiou a campanha de Lula estourou mais uma de suas bolhas... Se será a última, somente Deus e Karl Marx o sabem.

Escorregadela feia

Se alguém souber de algum petista que tenha condenado publicamente esta decisão mafiosa de Lula, gentileza me informar...

Se estivéssemos numa democracia de verdade, como acredita a quase totalidade dos jornalistas diplomados ou não, sociólogos, psicólogos, historiadores e nossos melhores quadros do movimento social e pela democratização da comunicação, já estaria tudo resolvido e não precisaríamos nos aprofundar nesta reflexão.

Neste mundo ideal, onde as pessoas não praticariam a arte de se devorarem mutuamente para absorverem o poder dos demais, esta questão transcenderia as disputas partidárias ou ideológicas. Coisa que somente ocorreria, caso estivéssemos em uma democracia de verdade e não numa ditadura do Poder Econômico como a atual. Como tudo considerado importante para o grande capital, sempre iremos encontrar, na prática, a eterna luta de classes ou a aparentemente eterna derrota da classe operária diante dos interesses do poder econômico que domina o Estado.

Como sempre, a classe trabalhadora não dá importância aos seus próprios interesses, em função de sua alienação através do pão e circo romanos ou da mídia atual, aliada a um sistema de ensino alienante. Nem mesmo os movimentos sociais conseguem direcionar esforços suficientes para equilibrar a disputa em jogo na comunicação.

Assim, Silvio Meira publicou um artigo em seu blog que mancha a sua reputação de cientista: ele escorrega feio ao renegar os aspectos básicos da constituição do Estado moderno, como a divisão de poderes, achaca o Congresso, em nome de interesses econômicos. Intencionalmente ou não, acaba servindo de advogado de defesa de grandes grupos econômicos [ver aqui].

Empresas eficientes e rentáveis

Especialistas do setor defendem que, diante deste quadro, é necessário olharmos para o passado, retomarmos o fio da meada, para compreendermos o futuro.

A disputa em torno da TV Digital se concentrou em duas correntes de pensamento:

(a) Aqueles que advogavam que a TV digital era uma mera atualização tecnológica, e que portanto as emissoras não necessitariam de novas concessões, etc. Em suma, a manutenção do status quo.

(b) Na outra linha, a defesa de que a TV digital, face ao seu potencial tecnológico, representava a possibilidade de uma renovação.

Em 2003, quando o Brasil começou a cogitar o SBTVD, era assim que o mundo estava dividido: de um lado, o Japão e os Estados Unidos, que optaram pela HDTV e manutenção do status quo. De outro, a Europa, que optou por fazer uma remodelação do mercado, com a separação da infra-estrutura de transmissão (operador de rede) dos produtores de conteúdo.

É desnecessário dizer qual dos modelos tem dado mais certo, mas é oportuno lembrar que isso refere-se ao dito "modelo de negócio", que nada tem a ver com o padrão tecnológico do equipamento de transmissão. Poderíamos, perfeitamente, ter adotado o padrão tecnológico japonês e o modelo de negócio europeu.

Assim, nos aconselham os mestres que voltemos mais um pouco no tempo, para continuarmos aprendendo com nossa História. O que ocorreu no terreno das telecomunicações de uma forma geral? Na década de 70, todos os países adotavam o modelo monopolista, fosse estatal ou privado. Isso começou a mudar na década de 80, nos Estados Unidos e Inglaterra – por caminhos levemente diferentes, mas com a mesma motivação. Tanto nos EUA quanto na Inglaterra, os serviços eram prestados por empresas altamente eficientes e rentáveis: AT&T (Bell System) e British Telecom. A AT&T tinha o melhor laboratório de pesquisas em tecnologias de telecom (Bell Labs), tendo criado coisas como o transistor, o laser para uso em telecomunicações, o sistema operacional Unix (do qual deriva o Linux), a linguagem de programação C etc.

Importante é olhar para o futuro

Pois a AT&T, empresa privada, era um quase-monopólio nos Estados Unidos: dominava mais de 90% do mercado, seguida de longe pela GTE. Foi aí que uma pequena empresa, a Microwave Communications, que tinha pouco mais que meia dúzia de links, entrou com uma ação judicial contestando o monopólio da AT&T. Após anos de julgamento, o juiz Greene finalmente resolveu impor à então super-poderosa AT&T, um desmembramento (the divestiture), quebrando-o em sete empresas de telefonia local e uma de longa distância. Por que ele fez isso? Porque ele considerava que seria mais salutar ao mercado – aos consumidores, fabricantes e outras operadoras – que esse mercado fosse arejado, ainda que a AT&T estivesse prestando ótimos serviços.

No Reino Unido, a quebra do monopólio da BT (British Telecom) seguiu a mesma argumentação, embora naquele caso a iniciativa tenha sido do próprio governo. Assim, ao longo dos anos seguintes, isso se propagou para os demais países, incluindo o Brasil.

Voltando para o caso da TV digital: o Decreto 4.901 de 2003 cita, como um de seus objetivos, que o SBTVD deve "estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor" (art. 1º, inciso VI). Assim, a TV Digital deveria beneficiar ambos os lados - as atuais prestadoras, por meio de sua atualização tecnológica, e os novos entrantes, para arejar o mercado. E é exatamente essa segunda parte que não tem ocorrido.

Em 2009, nem os meios de comunicação, nem a sociedade, são os mesmos de 1970, quando foi introduzida a TV a cores, como uma importante atualização tecnológica. Se continuarmos a pensar apenas no que foi investido, jamais andaremos para frente. Os economistas calculam o valor de um negócio pelo que ele poderá gerar no futuro – por exemplo, o VPL (Valor Presente Líquido) olha para o futuro, não para o que foi investido no passado.

Democratização das comunicações não é fácil

A importância de olharmos para trás é para aprendermos as grandes lições da História, não para ficarmos remoendo picuinhas. A posição da PGR abre uma excelente oportunidade para discutirmos qual futuro queremos:

(a) Um futuro de inovações tecnológicas, de oportunidades para todos? Um SBTVD para todos? Um "Brasil para todos"?

(b) Um futuro das mesmas coisas em alta definição? O mesmo oligopólio inconstitucional de sempre, em alta definição e interativo? Apenas meia dúzia de famílias dominando sobre a mente de nosso povo, com poder para colocar e tirar presidentes da República (na realidade, "reparticular") quando bem entenderem?

Ademais, existe uma informação que vem sendo constantemente suprimida ao público: se e quando entrar a interatividade na TV digital, a maior parte dos atuais receptores, que já foram adquiridos, terá que ser descartada.

A democratização das comunicações não é uma luta fácil, nem coisa sem importância. Que o digam os coreanos...

Seul - Depois de uma pancadaria generalizada entre deputados, o Parlamento da Coreia do Sul aprovou nesta quarta-feira, 22, uma polêmica lei que permite às empresas que atuam na imprensa escrita serem donas também de redes de televisão [ver aqui].

Para quem for dado a mais reflexões históricas, fiz uma pesquisa na rede, relacionando o que foi produzido por alguns autores, sobre a questão SBTVD:

Adilson Cabral; Altamiro Borges; Beto Almeida; FNDC; Intervozes; José Arbex Jr.;Laurindo Lalo Leal Filho; Luiz Carlos Azenha; Heitor Reis

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